
Octávio Franco, professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) e vinculado ao programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Genômicas e Biotecnologia, líder da pesquisa
Como funciona essa "nova" classificação de superbactérias?
Essa nova classificação é focada para o que a gente chama de super antibióticos. O que eles são? Eles são os peptídeos antimicrobianos e hoje são como se fossem uma nova categoria que é utilizada para matar essas superbactérias que são resistentes aos antimicrobianos e que têm diferentes mecanismos de ação. Quando a gente criou essa nova classificação, criamos uma possibilidade que todos entendam quais são os novos alvos como a gente cria e como é que ele funciona. Essa classificação, agora, é detalhada, pela primeira vez, pelo nosso grupo com uma revista de impacto muito alto. Todo mundo, provavelmente, vai seguir a classificação que a gente criou.
É uma inovação de que proporção, a seu ver?
É uma grande inovação porque existem inovações de muitas formas, mas a nossa maior inovação é a gente criar o que eu chamo de Roadmap. Hoje, todos que irão buscar novos antimicrobianos, vão, de alguma forma, passar pelo que a gente está considerando as melhores estratégias. Imagina que a gente mostrou, não pela primeira vez porque outras pessoas já criaram outras classificações, mas a gente mostrou para esta década quais são os mecanismos de ação, quais são os aminoácidos, quais são as estruturas e tudo aquilo que vai estar relacionado ao que vai ser gerado. Então, quase todo mundo que confiar na nossa classificação vai gerar os novos antimicrobianos a partir do que a gente está dizendo que é o melhor caminho ou caminho mais correto.
A quantas superbactérias, ao final, a pesquisa chegou?
Tecnicamente essa classificação abrange todas as superbactérias. Obviamente, vão surgir sempre novas bactérias resistentes, mas a gente não fez uma definição para uma ou outra na verdade, a gente fez uma definição que servisse, encaixasse para qualquer superbactéria tentando ajudar a solucionar esse problema em nível mundial.
Inicialmente, quais doenças o senhor vê que serão os "primeiros alvos"?
As doenças bacterianas são terríveis. Então, hoje eu vejo várias doenças pulmonares, tipo o síndrome respiratório aguda. Ela vai ser auxiliar com esses antimicrobianos. Fibrose cística, infecções cutâneas, infecções pulmonares generalizadas, infecções intestinais, infecções cerebrais, quase tudo... A gente não fez só para a área de saúde humana, nós fizemos também para a área de saúde animal. Uma vez que vários dos animais têm infecções e a gente contribui tanto para pet quanto sistema de produção animal, também para evitar que haja o contágio cruzado. Por exemplo, o que aconteceu na covid, uma das hipóteses, é que tenha vindo do morcego. A gente entendendo como controlar essas bactérias dos animais, também evita o que a gente chama de cruzamento. Uma outra coisa também que importante é que nós criamos esse sistema de classificação para aquelas moléculas que diminuem a resistência, além delas matarem as superbactérias, têm um menor índice de geração de resistência bacteriana.(RG)