ARTE!

Autoproclamada "cidadã do mundo", Gabriella Di Grecco fala sobre a arte em trânsito

Atriz, diretora e compositora, ela converte deslocamentos internacionais em ferramenta criativa, redefinindo seu ofício entre Japão, Argentina, Grécia e mais

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Autoproclamada "cidadã do mundo", Gabriella Di Grecco fala sobre a arte em trânsito - (crédito: Divulgação)

A trajetória recente de Gabriella Di Grecco revela uma artista que transformou o deslocamento em método e a pluralidade cultural em ferramenta de trabalho. Atriz, cantora, diretora, compositora e educadora, ela expandiu sua atuação nos últimos anos: assinou com a Warner Chappell como autora, se aprofundou em processos criativos internacionais e revisitou suas próprias bases estéticas ao circular por países tão diversos quanto Argentina, Japão, Grécia, Egito e Estados Unidos.

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Essa circulação não aparece como mero ornamento biográfico, mas como força motriz de sua criação. É o fio que amarra sua presença no audiovisual, do fenômeno argentino “Disney Bia” a produções brasileiras como “Além do Tempo”, da Globo, seu retorno ao teatro, seu trabalho de direção e suas incursões na educação artística. É nesse contexto, múltiplo e exigente, que as falas da artista fazem sentido como testemunhos de alguém que pensa a arte a partir do mundo, sem perder de vista suas raízes.

“A arte é uma coisa viva, e tudo que é vivo tem movimento”, afirma ao explicar quando percebeu que viajar não era apenas parte da profissão, mas uma linguagem artística em si. “Cada país te deixa em contato com diferentes sistemas de pensamento… isso amplia muito sua visão sobre a arte e amplia também as possibilidades de criação.”

A menção ao Egito surge como prolongamento dessa abertura: “Por ter uma influência fortíssima árabe, também tem um sistema de pensamento muito diferente, sobretudo no que tange às mulheres… foi uma viagem extremamente enriquecedora, edificante.” Para Gabriella, o movimento é uma prática e, ao mesmo tempo, uma forma de pensamento; é estar disponível para o olhar do outro e para uma constante expansão das próprias linguagens.

Essa expansão ganha densidade particular na experiência japonesa, onde estudou com Tetsuro Shimaguchi, coreógrafo de Kill Bill e mestre de kendo. “Ter estudado com Tetsuro Shimaguchi foi um grande presente e um privilégio… as atividades têm uma forma filosófica de acontecer. Uma forma quase existencial.”

O Do — o “caminho” — tornou-se uma referência essencial. “É um caminho de aprendizado contínuo, disciplina, que envolve o aprimoramento pessoal.” Ela relaciona isso às artes marciais que já praticava: judo, aikido, shodo, sado. “Ter vivido isso na pele foi muito bonito, muito edificante. Essa disciplina, esse envolvimento, esse senso ético… é algo que eu ensino também em sala de aula, que pratico na minha vida.”

Se o Oriente ofereceu o rigor, a Grécia ofereceu a origem. A viagem recente ao país funcionou como reencontro com a própria genealogia: “Eu sou descendente de gregos… ter entrado em contato com a minha ancestralidade, principalmente no que se refere à arte da atuação, à arte do teatro e da filosofia, me tocou bastante.”

Ela descreve o impacto de ver manuscritos, museus e sítios históricos ligados aos filósofos que marcaram sua formação: “Platão, Sócrates, Aristóteles, Heráclito… E ter conhecido o Teatro de Dionísio, onde o teatro ocidental começou, foi muito emocionante. Eu senti uma energia inacreditável.”

A Argentina, por sua vez, marcou o início da projeção internacional. A artista viveu dois anos em Buenos Aires enquanto co-protagonizava “Bia”, experiência que chama de amadurecimento técnico acelerado: “Ter vivido em Buenos Aires e aberto a minha carreira internacional foi a realização de muitos sonhos. Eu considero que esse trabalho na Argentina foi como se fosse a minha pós-graduação no meu processo de atriz.”

A convivência com equipes industriais, diretores de fotografia, figurinistas e produtores ampliou sua noção de escala. “Aprendi outro idioma, a atuar em outro idioma, a maratonar a atuação por dois anos.” Esse aprendizado retornou com ela: “Comecei a compor, trabalhar como diretora musical, diretora vocal, diretora, produtora, e também como educadora… coloco tudo isso em sala de aula, inclusive para encurtar o caminho dos alunos.”

A soma dessas travessias gera, inevitavelmente, um exame de identidade. Ela comenta: “É muito curioso como essas diferentes culturas reforçam uma identidade brasileira. O conceito de culpa que eles têm é diferente, o conceito de honra é diferente, o conceito de sacrifício é diferente… isso sempre me fez refletir muito.”

Cada viagem, especialmente às culturas mais distantes da lógica cristã, provoca uma autorreflexão que ela descreve como inevitável. “Amo meu país, sou brasileira, mas eu me enxergo como uma cidadã do mundo. E ao abraçar o mundo, eu me sinto mais inteira”, conclui.

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MM
postado em 24/11/2025 11:28
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