Cinema

'O chão sob meus pés', de cineasta austríaca, estreia em streaming

Longa denuncia sexismo e quebra de individualidade por pressão no trabalho. Confira crítica!

Ricardo Daehn
postado em 06/10/2020 16:09 / atualizado em 06/10/2020 16:13
 (crédito: Supo mungam/Divulgação)
(crédito: Supo mungam/Divulgação)

O ano de 2019, na mostra competitiva da 69ª edição do Festival de Berlim, pelos números, revelou o descompasso que move denúncia de parte do longa O chão sob meus pés que estreia em streaming (Now e Vivo Play) na próxima quinta-feira (7/10): entre 22 filmes selecionados, apenas sete eram conduzidos por mulheres. O longa austríaco de Marie Kreutzer se debruça sobre esforços para a manutenção de empregos e quebra no bom curso de vidas privadas.

A atribulada trajetória da independente Lola (Valerie Pachner) traz à tona aspectos de exaustão e derrota, quando ela, depois de 1700 horas de dedicação a um projeto, pode ver tudo a perder. Premiado melhor filme internacional, no Los Angeles Outfest, o longa-metragem trata de aspectos como solidão e predisposição à cegueira, quando Lola é praticamente diagnosticada com a síndrome de burnout, num misto entre depressão e esgotamento irrestrito.

Embalada pela marcante If I didn´t have your love, entoada por Leonard Cohen, a jornada de Lola encampa uma severidade do ambiente que é amenizada pela relação mantida, clandestinamente, com Elise (Mavie Hörbiger). Atriz expressiva, presente em filmes como Uma vida escondida (de Terrence Malick), Valerie cria uma interessante dubiedade, ao esconder numa camisa de força os reais sentimentos da personagem central.

Elise, noutra sintonia, atesta a importância do "vínculo com ambiente familiar", em nada, caro para Lola: criada em orfanato, ela renega até a existência da irmã Conny (Pia Hierzegger), da qual é apontada como guardiã legal.

Indiretamente, a diretora Marie Kreutzer aborda a jornada dupla que atinge as mulheres, mais propensas para a síndrome de burnout. Lola, no campo do trabalho ainda sofre assédios como ser chamada, por vezes, de "enciclopédia de pernas" e de presenciar, em frente a mictório, uma ultrajante postura do colega de trabalho interpretado por Marc Benjamin.

Com direção de arte impessoal (mas vistosa) e uma tensa trama que versa até sobre conspiração sob todos os ângulos, além de registrar pedidos de socorro incessantes de Conny, com rigor, a diretor costura um enredo, nada sentimental, de proteção, embrutecimentos e injustiças do poder. (###)

Trailer de O chão sob meus pés

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