
A interrupção abrupta de receptores de GLP-1 — "canetinhas emagrecedoras" como semaglutida e tirzepatida — por mulheres um pouco antes ou logo após a concepção pode ter implicações negativas na gestação. O alerta é de um artigo publicado na revista Jama Online por pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts em Boston, nos Estados Unidos. Segundo os cientistas, o uso crescente desses medicamentos por mulheres em idade reprodutiva é acompanhado de um alerta: enquanto não se tem informações suficientes sobre a segurança das substâncias para o feto, a descontinuação do uso por grávidas está associada a efeitos adversos, como pré-eclâmpsia e parto prematuro.
No estudo, os pesquisadores analisaram registros eletrônicos de saúde de 1.792 gestações que ocorreram entre 2016 e 2025, principalmente entre mulheres com obesidade. Cada paciente que recebeu prescrição de um receptor de GLP-1 (GLP-1RA) nos três anos anteriores e até 90 dias após a concepção foi comparada a três gestações semelhantes em que a mãe não tomou esses medicamentos.
Mulheres que interromperam o uso de GLP-1RAs antes ou no início da gravidez ganharam, em média, 3,2 kg a mais durante a gestação e tiveram um risco 30% maior de diabetes gestacional, e 29% mais elevado de distúrbios hipertensivos durante a gravidez. A chance de parto prematuro foi 34% mais elevada. "Precisamos de mais pesquisas para encontrar maneiras de ajudar a controlar o ganho de peso e reduzir os riscos durante a gravidez ao interromper o uso de medicamentos GLP-1", disse, em nota, a autora sênior Camille E. Powe.
"A gravidez, por si, já impõe uma carga metabólica maior devido aos hormônios placentários", destaca Camilla Pinheiro, ginecologista e obstetra, em São Paulo. "Assim, mulheres que descontinuam essas medicações chegam ao período gestacional mais vulneráveis ao descontrole glicêmico. Isso reforça a importância de planejamento pré-concepcional adequado para reduzir riscos maternos e fetais." (PO)
