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Festival de cinema on-line traduz as incertezas do mundo em 2020

Com temas correlatos à era de incertezas da pandemia, o Festival Internacional Cinema & Transcendência será on-line e de graça, a partir de sábado

Ricardo Daehn
postado em 05/11/2020 08:08 / atualizado em 05/11/2020 14:28
Psicomagia, o mais recente filme de  Alejandro Jodorowsky, dá a largada na mostra de filmes -  (crédito: festivalcinemaetranscendencia.com/Divulgacao)
Psicomagia, o mais recente filme de Alejandro Jodorowsky, dá a largada na mostra de filmes - (crédito: festivalcinemaetranscendencia.com/Divulgacao)

É para além da realidade, num plano menos físico, e impulsionado por sentimentos e autoconhecimento, que o cineasta e músico André Luiz Oliveira sempre balizou o sentido da própria existência e realidade. Do estilo de vida, num universo paralelo de crescimento interior e extremamente bem-vindo em tempos de pandemia, o diretor conduz o Festival Internacional Cinema & Transcendência, que on-line e de graça, promete ampliar espectadores, já na sétima d. Serão exibidos 12 filmes, numa programação que tem largada no sábado (7/11), e vem complementada por palestras com personalidades da estatura da Monja Cohen (dia 14h, às 20h) e do neurocientista Sidarta Ribeiro (dia 12, às 20h).

“Sempre me senti atraído por este universo diferenciado. No início, foi um sentimento — que hoje se tornou muito mais claro e vivo — de que o mundo que se apresentava a mim, desde sempre, era apenas uma face da realidade, não o seu todo”, avalia André Luiz, ao falar dos fundamentos do evento. Os objetivos das produções e dos encontros (haverá debates com cineastas) são norteados pelo que o cocurador (ao lado de Carina Bini) define de bússola do coração e, junto dela, na transcendência, pesam conceitos de despertamento e de imersão na cultura e nas artes, tudo ainda associado à compaixão, e ao amor, virtudes que dão lastro ao festival de filmes. Entre as atividades oferecidas está a de meditação sonora (15 de novembro, às 18h30) Meditassom, que promete injetar paz interior, sob o comando da musicoterapeuta Anna Heuseler.

A proposta do evento, que tem patrocínio do Banco do Brasil, é a de mexer nas almas e nas estruturas que, pelo que demarca o diretor, “suportam o comportamento destrutivo que graça nos governos mundiais, inclusive o nosso, subordinados a um modelo violento de desumanidade explícita”. André Luiz acredita que a pandemia veio no embalo de um alerta ao planeta. “Ou vocês se alinham com a natureza, a consciência do servir, a cultura e o amor, ou seremos todos destruídos”, ecoa nos pensamentos dele. Como o cineasta indica, adquirir um outro olhar sobre a realidade deriva do momento de transcendência proposto. Muitos êxitos vêm associados ao desejo de entrega a uma experiência voluntária e passiva “de autoimpressão”. Um dos resultados práticos é a aproximação com conceitos e gestos solidários, exemplificados em alguns dos filmes.

Novos caminhos

Com plataforma própria (em www.festivalcinemaetranscendencia.com), o festival se estende até 27 de novembro. Com o mesmo nome do movimento terapêutico empreendido pelo poeta, tarólogo, dramaturgo e cineasta Alejandro Jodorovsky, do Chile, vem a produção Psicomagia, a ser exibida sábado, às 21h. Curas híbridas que entrelaçam psicoterapia e misticismo são algumas das chaves de Jodorovsky, ao abrandar processos de desgaste físico, mental e espiritual dos espectadores. Crzay wisdom é outro filme projetado no festival. Obra da documentarista Joahanna Demetrakas, com realização em 2011, cerca as verdades na trajetória do controverso líder budista Chögyam Trungpa.

Noutro filme, Dying to know, psicodelia e psicologia se completam com bons dividendos sociais, sob estudos desenvolvidos em Harvard. Renomado na meditação transcendental, o diretor David Lynch é um dos focos para a narrativa de Shadows of paradise (produção canadense de Sebastian Lange). A autodescoberta é a protagonista ainda de Finding Joe (fita americana assinada por Patrick Takaya Solomon). Em tempos de pandemia, com a vulnerabilidade à flor da pele, dificilmente o espectador não será tocado por filmes como Orin — A música para os orixás (filme de Henrique Duarte), um exame sobre a sonoridade do candomblé na identidade musical do Brasil. Outro filme destacado no plano musical é Gangbé (de Arnaud Robert) que mostra a imersão pela Nigéria de uma banda destacada para se juntar ao afrobeat de Femi Kuti (filho do celebrado Fela Kuti).

No leque de filmes sobre espiritualidade e xamanismo, entre variados temas, há brecha não só para a visão de diretor de André Luiz Oliveira, à frente do premiado O outro lado da memória, sobre os perrengues de ter tentando transpôr para as telas o clássico literário de João Ubaldo Ribeiro Viva o povo brasileiro. O festival, logo no primeiro dia, trará o instrumentista André Luiz no sitar, ao lado de Bernardo Bittencourt (alaúde turco), no show Expresso Oriente, às 20h.

Com tanta proposta de tranquilidade e apaziguamento, seria o Festival Internacional Cinema & Transcendência um convite à letargia? “Nunca! Letargia é acomodação, conformação e hábito, enquanto transcendência propõe deslocamento, busca, inconformismo com o mesmo de sempre sem questionamentos. Transcender é querer ir além do consenso, da fórmula pronta, do padrão em todos os sentidos”, conclui André Luiz Oliveira.

 

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Estreias

 (crédito: Sony Picture/Divulgação)
crédito: Sony Picture/Divulgação


Jovens bruxas — Nova irmandade
• Foi em 1996 que as atrizes Neve Campbell e Fairuza Balk estabeleceram a franquia retomada em novo filme de Zoe Lister-Jones. Agora no quarteto de bruxas com poderes recentes estão atrizes como Gideon Adlon (Rédeas da redenção) e Cailee Spaeny (Suprema). Veja aqui as sessões.

Bill & Ted: Encare a música
• O sucesso vem do passado, de filmes dos fins da década de 1980, com os personagens do título da comédia, pela ordem, interpretados por Alex Winter e Keanu Reeves. Mas na terceira fita, pesa a visão de futuro: já adultos, e com filhas a tiracolo, a dupla de músicos pretende arquitetar plano para, viajando para o futuro, ter acesso ao sucesso musical que tanto vislumbraram. Veja aqui as sessões.

Sem descanso
• Depois de exibido em vários festivais, o longa documental de Bernard Attal chega aos cinemas, contando da persistência de um pai que empreende jornada de justiça, depois de ver o filho, de subúrbio baiano, morto em crime atroz que envolveu policiais militares. Veja aqui as sessões.

Sem maquiagem
• Na produção documental assinada por Tony Rangel, o foco é na rotina de roubos, crimes, violência e inquéritos policiais integrados a cinco mulheres que ocupam cargos de peritas ou efetuam prisões a cargo da Polícia Civil do Distrito Federal. Veja aqui as sessões.