O objeto interestelar 3I/Atlas, que atravessa o Sistema Solar em trajetória de saída, voltou a intrigar astrônomos após a divulgação de novas imagens feitas pelo Telescópio Espacial Hubble. Os registros, obtidos em 12 e 27 de dezembro de 2025, revelam algo incomum: uma estrutura de dois jatos, um deles apontando diretamente para o Sol, uma chamada anticauda.
A análise é apresentada em um novo artigo do astrofísico Avi Loeb, da Universidade de Harvard, conhecido por levantar hipóteses ousadas sobre objetos interestelares. Em texto publicado neste domingo (28/12) na plataforma Medium, Loeb enfatiza que suas conclusões são interpretações pessoais baseadas nos dados disponíveis até agora.
O que as imagens mostram de diferente
As observações do Hubble foram feitas com exposições longas, capazes de captar detalhes sutis da estrutura do objeto. Elas confirmam e ampliam algo que já havia sido visto meses antes: um jato estreito, cerca de 10 vezes mais longo do que largo, inicialmente observado em julho de 2025.
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Agora, porém, aparece também um segundo jato, mais fraco, formando um sistema duplo. Segundo Loeb, a geometria desses jatos sugere uma relação direta com a rotação do objeto e com sua passagem mais próxima do Sol, ocorrida em 29 de outubro de 2025.
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No texto, Loeb descreve duas interpretações principais para a origem dos jatos:
1. Jatos em lados opostos do núcleo
Nesse cenário, o 3I/Atlas estaria emitindo material tanto do lado iluminado quanto do lado escuro. Em um cometa comum, isso poderia acontecer se o calor recebido próximo ao Sol fosse conduzido internamente, ativando regiões antes inativas. O resultado seria um jato forte do lado diurno e outro, mais fraco, do lado noturno.
Loeb observa, porém, que, na hipótese tecnológica, um jato apontado para o Sol poderia funcionar como proteção contra radiação intensa ou vento solar, enquanto o segundo ajudaria a “limpar” o caminho à frente. Ele ressalta que essa é apenas uma possibilidade especulativa.
2. Jatos diferentes, mesma origem
A outra explicação propõe que ambos os jatos saiam do lado voltado para o Sol, mas sejam formados por materiais distintos. Poeira maior poderia formar a cauda tradicional, enquanto partículas muito finas ou gases seriam rapidamente empurrados pelo vento solar, invertendo sua direção e criando o segundo jato aparente.
Por que os jatos mudaram tanto em apenas duas semanas?
Um detalhe chamou atenção: entre 12 e 27 de dezembro, o brilho e o formato dos jatos mudaram de forma significativa. Para Loeb, isso pode indicar uma oscilação ligada à rotação do objeto, como se os jatos “pisassem fora de fase”. Quando um se intensifica, o outro enfraquece, um comportamento compatível com uma estrutura dupla girando no espaço.
Essa oscilação também poderia explicar variações periódicas de brilho observadas meses antes, descritas como um “batimento cardíaco” com ciclo de cerca de 16 horas.
Segundo Loeb, a chave para distinguir entre as hipóteses está em novas observações espectroscópicas. Dados do Telescópio Espacial James Webb poderão medir a velocidade e a composição dos jatos. Se ambos apresentarem velocidades muito altas já perto do núcleo, isso favoreceria interpretações mais exóticas; se não, processos naturais ganhariam força.
A equipe do pesquisador também tenta verificar se o período de rotação do 3I/Atlas mudou ao longo do tempo, algo que já foi sugerido para o primeiro objeto interestelar conhecido, o 1I/Oumuamua.
No encerramento do artigo, Loeb faz uma defesa do espírito científico: para ele, descobertas reais surgem quando os dados são levados a sério, mesmo que desafiem ideias estabelecidas. Ao mesmo tempo, reconhece que apenas observações futuras poderão confirmar ou descartar suas interpretações.
