A trajetória artística de Zaia Angelo sempre esteve entrelaçada com o ativismo. Desde a infância, a artista percebeu as diferenças entre as pessoas e começou a retratá-las em suas obras, mesmo antes de compreender plenamente o impacto de sua arte. "Sempre fez parte, desde pequena, percebi que as pessoas eram diferentes umas das outras e retrato isso nas minhas obras.
Na época, a palavra ‘representatividade’ ainda não era moda, então não tinha noção do poder que minhas obras tinham", comenta Zaia. Como mulher trans, Zaia encontra nos temas LGBTQIA+ uma fonte inesgotável de inspiração. Sua arte visa dar visibilidade e protagonismo à comunidade trans, desafiando a marginalização imposta pela sociedade. "Minhas obras retratam pessoas trans longe da marginalização e do sofrimento que as pessoas cis esperam das nossas vivências, e sim em posições de poder e locais de conquista e prosperidade", afirma a artista.
O caminho, no entanto, não tem sido fácil. Zaia já enfrentou censura e resistência ao abordar questões consideradas polêmicas, como a representação de Adão e Eva como mulheres trans em sua obra "A Origem". A obra foi censurada duas vezes em exposições no Brasil, mas encontrou reconhecimento em Portugal, onde foi indicada a uma premiação internacional. Sobre essa dualidade, Zaia reflete: "Sempre tive que lidar com a ignorância das pessoas e com a força do conservadorismo brasileiro. Meu trabalho como artista plástica nunca deixará de ser feito e jamais trocarei minhas temáticas para agradar uma cisgeneridade hipócrita". Para Zaia, a arte possui um poder transformador, capaz de mudar perspectivas e incitar reflexão. "A arte tem o poder de tocar, seja através da música, desenho, cinema ou teatro. Se usada da maneira certa, ela pode conscientizar as pessoas", destaca.
Ela acredita que os jovens artistas desempenham um papel crucial na luta por mudanças sociais e políticas, especialmente em tempos de avanços tecnológicos, como a Inteligência Artificial. "Os jovens artistas precisam ser cada vez mais autênticos e perceberem o poder que a arte tem de dar voz ao que acreditamos", enfatiza. Em relação às críticas, Zaia se mantém aberta a elas, desde que sejam construtivas.
Ela observa, no entanto, que muitas vezes as críticas que recebe são motivadas por preconceito. "Já fui muito alvo de ataques por retratar pessoas trans em posições de poder, sendo felizes, realizadas e prósperas. A sociedade ainda se incomoda muito em ver pessoas trans realizadas longe da marginalização", lamenta.
O futuro artístico de Zaia Angelo promete novas fusões e experimentações. Seu próximo projeto pretende unir literatura e artes plásticas, com obras acompanhadas de poemas que complementam suas criações visuais. "Estou trabalhando para dar continuidade à minha exposição ‘Transgressão’, mas dessa vez as obras vão vir acompanhadas de poemas", revela, ansiosa por explorar novas formas de expressão artística e continuar utilizando sua arte como ferramenta de ativismo e transformação.
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