Certas aves são capazes de emitir sons que lembram os bipes do robô R2-D2, da saga Star Wars, e agora os cientistas descobriram o porquê. Segundo um estudo publicado esta semana na revista Scientific Reports, a explicação está na estrutura do aparelho vocal e na capacidade de aprendizado dessas espécies, que desenvolvem uma surpreendente aptidão para imitar ruídos artificiais do ambiente.
A pesquisa, feita por cientistas da Universidade de Amsterdã e da Universidade de Leiden, ambas na Holanda, investigou o limite das habilidades vocais de nove espécies de papagaios e estorninhos-comuns. Tudo para descobrir como elas performavam diante de um repertório sonoro de um droide intergaláctico.
A equipe analisou 115 vídeos enviados por voluntários que participam do Bird Singalong Project, uma iniciativa que coleta registros sonoros de aves ao redor do mundo. O material incluía gravações de papagaios e estorninhos imitando tanto sons monofônicos (de tom único) quanto sons multifônicos (com vários tons), como os emitidos pelo robô R2-D2.
De acordo com o trabalho, o órgão responsável por essa habilidade é a siringe, localizada na junção entre a traqueia e os pulmões. Diferente das cordas vocais humanas, ela permite que as aves produzam sons complexos e em diferentes frequências ao mesmo tempo. Em espécies menores, como periquitos e calopsitas, o controle muscular da siringe é ainda mais preciso, o que amplia o alcance e a variedade das vocalizações.
A pesquisa observou que essas aves não apenas reproduzem os sons que escutam, mas os incorporam ao repertório social. É por meio da repetição e da convivência com o grupo que elas aperfeiçoam o que aprendem, uma espécie de “treino auditivo” semelhante ao processo de aquisição de linguagem em humanos. Essa plasticidade cerebral, afirmam os autores do estudo, é o que permite que elas copiem até mesmo bipes eletrônicos, alarmes e outros ruídos artificiais.
“Em nosso estudo, descobrimos que papagaios com cérebros maiores, e também núcleos periféricos relativamente grandes, imitavam sons monofônicos com uma precisão significativamente menor do que periquitos e calopsitas que têm regiões periféricas menores e regiões centrais maiores”, explicaram os pesquisadores.
A “voz” do famoso robô de Star Wars foi criada por Ben Burtt em um sintetizador modular ARP 2600, com a ajuda de um modulador em anel, dispositivo que combina múltiplos sinais de áudio para criar uma saída multitonal, tipo de som que desafia até os pássaros mais talentosos.
Para os cientistas, compreender esse comportamento ajuda a desvendar a evolução do aprendizado vocal e pode oferecer pistas sobre a comunicação entre espécies. A descoberta mostra que, na natureza, a imitação não é apenas um truque curioso, mas uma estratégia de sobrevivência e interação.
A pesquisa reforça que as aves que imitam sons humanos ou tecnológicos não estão apenas brincando de ser R2-D2. Elas estão demonstrando um talento vocal sofisticado e revelando o quanto o mundo animal ainda tem a ensinar sobre linguagem, adaptação e inteligência sonora.
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