CIÊNCIA

Há 2,5 bilhões de anos, um dia inteiro na Terra durava 19 horas

Durante cerca de 1 bilhão de anos, a duração do dia na Terra foi mais curta do que a atual. Segundo cientistas da Academia Chinesa, o fenômeno ocorreu porque a Lua estava mais próxima do planeta

Correio Braziliense
postado em 13/06/2023 06:00 / atualizado em 13/06/2023 06:37
A análise de rochas com 600 milhões de anos indicou a existência do fenômeno -  (crédito: Ross Mitchell)
A análise de rochas com 600 milhões de anos indicou a existência do fenômeno - (crédito: Ross Mitchell)

A Terra já teve dias mais curtos, com apenas 19 horas, por aproximadamente 1 bilhão de anos. A descoberta, feita por cientistas da Academia Chinesa e publicada na revista Nature Geoscience, mostra que a duração do dia estagnou no meio do período Proterozóico, que começou 2,5 bilhões de anos atrás e durou cerca de 2 bilhões de anos.

Conforme Ross Mitchell, geofísico do Instituto de Geologia e Geofísica da Academia Chinesa de Ciências, isso aconteceu porque o satélite natural estava mais próximo do planeta. "Com o tempo, a Lua roubou a energia rotacional da Terra para impulsioná-la para uma órbita mais alta, mais distante", explica, em nota, o líder do estudo.

Apesar de outros trabalhos e teorias apontarem para uma mudança devagar e constante na duração dos dias mais antigos, os autores do ensaio encontraram evidências diferentes ao usar uma nova forma de avaliar o fenômeno. Geralmente, investiga-se esse fenômeno analisando rochas sedimentares especiais que preservam camadas de escala muito fina em planícies de lama de maré. Ao contar o número de camadas sedimentares por mês causadas pelas flutuações das marés, pode-se chegar à duração do dia.

Esses registros de maré, porém, são raros, e os preservados são frequentemente contestados, segundo a equipe liderada por Mitchel. Eles usaram a cicloestratigrafia, um método geológico que estuda camadas sedimentares e rochas, para detectar ciclos astronômicos chamados Milankovitch, que refletem como as mudanças na órbita e na rotação da Terra afetam o clima em longos períodos de tempo.

"Dois ciclos de Milankovitch, precessão e obliquidade, estão relacionados à oscilação e à inclinação do eixo de rotação da Terra no espaço. A rotação mais rápida da Terra primitiva pode, portanto, ser detectada em ciclos de precessão e obliquidade mais curtos no passado", explica, em nota, Uwe Kirscher, coautor do artigo.

O método foi usado em rochas sedimentares de 600 milhões de anos que preservam ciclos de Milankovitch. Ao avaliar as informações, o grupo verificou que a duração do dia na Terra parece ter parado de aumentar e estabilizado em aproximadamente 19 horas entre 2 bilhões a 1 bilhão de anos atrás.

De acordo com o artigo, nessa época, o planeta girava mais rápido sob influências diversas. Enquanto a Lua puxava o planeta e fazia com que ele desacelerasse, o Sol, muito mais forte, empurrava a Terra, a acelerando. Segundo Kirscher, em determinado período, as duas forças se tornaram iguais, o que fez com que uma anulasse a outra e impediu que a duração dos dias se alterasse.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação