Entrevista

'A Mulher-Maravilha é um símbolo para a humanidade', diz Patty Jenkins

Ao Correio, a diretora de' Mulher-Maravilha 1984', Patty Jenkins, destaca a mensagem de paz e compreensão trazida pela heroína

Ricardo Daehn
postado em 12/12/2020 07:50
 (crédito: Warner Bros/Divulgação)
(crédito: Warner Bros/Divulgação)

Passados três anos e meio desde a estrondosa bilheteria de US$ 822 milhões acumulada por Mulher-Maravilha, a diretora Patty Jenkins não denota hesitação ao falar sobre o segundo filme da série, que, prestes a invadir as salas de cinema de todo o mundo, muito quicou no calendário de estreias, por causa da pandemia. “A Mulher-Maravilha é algo de que o mundo precisa agora. Ela não se encerra num conceito de derrubar os malvados. Ela desperta amor, compaixão, gentileza e desejo de se aprimorar como ser humano”, diz, em entrevista ao Correio.

Saída do universo das destemidas Amazonas, a cândida Diana Prince não consegue dar descanso para os braceletes dourados nem para o seu famoso Laço da Verdade.

Em Mulher-Maravilha 1984, a heroína, incorporada pela atriz Gal Gadot, encara duas grandes ameaças: Max Lord, um empresário com domínio mental sobre suas presas (papel do chileno Pedro Pascal); e a ainda mais ardilosa Barbara (Kristen Wiig), que habita o universo DC na forma bem mais berrante de Mulher-Leopardo.

Como definiria o poder da Mulher-Maravilha de enxergar, sem julgamentos, as fraquezas e de entender gestos inesperados dos inimigos?
Esse é um ponto-chave, um fator para as coisas mais interessantes que tocam Daiana. Normalmente, há heróis e vilões. Na maior parte do tempo, eles ficam tentando destruir uns aos outros. Eles perseguem na tentativa de se livrar uns dos outros, tendo por base o ódio. O diferencial de Diana é que ela nunca deseja machucar ou destruir ninguém. Mesmo quando são pessoas más. Ela tem um sentimento bondoso de compreensão. Ela se vê como uma pessoa prestativa, preocupada em melhorar a vida de quem está à sua volta. Ela cuida do mundo que a envolve. No filme, uma das vilãs é amiga dela. Diana se mostra favorável a reeducar, a ajudar a pessoa a sair da trilha errada. Isso é fascinante e conduz a uma esfera de luta diferenciada.

Qual é a importância de haver uma heroína em evidência em tempos de pandemia?
Espero que o filme toque as pessoas de modo extremado e profundo. A Mulher-Maravilha é algo de que o mundo precisa agora. Ela não se encerra num conceito de derrubar os malvados. Ela desperta amor, compaixão, gentileza e desejo de se aprimorar como ser humano. Diana se desafia para se tornar uma pessoa melhor, ainda que esteja na posição de heroína. Eu percebo tanta resiliência e vontade de transformação nela. O roteiro traz uma mensagem de amor e de otimismo, algo positivo, alegre e divertido. No primeiro filme, a visão de muitas pessoas foi a de associar a personagem apenas às mulheres, como uma espécie de símbolo. Mas ela representa muito mais do que isso. Ela é um presente real para as mulheres, mas, atualmente, ela se tornou um símbolo para a humanidade.

No atual contexto de reajuste de valores da humanidade, seria possível inserir Núbia,
a irmã gêmea negra da Mulher-Maravilha, nas histórias que virão no cinema?
Sim. Nós temos um futuro filme em andamento e, avançando ou não no tempo das tramas, Núbia se mostra um dos grandes personagens.

Qual é a perspectiva de lançar o filme nos Estados Unidos simultaneamente em streaming e nas salas de cinema?
Não era o modo ideal pelo qual queria lançar, mas temos que nos ajustar às circunstâncias de hoje. Eu não poria, normalmente, fé no modo como será lançado. Eu realmente acredito em experiências que passam pelo lançamento nas salas de cinema. Entretanto, os tempos têm nos obrigado a nos ajustarmos. Nesse cenário, acho que o filme estrear em meio às mudanças é algo belo e válido. Claro que estou descontente com o fato de o filme não ter o lançamento costumeiro e do tamanho esperado. Mas estou feliz de poder entregá-lo ao mundo de um modo muito seguro, o que traz um sentido pleno e muito forte.

Patty Jenkins, diretora, e Gal Gadot, atriz no painel de Mulher-Maravilha 1984 na CCXP 2019, em São Paulo
Patty Jenkins, diretora, e Gal Gadot, atriz no painel de Mulher-Maravilha 1984 na CCXP 2019, em São Paulo (foto: Marcos Tarini/Divulgação)

Você indica circunstâncias no filme associadas a Wall Street e ainda ao personagem de Lex
Luthor. Mas a história se passa em 1984! O clássico literário de George Orwell também desponta?
Eu brinco dizendo que Orwell escreveu um livro sobre como ele pensava que seria 1984, e eu fiz o filme sobre como foi 1984 (risos). É claro que, definitivamente, as obras estão relacionadas entre si. Ele tratou de um mundo muito controlado, em meio a um rígido sistema de crenças. Creio que haja vilões sublinhados e derivados do sucesso de Wall Street e de sua opulência, da especulação demarcada em filmes de 1980.

Muita graça se projeta ao se remexer na vida dos anos de 1980?
Não fomos atrás da memorabilia dos anos de 1980 para conquistar risada e graça. Porém, quando buscamos a autenticidade na reconstrução dos anos 1980, é impossível não rir de certos objetos e cortes de cabelos. Mesmo o sistema de crenças era muito diverso. Há comportamentos como jogar o lixo no chão da rua! Trazem um choque real. Fumar a todo momento também era comum. É tudo muito engraçado quando vemos o quanto as coisas eram diferentes.

Você conduziu o violento Monster — Desejo assassino (2003), sobre uma serial killer. Como dosa violência no novo Mulher-Maravilha?
Acho interessante observar cada caso, e isso inclui o filme Monster. Você sabe, há questões de mortes que tocam os dois filmes, particularmente, em relação ao que acontece com Mulher-Maravilha. Como diretora, você está sempre detectando qual é o foco emocional de algo. “Será que encaixa, combina?” Eu também não explorei muito grafismo em Monster, mas, emocionalmente, não fui indulgente com a plateia. A personagem doentia promove momentos muito desconfortáveis.

Há equilíbrio de violência em Mulher-Maravilha 1984?
Na Mulher-Maravilha, não há absolutamente nenhuma razão para fazer aquilo (trazer desconforto). Estou, como artista, muito familiarizada com a violência e a ação, e sinto que estou sempre tentando contar a história e posicionar o público em um lugar no qual experimente o que, de fato, seja importante no âmbito da ação e da violência. No caso da Mulher-Maravilha, adoro o fato de não haver a morte de uma pessoa no filme. Mulher-Maravilha desvia de tudo para evitar mortes de pessoas e para anular vilões de agigantados poderes sempre sem que ninguém morra. Acho que é um tremendo e divertido desafio.

Afinal, em termos de ação: a personagem voa ou pula? É uma dúvida recorrente (risos). Aliás, por que ela está com a famosa armadura no filme e teve que se reinventar para enfrentar a Mulher-Leopardo?
Ambas as perguntas, sobre o voo e a Armadura da Águia Dourada, só têm resposta no filme: existem muito boas razões para os dois casos. E, sim, lutando contra a Mulher-Leopardo, Diana tem que lutar numa excelente forma, ela tem que estar muito afiada. Mulher-Leopardo é a inimiga mais formidável que ela já enfrentou, e, então, Diana tem que mudar seu estilo de luta completamente. As cenas são bem legais. Elas estão lutando entre si, mas com diferentes intenções. Carregam diferentes conjuntos de habilidades. Então, é fascinante de se ver e de se coreografar o embate. E, sim, ela tem de usar seu Laço da Verdade de muitas formas...ate. E, sim, ela tem de usar seu Laço da Verdade de muitas formas...”, adianta Jenkins.

Confira aqui as sessões de Mulher-Maravilha 1984 em pré-estreia nos cinemas

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