
As festas de fim de ano trazem alegria, reencontros e brindes, mas também um risco pouco lembrado: as lesões oculares causadas por rolhas de espumante. Ao Correio, a oftalmologista Stefânia Diniz, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), explicou que o número de atendimentos por esse tipo de acidente cresce de forma significativa durante este período.
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O perigo está na força com que a rolha é projetada. “A rolha de espumante pode atingir velocidades superiores a 80km/h ao serem liberadas, o suficiente para causar lesões graves nos olhos”, alerta.
A médica explica que o trauma mais comum é o trauma ocular contuso, quando a rolha atinge diretamente o olho ou a região ao redor. “Esse impacto pode causar edema, fratura dos ossos da órbita, hemorragia interna, descolamento de retina, ruptura do globo ocular ou lesão do nervo óptico e até preda permanente da visão”, detalha. Segundo ela, as sequelas permanentes costumam ocorrer quando há atingimento direto do globo ocular e atraso no atendimento médico inicial.
Qualquer suspeita de trauma deve ser tratada como urgência. “O atendimento deve ser imediato. Em oftalmologia, tempo é visão. Quanto mais cedo o diagnóstico e o tratamento, maior a chance de preservar a visão”, afirma Stefânia.
Após o impacto, sinais como dor intensa, vermelhidão, manchas escuras na visão, turvação, sensibilidade à luz e perda súbita de visão não podem ser ignorados. “A pessoa nunca deve esfregar ou apertar o olho, tentar pingar colírios por conta própria, usar compressas quentes ou geladas sem orientação médica, nem ignorar os sintomas.” Isso porque lesões internas podem não ser visíveis externamente.
Embora compressas frias sejam comuns em traumas, no caso do olho a recomendação é outra. “Quando há suspeita de perfuração ocular, qualquer compressa deve ser evitada”, explica. Segundo a oftalmologista, a pressão sobre o globo ocular pode ampliar rupturas, deslocar estruturas internas e até levar à perda irreversível da visão.
Os acidentes costumam ocorrer em momentos de descontração, com pouca iluminação e consumo de bebidas alcoólicas. Crianças e idosos estão entre os mais vulneráveis, especialmente quando permanecem próximos de quem manuseia a garrafa.
O erro mais comum está em apontar o gargalo para pessoas. “Muita gente subestima a força da rolha e direciona a garrafa para o próprio rosto ou para alguém ao lado.”
A médica orienta que a garrafa seja aberta com atenção redobrada:
- Manter a garrafa inclinada a cerca de 45 graus;
- Apontar o gargalo para longe do rosto e de outras pessoas;
- Segurar firmemente a rolha;
- Girar a garrafa — e não a rolha;
- Impedir que crianças manuseiem espumantes.
“Celebrar com segurança é essencial para que os momentos de alegria não se transformem em traumas evitáveis. Com cuidado e atenção, é possível brindar sem colocar a visão em risco”, conclui.

Revista do Correio
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