Dados indicam que indústrias multinacionais de pneus no Brasil pagam mais pela importação de matéria-prima

O sobrepreço chega a 46% quando as fábricas instaladas no País parecem importar o insumo do mesmo grupo ao qual pertencem

Charles River -  (crédito: Charles River)
Charles River - (crédito: Charles River)


Com sede em Boston (EUA), a consultoria global Charles River Associates (CRA), empresa com mais de 50 anos de experiência em investigações e em análise econômica e estratégica, aponta que pode haver elevação artificial no preço dos insumos importados pelas indústrias multinacionais fabricantes de pneus instalados no Brasil. O estudo foi realizado a pedido da Sunset Tires.

“Quando o índice parece ser importante de uma empresa do mesmo grupo econômico, a diferença tende a ser, em média, de 22%. Por se tratar de commodities, não era de se esperar diferenciação no custo dos insumos importados. Isso pode indicar elevação artificial do preço da matéria-prima”, pondera a Charles River Associates em seu relatório.

Para avaliar o custo da matéria-prima na fabricação de pneus, analisamos as atuais de quatro itens: negro de fumo; outras borrachas de estireno-butadieno (SBR); borracha de butadieno (BR); e borracha natural especificada (TSNR). No conjunto, esses materiais respondem por quase 70% do custo da matéria-prima na fabricação de pneus.

Para o negro de fumo, por exemplo, o preço pago quando o importador provável é a indústria de pneus e a aquisição é feita de exportação pertencente ao mesmo grupo econômico é, em média, 46% mais alto do que aquele arcado pelos não fabricantes. Para os insumos SBR e BR, a diferença é de 23% e 19%, respectivamente. Somente para o TSNR é menor, da ordem de 5%. “Sendo assim, os valores mais elevados, aparentemente pagos por fabricantes nacionais, aumentam seus custos e não devem ser utilizados como cláusulas de eventuais danos que alegam sofrer”, enfatiza o estudo.

Argumento infundado

Além disso, a CRA enfatiza ser descabida a tese de que os pneus importados tiveram valor inferior aos materiais-primas utilizados em sua fabricação. Esse argumento tem sido utilizado pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) para basear o pedido de aumento da alíquota do Imposto de Importação desses produtos de 16% para 35%. O caso está em análise naCamex – Câmara de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

De acordo com o estudo da CRA, o custo médio da matéria-prima para a produção de pneus é de US$ 1,63 por quilo. Já o preço médio dos pneus importados ao Brasil é de US$ 2,90 por quilo, conforme destacado a LCA, consultoria contratada pela ANIP. Essa diferença de 81% entre o custo da matéria-prima e o preço com que o produto chega ao País indica claramente que não há nada de anormal.

“Causa espanto que os representantes da indústria de pneumáticos façam uma acusação genérica sem provas que prejudicam a imagem dos importadores e exportadores idôneos”, frisa Samer Nasser, diretora de Relações Institucionais da Sunset Tires, afirmando: “Ao contrário do que têm aqui Klaus Curt Müller, presidente da ANIP, a todos os meios de comunicação e, inclusive, em audiência pública na Câmara dos Deputados, das declarações de Damian Seltzer, presidente da Bridgestone, sobre uma 'concorrência desleal', e da alegação de que pneus asiáticos estariam sendo Abaixo do custo vendido da matéria-prima, o estudo da Charles River Associates revela que o setor importador atua de maneira absolutamente dentro das regras e normas do nosso país”.

Ao tomar conhecimento do estudo, o presidente da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP), Ricardo Alípio da Costa, também destaca que “o momento é crítico não apenas para o nosso setor, que enfrenta os impactos do dólar a R$ 5,65 e do frete marítimo internacional a nove mil dólares por contêiner, mas também para os caminhoneiros independentes, responsáveis ??por 70% do transporte rodoviário de cargas, que não suportarão qualquer aumento nos custos dos pneus. Como bem frisou o superintendente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) na audiência pública realizada na Câmara dos Deputados, a situação é grave”.

Alípio da Costa acrescenta que a possibilidade de os fabricantes estarem pagando mais pela matéria-prima importada é uma conduta que deve ser verificada pelo Governo Federal antes de tomar qualquer decisão precipitada. “A economia do País e o setor de transporte não podem ser sacrificados para salvar uma indústria que, infelizmente, ficou para trás e não consegue competir em qualidade e eficiência com os modernos fabricantes asiáticos”.

Janderson Maçanero, conhecido como Patrola, que tem sido uma liderança dos caminhoneiros nas discussões sobre o tema, observa que “em 2018, realizamos uma paralisação nacional devido a um aumento de 20 centavos no diesel. Agora, estamos falando de um acréscimo de R$ 800,00 no custo por pneus. Não aceitaremos esse aumento, o que, com certeza, fará o preço dos alimentos disparar, impactando a inflação, a cesta básica e o cotidiano dos brasileiros”.

 

 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 17/09/2024 22:09
x