FBCB

Ken Loach defende que o cinema desperta a reflexão sobre problemas sociopolíticos

O diretor de 'Eu, Daniel Blake' foi convidado para o painel sobre o cinema como ferramenta política em uma atividade do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Pedro Ibarra*
postado em 16/12/2020 14:29 / atualizado em 16/12/2020 14:30
Ken Loach é vencedor da Palma de Ouro e do Prêmio do Júri em Cannes -  (crédito: Alberto Pizzoli/AFP)
Ken Loach é vencedor da Palma de Ouro e do Prêmio do Júri em Cannes - (crédito: Alberto Pizzoli/AFP)

O diretor de cinema Ken Loach, responsável por longas como Eu, Daniel Blake e Você não estava aqui, foi o convidado especial do painel do 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro sobre cinema como uma ferramenta de mudança, realizado na manhã desta quarta-feira (16/12). O cineasta britânico falou sobre a importância de um cinema que traz verdade e sobre os próprios ideias em relação à Sétima em evento transmitido pelo canal do YouTube da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF.

Convidado de honra do FBCB, Ken Loach havia sido citado pelo secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Bartolomeu Rodrigues, como uma das atrações mais interessantes da 53ª edição do Festival. “Ouvir Ken Loach é um alento para o momento que vivemos no Brasil e no planeta atualmente, é bom saber que ainda existe vida inteligente no mundo”, falou Silvio Tendler, curador do evento de 2020, na apresentação do convidado e comemorou ter um nome como de Loach “no Festival mais politizado do Brasil”.

Cinema com cunho social

Conhecido por um cinema engajado e que expõe na tela as desigualdades e as injustiças sociais, Loach usa o cinema para escancarar problemas, fazendo obras incômodas, muitas vezes tristes, mas sempre voltadas a apresentar a realidade do cotidiano de milhares de pessoas na Inglaterra e no mundo. “Estamos vivendo tempos de exploração. O que o cinema pode fazer sobre isso? Podemos tentar falar a verdade, tentar fazer perguntas que façam o espectador chegar na raiz destes problemas”, afirma o cineasta. “Não queremos apenas mostrar uma pessoa desempregada sofrendo, e sim questionar o porquê desta pessoa estar desempregada”, acrescenta.

O diretor diferenciou o trabalho realista que faz de um documentário. Para ele, apesar dos dois, de certa forma, mostrarem a realidade, há uma diferença: “Nós montamos três organizações de câmeras e rodamos a cena quatro ou cinco vezes em cada até alcançarmos o resultado desejado, em documentário não se faz isso”. “As técnicas são muito diferentes, mas o senso de autenticidade, e a intenção são parecidas”, pontua o vencedor da Palma de Ouro de 2016.

“O cinema chega até um ponto, mas as mudanças políticas têm que ser feitas na política”, reflete o diretor. Dentro do papel de cineasta que exerce, ele busca fazer o que pode para disseminar o que acredita. Mas, de acordo com Loach, é necessário algo maior, o fim do capitalismo. “O socialismo é a única possibilidade”, propõe. “Nunca passamos por uma época como a que estamos vivendo, em que o planeta corre risco de se tornar inabitável. A única maneira de resolver este problema é por meio de um trabalho coletivo em que as pessoas utilizem os recursos do mundo de forma sustentável”, finaliza o autor.

Segundo o Ken, é necessário ainda que o povo lute constantemente pelos próprios direitos, e a arte pode auxiliar. “Há uma estratégia de quem está no poder de transformar a busca por direitos em violência, mas é importante lembrar que a violência sempre vem do opressor, nunca do oprimido”, comenta o cineasta.

Ponto de vista político

Loach também criticou a subida da extrema direita em todo globo e mencionou que o Brasil tem “este tipo de líder”. “Nós vemos uma extrema direita que se diz a voz do povo, mas na verdade fala pela classe dominante”, analisa o diretor. Ele indicou o pensador Karl Marx como uma boa leitura para os tempos atuais. “Não dá para entender o mundo e a história sem ler um pouco de Marx”, diz.

Já nos agradecimentos finais, Ken Loach aproveitou para falar sobre os importância dos sistemas de saúde pública no Brasil e na Inglaterra durante os tempos de covid-19. “Nós devemos lutar para ter um serviço de saúde que permita que as pessoas tenham o direito de viver de forma saudável”, clama o artista. “O sistema tem que ser do público, para o público e seguir os interesses do público, e não uma fonte de lucro para grandes empresas”, completa. O Sistema Unificado de Saúde (SUS) brasileiro é baseado no National Health Service (NHS) britânico, modelo de sucesso de saúde pública para o mundo inteiro.

O diretor finalizou dizendo que não sabe muito o que planejar para o futuro e que no momento está apenas focado em “sobreviver a esta pandemia”. Uma possibilidade é fazer um filme apontando a questão social deste momento de crise sanitária. “Me sinto um carro estacionado numa garagem há um ano, ainda não sei se vou ligar”, brinca. No entanto, garante que não pretende parar de fazer cinema.

Painel Encontro com Ken Loach: O cinema como ferramenta política no FBCB

*Estagiário sob supervisão de Adriana Izel

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