Música

Do documentário 'Quem é Ciro Pessoa?', 'Toda cor' é faixa póstuma do artista

A canção foi recriada pelo grupo Flying Chair, última banda de Ciro Pessoa, em parceria com Fernando Ceah. A faixa faz parte de um álbum póstumo do artista a ser lançado em outubro e integra a trilha sonora do filme

Adriana Izel
postado em 18/09/2020 08:00
 (crédito: Thiago Almeida/Divulgação)
(crédito: Thiago Almeida/Divulgação)

Antes de morrer vítima da covid-19 em maio deste ano, o músico e compositor Ciro Pessoa, conhecido por ser um dos fundadores dos Titãs, trabalhava com Wladimir Cruz e a Blue Screen Of Death Filmes em um documentário intitulado Quem é Ciro Pessoa?. A obra explora, em linguagem documental, a trajetória dele na música. Além do longa, o projeto ainda engloba o lançamento de um álbum com um apanhado de canções marcantes da trajetória do artista.

Com a morte do artista, parte do projeto ficou paralisada. Até que, com muito esforço, todos os envolvidos conseguiram finalizá-lo, agora, como uma homenagem ao artista. "Já quase no final do processo, o estado de saúde do Ciro foi se agravando rapidamente. Fez-se, então, um esforço muito grande pra concluir esse trabalho. Ele tinha muita pressa", lembra Fernando Ceah, músico e amigo de Ciro.

O integrante da banda Vento Motivo é um dos envolvidos na trilha sonora do documentário, que será lançada em 30 de outubro pela Curumim Records com uma live da banda Flying Chair e com convidados. Na oportunidade, haverá o anúncio da estreia do filme nas plataformas on-demand. "O álbum está lindíssimo, grandes canções, arranjos incríveis e uma interpretação emocionante. O documentário também é maravilhoso e bastante revelador. Desde então estamos nos empenhando muito pra que tudo saia à altura do que o Ciro merece, como uma homenagem e gratidão a este grande amigo", completa.

Faixa póstuma de Ciro Pessoa

Fernando Ceah faz participação na primeira música do disco a ser divulgada para o público, Toda cor, que chegou nesta sexta-feira (18/9) às plataformas digitais. Lançada nos anos 1980, a música foi composta por Ciro em parceria com Marcelo Fromer e Carlos Barmack e logo se tornou num dos hits dos Titãs. A nova versão tem Chico Marques (guitarra), Cláudio Costa (guitarra solo), Icaro Scagliusi (baixo) e Ricardo Topfer (bateria), enquanto Ciro Pessoa divide os vocais com Fernando Ceah.

Essa não foi a primeira parceria dos artistas. Eles gravaram juntos Nosso amor exposto... no álbum de estreia da banda Flying Chair, a última em que Ciro Pessoa fez parte. "A partir de então nos tornamos muito próximos mesmo. Sempre participava dos shows deles e vice versa. Aí, quando o Ciro recebeu o convite pra fazer um documentário sobre sua trajetória e gravar um álbum pra ser a trilha sonora, ele me falou: “Ceah, topa cantar uma com a gente de novo?” Fiquei muito feliz em fazer parte dessa história, claro. E quando descobri que cantaríamos juntos Toda cor, um clássico, eu fiquei nas nuvens! Uma grande honra pra mim!", recorda.

A mixagem e a produção final de Toda cor é de Guilherme Canaes, responsável pelas gravações do primeiro álbum de Ciro: Fósforos de Oxford do Cabine C, em 1986. "O arranjo novo de Toda cor tem um punch característico da Flying Chair, que naturalmente toca mais pesado, e um novo riff de guitarra no início. E desse riff partiu um arranjo dinâmico, adicionando mais sal e pimenta. Tanto nesta música como em todas as outras do disco, a gente optou por criar tudo novo, do zero, com arranjos mais contemporâneos, imprimindo a marca de cada músico da banda, e ousando sempre. Afinal, para Ciro Pessoa se não houver ousadia não existe arte", comenta Chico Marques, guitarrista do Flying Chair.


Capa do single Toda cor, de Ciro Pessoa
Capa do single Toda cor, de Ciro Pessoa (foto: Thiago Almeida/Divulgação)

Até o lançamento do álbum mais duas canções serão divulgadas: a inédita Casa nave espacial e Babi Indio, com participação de Branco Mello.

Duas perguntas // Fernando Caeh e Chico Marques

Toda cor é uma música dos anos 1980 que tem uma importância no cancioneiro do Titãs. Como vocês avaliam a faixa?
Chico Marques (Flying Chair): Toda cor é uma das músicas mais importantes da história dos Titãs, ao lado de Sonífera ilha. Ambas faziam parte do mesmo compacto de estreia da banda e já de cara consolidaram os Titãs no mercado. E assim como na época do primeiro lançamento, a faixa além do seu valor histórico, continua com um valor artístico e musical inegável. Nasceu um hit e continua sendo um hit. Uma honra e um orgulho pra banda regravar essa canção.

Que recordações guardam de Ciro Pessoa? O quanto ele os inspirou musicalmente?

Chico Marques (Flying Chair): Ciro sempre foi uma figura importante na música e na poesia, sempre chegava como uma força da natureza, derrubando tudo que era chato a sua volta e colocando os tijolos no lugar do jeito dele. Pra mostrar uma ideia, fazia a banda ouvir o álbum branco dos Beatles inteiro, do começo ao fim, e ninguém podia ir embora antes de acabar. Lhe arrancava ideias e trazia inspiração mesmo em dias cinzentos, que acabavam sempre com uma ou duas músicas novas para o “próximo disco”! Ciro me inspirou e ensinou muito e depois falava “agora faz do seu jeito que é o que eu quero ouvir”! Sempre um gentleman cheio de amor, extremo amor, quem esteve ao lado dele pode afirmar que foi uma das criaturas mais amáveis que já vieram para este planeta.

Fernando Ceah: Sagaz, extremamente inteligente, bem-humorado, não tinha tempo ruim pra ele. Estava sempre disposto, alegre, feliz, mesmo nos momentos difíceis. Também tinha um lado meio folgado e espaçoso que me irritava às vezes. Não eram só flores. Mas pra mim, sinceramente, qualquer traço negativo da personalidade dele era compensado pela genialidade. Às vezes ficávamos irritados com ele por alguma coisa, e eu dizia. “Ah, deixa quieto. O Ciro pode tudo”. Porque era um cara que quando dava um passo em falso, e foram muitos ao longo da vida, era tentando acertar. Nunca por maldade. Era puro amor mesmo, amor à arte sobretudo, um cara de outro planeta, que transcendia. O documentário deixa isso muito claro.

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