A menos de uma semana do fim da 28ª Conferência do Clima, em Dubai, nos Emirados Árabes, negociadores não chegaram a um entendimento sobre combustíveis fósseis, que é a questão-chave dessa COP, considerada a mais importante desde a de 2015, na França. Embora as evidências associem o fim da dependência em carvão, petróleo e gás natural ao cumprimento das metas do Acordo de Paris, corre-se o risco de a declaração final, programada para a próxima terça-feira, não citá-los como querem os cientistas.
Os países mais vulneráveis às mudanças climáticas, como pequenas ilhas do Pacífico que podem ser engolidas pelo aumento do nível do mar, insistem que o texto cite a eliminação da energia à base de hidrocarbonetos. Porém, grandes produtores de petróleo e outros combustíveis fósseis, como Estados Unidos, China e Rússia preferem um vocabulário alternativo, que mencione uma substituição gradativa, sem estipular data. Já a Arábia Saudita não quer nem isso.
A falta de avanço na negociação irritou o diretor da agência ONU Clima. "Precisamos de um trem de alta velocidade. Por enquanto, temos um vagão velho", disse Simon Stiell. Ele destacou que os governos devem dar orientações claras a seus negociadores e reclamou que o texto inicial está "repleto de caprichos", referindo-se aos desejos particulares de cada parte da conferência. O presidente da COP28, o sultão Al Jaber, também pediu às delegações para "saírem de suas zonas de conforto para encontrar um terreno comum e obter um resultado equilibrado e de grande ambição".
O comissário europeu de Ação Climática, Wopke Hoekstra, deixou clara a posição da União Europeia: "Quero que esta COP marque o início do fim dos combustíveis fósseis. Devemos nos livrar deles". O posicionamento é conhecido, mas a declaração reforça o nível de ambição que Simon Stiell pediu ontem, em um momento crítico da conferência. "Não temos escolha senão seguir o que os cientistas nos dizem", disse Hoekstra. "Dizem-nos que devemos acelerar a redução das emissões e devemos fazê-lo nesta década", completou.
Alertas
Diversos alertas científicos foram divulgados ao longo da semana. Ontem, o observatório climático europeu Copernicus informou que novembro superou o recorde anterior para o período, de 2020, em 0,32ºC. O mês foi o mais quente desde 1850, quando começou a revolução industrial. Segundo o serviço meteorológico, o fenômeno natural El Niño contribuiu para aumentar as temperaturas de 2023, mas de forma menos grave que sua aparição anterior, entre 2015 e 2016.
Outra evidência científica apresentada na COP28 foi um estudo coordenado pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, sobre os pontos de inflexão dos sistemas planetários, quando já não se pode evitar um colapso.
A Floresta Amazônica é um dos que correm sérios riscos, disseram os pesquisadores. "Este relatório deixa explícito que estamos agora numa corrida contra o tempo, com a janela de oportunidade perto de se fechar", avalia Johan Rockström, professor de Ciências Ambientais no Centro de Resiliência de Estocolmo, na Suécia.
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