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Entre milhões e mérito: os novos caminhos para morar legalmente nos EUA

"Nem sempre é o dinheiro que abre as portas da imigração americana — em muitos casos, o currículo pesa mais do que o saldo bancário"

Por Alexandre Piquet* — Como morar nos EUA com as novas regras de imigração

Desde que novas regras de imigração adotadas pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos entraram em vigor, o sonho de muitos brasileiros de migrarem para o país norte-americano passou a ser mais desafiador. Isso não significa que seja conveniente enterrar o desejo, mas é inegável que agora será necessário rever as estratégias, já que os vistos residenciais podem custar bastante caro. A boa notícia é que há alternativas.

A mudança na política migratória partiu da Casa Branca, que criou, literalmente, uma tabela de preços para algumas modalidades de vistos definitivos - proposta que ganhou a alcunha de Trump Gold Card. Os valores podem iniciam a partir da quantia de US$ 1 milhão, como ocorre no caso da categoria Gold Card. O cartão atuará como uma alternativa ao visto EB-5, funcionando como o Green Card, que confere ao titular o direito de trabalhar e viver livremente, como qualquer cidadão americano. Neste caso, a ideia é alcançar especialmente executivos que possuem negócios nos EUA.

Outra opção é recorrer ao H-1B como alternativa. Trata-se de um visto não imigrante temporário, direcionado para profissionais qualificados. Neste caso, o visto leva em conta uma proposta de trabalho compatível com a specialty occupation do requerente. Ou seja, a oportunidade de trabalho é resultado de sua especialidade. Mas isso exige uma formação acadêmica relevante, de tal maneira que não é qualquer profissional que alcança a possibilidade do visto H-1B.

Dentro da nova política governamental, esse visto passará a ter um custo de US$ 100 mil a partir de março de 2026, com impacto somente sobre as novas solicitações quando via consulado. Os profissionais que já possuem o visto ou que aplicam de dentro dos Estados Unidos não serão submetidos a essa cobrança, nem mesmo no ato da renovação. Por se tratar de um visto temporário, o período de residência é limitado a três anos, prorrogáveis por mais três.

Estes são casos em que o acesso, de um modo ou de outro, tende a ser mais simples por estar condicionado a um pagamento que garante sua emissão. Mas há casos em que a residência exigirá mais jogo de cintura do que propriamente dinheiro no bolso. São os casos das modalidades de Employment-Based (EB), como o EB-1 e o EB-2. Embora também sejam focados em pessoas com habilidades específicas ou reconhecimento internacional, como cientistas e executivos em âmbito global, sua emissão, ao contrário do H-1B, não depende necessariamente de um emprego assegurado nos EUA. Isso exige meios mais estratégicos para a tentativa de morar no país.

A primeira delas é harmonizar o currículo às expectativas do United States Citizenship and Immigration Services (USCIS), o departamento responsável por gerenciar a emissão de vistos imigratórios. Para isso, é importante reunir diplomas reconhecidos, experiências comprovadas, publicações em produções acadêmicas, premiações e, se possível, ter como histórico a ocupação em cargos de relevância dentro da área de atuação.

Outra recomendação é agir com o máximo de transparência, até porque "forçar" uma categoria para tentar facilitar a entrada no país pode resultar num tiro pela culatra. Isto serve principalmente para candidatos que tentam emplacar a ideia de que sua formação alcança um interesse nacional dos EUA. Muitas vezes, utilizar do networking para encontrar um empregador norte-americano gasta menos tempo que convencer a USCIS com uma abordagem talvez inócua. São casos em que "o menos é mais".

Nessa dinâmica de agir de forma adequada, o ideal é engajar-se no desafio de elaborar um verdadeiro dossiê profissional e acadêmico de sua própria vida. O USCIS exige que o candidato prove, documentalmente, sua excelência; que consiga atestar que há um reconhecimento às suas habilidades e competências; e que consiga apontar que suas certificações são relevantes. O trabalho é minucioso, mas a obtenção do visto é um prêmio que faz valer a pena.

Seguir as regras, por mais rígidas que sejam, é o único caminho eficaz para quem pretende residir nos Estados Unidos. Não é impossível, ainda que seja para quem não dispõe de US$ 1 milhão ou mesmo US$ 100 mil sobrando na conta. O currículo, em muitos casos, vale mais do que se imagina. 

Advogado licenciado nos Estados Unidos, fundador da Piquet Law Firm, com atuação em direito tributário, empresarial, imobiliário e imigratório*

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