
Vinicius Barbosa psiquiatra especialista em transtornos do desenvolvimento infantil, coordenador do Subnúcleo de Autismo do Hospital Sírio-Libanês
Como o senhor avalia as afirmações do presidente Donald Trump sobre vacinação, paracetamol e autismo?
A fala de Donald Trump relacionando paracetamol, vacinação e autismo não reflete o que a ciência hoje demonstra. Quando se fala em medicação associada, trata-se sempre de um possível aumento de risco, não de causalidade direta. Entre medicamentos associados ao risco aumentado de autismo, o exemplo clássico é o anticonvulsivo ácido valproico, cuja exposição gestacional é ligada a uma elevação significativa em três a seis vezes. Já no caso do paracetamol, não estamos nesse mesmo nível de compreensão científica. Há hipóteses em investigação e certa plausibilidade científica, mas as evidências atuais não permitem afirmar uma relação causal, embora o uso com cautela seja recomendável do ponto de vista da precaução. Em relação às vacinas, as melhores evidências científicas disponíveis mostram de forma consistente que não existe associação entre vacinação e aumento do risco de autismo.
Quais os fatores realmente ligados ao autismo?
O que sabemos com solidez é que o autismo tem forte relação com fatores genéticos, aos quais podem se somar fatores epigenéticos e ambientais, mas esses ainda precisam ser mais bem avaliados. Já foram sugeridos alguns fatores relacionados com o aumento do risco, como idade materna e paterna, obesidade e diabetes gestacional, deficiência de ácido fólico na gestação, parto prematuro, anoxia cerebral. (IA)