ALERTA

Relatório detalha novos sinais de que Terra vive urgência climática

Relatório mostra que, desde 2021, o aquecimento do planeta atinge níveis "sem precedentes" e com possibilidades cada vez mais restritas de reversão. Ação humana é a principal responsável pelo cenário

A seis meses da principal conferência climática global, a COP, que, neste ano, será sediada pelos Emirados Árabes Unidos, um grupo de 50 cientistas referências na área alertam que o aquecimento induzido pelo homem foi, em média, de 1,14ºC na última década. Segundo os pesquisadores, desde 2021, quando o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) lançou seu relatório mais atualizado, "as emissões de gases de efeito estufa atingiram um recorde, causando uma taxa sem precedentes de aquecimento".

Eles lançam, nesta quinta (8/6), os Indicadores das Mudanças Climáticas Globais 2022: Atualização anual de indicadores de grande escala do estado do sistema climático e da influência humana. O documento integra um projeto de publicação anual dos dados sobre o clima que não só informarão as pessoas sobre os aspectos críticos do aquecimento, mas poderão subsidiar reuniões de tomada de decisões, como a COP.

Atualmente, o documento que fornece os dados científicos para as conferências do clima da ONU é o relatório do IPCC. Porém, ele é lançado a cada cinco anos e, com a rapidez das transformações induzidas por atividades humanas, os cientistas alertam que os dados precisam ser atualizados com maior frequência. "Um nível recorde de gases de efeito estufa está sendo emitido anualmente, equivalente a 54 bilhões de toneladas de dióxido de carbono", justificam os cientistas, em nota da Universidade de Leeds, na Inglaterra, que coordena o projeto. Ao mesmo tempo, o orçamento de carbono restante — o quanto de CO2 que pode ser emitido para ter mais de 50% de chance de manter o aquecimento global em 1,5°C — caiu pela metade em três anos.

Em dezembro, a COP28 fará um balanço do progresso global para manter o aquecimento em 1,5ºC até 2050, como prevê o Acordo de Paris, formulado em 2015. Os avanços têm sido poucos, conforme documentos recentes de monitoramento e, segundo especialistas climáticos, dificilmente a meta será alcançada. Para a equipe coordenada pela Universidade de Leeds, a análise divulgada é "um alerta oportuno" de que o ritmo e a ambição das ações climáticas são insuficientes. O lançamento do relatório coincide com o início de uma reunião em Bonn, na Alemanha, considerada uma "pré-COP", um preparativo para o evento maior, de dezembro.

"As decisões tomadas, agora, terão grande importância em quanto as temperaturas vão subir e no grau e na gravidade dos impactos climáticos que veremos como resultado", destaca Piers Forster, diretor do Centro Priestley para Futuro Climático de Leeds. "Esta é a década crítica para a mudança climática. As taxas de aquecimento de longo prazo estão atualmente em alta, causada pelos níveis mais altos de emissões de gases de efeito estufa. Mas há evidências de que a taxa de aumento das emissões diminuiu", pondera. "Precisamos ser ágeis diante das mudanças climáticas. Precisamos mudar políticas e abordagens à luz das evidências mais recentes sobre o estado do sistema climático. O tempo não está mais do nosso lado."

Devido à velocidade com que o sistema climático global está mudando, os cientistas argumentam que os formuladores de políticas, negociadores climáticos e grupos da sociedade civil precisam ter acesso a evidências científicas atualizadas e robustas nas quais basear as decisões. "Uma atualização anual dos principais indicadores da mudança global é fundamental para ajudar a comunidade internacional e os países a manterem a urgência de abordar a questão da crise climática no topo da agenda e para tomadas de decisão baseadas em evidências", argumenta, em nota, a ministra do meio ambiente do Chile, Maísa Rojas Corradi, autora do IPCC e cientista envolvida no projeto.

Combustíveis fósseis

Os dados do alerta, publicado na revista Earth Science System Data, demonstram que o aquecimento induzido pelo homem, em grande parte causado pela queima de combustíveis fósseis, atingiu uma média de 1,14°C na década mais recente (2013 a 2022) acima dos níveis pré-industriais. Isso representa um aumento de 1,07°C entre 2010 e 2019. O ritmo de aquecimento ultrapassa 0,2ºC por década. A análise também descobriu que as emissões de gases de efeito estufa alcançaram os mais altos níveis recentemente, com 54 gigatoneladas (ou bilhões de toneladas métricas) de dióxido de carbono sendo liberados na atmosfera em média, devido às atividades humanas.

Uma constatação significativa da análise é a taxa de declínio no que é conhecido como balanço de carbono restante, uma estimativa de quanto CO2 pode ser liberado na atmosfera para dar 50% de chance de manter o aumento da temperatura global dentro de 1,5°C. Em 2020, o IPCC calculou que o orçamento de carbono restante era de cerca de 500 gigatoneladas do gás. No início de 2023, o número era cerca de metade disso (250 gigatoneladas).

A redução no orçamento de carbono restante estimado deve-se a uma combinação de emissões contínuas desde 2020 e estimativas atualizadas de aquecimento induzido pelo homem, diz o artigo. "Embora ainda não estejamos no aquecimento de 1,5°C, o orçamento de carbono provavelmente será esgotado em apenas alguns anos, pois temos um golpe triplo de aquecimento de emissões muito altas de CO2, aquecimento devido aos aumentos em outras emissões de gases de efeito estufa e aquecimento de reduções na poluição. Se não quisermos ver a meta de 1,5°C desaparecendo em nosso espelho retrovisor, o mundo deve trabalhar muito mais e urgentemente para reduzir as emissões."

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