
Na contramão da superficialidade que muitas vezes marca a produção contemporânea, o cantor e compositor NUNEZ transforma seu novo álbum Karavana em um verdadeiro manifesto sobre o tempo, o legado e a urgência de se viver com propósito.
Com uma proposta que transcende o universo musical, o projeto reflete sobre as incertezas do mundo moderno, a fugacidade da vida e a importância de ressignificar a existência. Ao fundir ritmos brasileiros com uma estética audiovisual marcada por referências vintage e contemporâneas, o artista propõe uma viagem que é tanto introspectiva quanto coletiva — uma travessia sensível e potente pelo agora.
Finalista do concurso de bandas do João Rock e aposta da Head Media, NUNEZ enxerga na arte uma ferramenta de transformação e conexão entre histórias, valores e gerações. Com um discurso afiado e sensível, ele defende a música como catalisadora de mudanças, ao mesmo tempo em que valoriza a cena urbana brasileira e planeja expandir sua mensagem por meio de uma série documental e uma turnê nacional.
Em entrevista ao Correio Braziliense, o artista fala sobre espiritualidade, liberdade criativa, intercâmbio cultural e o sonho de ver seu trabalho alcançar ainda mais corações pelo Brasil e pelo mundo.
CB: Em um momento de urgência social, como a arte pode ser um veículo de transformação e reflexão, como você propõe?
NUNEZ: "Pra mim, a arte sempre salvou vidas, sempre foi um instrumento de transformação, reflexão e mudança, para questionar a sociedade e abrir novos caminhos. Da mesma forma que outras artes moldaram quem eu sou hoje, que me ensinaram sobre tantas coisas da vida, quero passar isso para as próximas gerações. Quero ter ideia para trocar, conhecimento, vivências, histórias, valores… e que meu som possa inspirar as pessoas a serem melhores em seus cotidianos"
CB: O disco “Karavana” parece assumir um papel quase filosófico sobre o tempo e a experiência humana. Como esse conceito foi pensado?
NUNEZ: "Eu passei por muitas mudanças na minha vida nos últimos anos, tanto no lado profissional quanto no pessoal e espiritual. Durante o processo de criação do disco, enxerguei a necessidade de ressignificar o sentido de viver, de provocar uma mudança holística na sociedade. As nossas relações já são tão vazias, somos reféns da tecnologia e enxergamos o fim do mundo tão próximo... Hoje vivemos com muito conforto, mas, ao mesmo tempo, muitas incertezas. Então, nessa viagem que é a vida, como fazer diferente daqui para frente e ter sede de viver com amor, propósito e vontade de deixar um legado? Esse disco vem para fortalecer essa mensagem de que a nossa passagem aqui é curta e, por isso, devemos aproveitar ao máximo o caminho — ele importa muito mais do que a chegada".
CB: A diversidade de ritmos brasileiros presentes no disco compõe um retrato da música urbana contemporânea. Como você enxerga essa cena hoje?
NUNEZ: "Vejo essa cena da nova música urbana crescendo bastante, entrando cada vez mais em festivais e nas playlists do público, com sons e ideias nas quais já acreditava desde que comecei minha carreira. Tem alguns nomes que, na minha visão, estão nessa mesma sintonia e representam muito bem essa cena, como Yago Oproprio, Os Garotin, Liniker, Jean Tassy, Marina Sena, Big Up... Sou fã de todos eles e já tive a oportunidade de conhecer quase todos. Vejo que a música popular brasileira está voltando com grande força, não só para os brasileiros, mas para o mundo também"
CB: O disco também é um projeto audiovisual robusto. Qual o papel da imagem na sua narrativa artística?
NUNEZ: "A ideia do conceito nasceu comparando a Karavana com a vida. Nessa viagem que é viver, o aprendizado vem daquilo que é mais antigo, mas somos nós que lecionaremos o futuro. Essa ideia de modernizar o passado para revolucionar o futuro está bem presente na estética dos clipes. A gente tentou construir um visual mais vintage — o ônibus é de 1970 —, mas, ao mesmo tempo, as roupas são modernas, justamente para causar esse impacto de olharmos para o passado e o futuro simultaneamente e entendermos que o tempo da nossa viagem na Terra é curto. As pessoas na Karavana representam sentimentos, histórias e vivências diferentes, mas que se conectam através do som e, assim, iniciam uma relação. Visualmente, me inspirei em referências como Tyler, The Creator, Marcelo D2, Anderson .Paak — acho que são artistas com quem me conecto pelo fato de também serem diretores criativos. Eles criam as ideias e têm voz ativa em todos os processos da construção da obra'.
CB: Quais são os próximos passos na sua estratégia de difusão cultural, especialmente com a turnê e a série documental?
NUNEZ: "Quero rodar por alguns estados do Brasil com a Karavana, espalhando o disco novo e documentando a vivência, os shows, as sessões de estúdio e a cultura dos artistas locais. Fazer esse intercâmbio, mostrar sons diferentes, produzir coisas diferentes. Ainda não posso dar muitos detalhes de como tudo vai acontecer, mas vocês podem esperar um conteúdo irado nas redes sociais documentando toda essa viagem e essa era de Karavana!".
CB: Como artista independente ligado a uma estrutura como a Head Media, como você equilibra liberdade criativa e estratégia de mercado?
NUNEZ: "É muito bom ter a liberdade de ser independente para criar e, ainda assim, contar com um suporte enorme da Head Media — tanto na estrutura para produzir e distribuir as faixas da melhor maneira quanto na visão e experiência de mercado que eles já têm. Isso facilita bastante o processo de criação. Eu sempre chego com ideias — boas e malucas — e eles me ajudam a organizar, a pensar, a chegar a um resultado com mais qualidade, sem fugir da minha essência. Essa troca foi muito importante na construção do disco"
CB: A gravação em Mogi das Cruzes, com uma equipe grande e um ônibus antigo, remete a uma estética quase cinematográfica. Você pretende explorar mais esse lado visual no futuro?
NUNEZ: "Sim. Também já fiz artes cênicas, gosto de escrever roteiros, filmar, editar… Tenho o sonho de um dia poder lançar um curta-metragem relacionado a algum trabalho musical meu — quem sabe, né? Mas, por ora, tem o clipe oficial de "Livre pt.1" e mais 13 visualizers das outras músicas para todo mundo assistir e conhecer mais dessa estética e do conceito!"
CB: Como você avalia o papel dos editais, festivais e parcerias institucionais no fortalecimento de artistas que apostam em projetos conceituais como o seu?
NUNEZ: "A força de projetos como editais, festivais e parcerias institucionais fortalece demais o movimento. Tem muita gente boa por aí que, às vezes, só precisa de uma oportunidade, de alguém que acredite e abra portas. Graças a Deus, a gente está cada vez mais perto dessas oportunidades. Com muito trabalho e fé, sei que um dia ainda faremos muitos shows lotados pelo mundão!"