ARTE

Artistas contemporâneos se dedicam às artes figurativas e realistas e retomam a técnica tradicional

Conheça os trabalhos de Juliana Limeira, José Rosário Souza e Vinicius Fernandes da Silva

Roberta Pinheiro
postado em 29/01/2021 06:00 / atualizado em 29/01/2021 10:52
 (crédito: Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal)

A brasiliense Juliana Limeira sempre foi uma amante das artes plásticas e do teatro. Contudo, aos 15 anos, o desenho a encantou. Na época, ganhou um prêmio e, com ele, uma viagem para os Estados Unidos. “Isso foi me animando. Sempre gostei de retratar beleza, seja ela natural ou imaginada, uma composição do artista”, comenta.

Formada em artes plásticas pela Universidade de Brasília (UnB), Juliana encontrou as principais fontes de inspiração nas artes figurativas e realistas de vários períodos, como o renascentista, o neoclássico e o impressionista. Ao contrário do caminho que a maioria dos alunos da turma seguiu, a artista optou pela tradição. “Gosto de algumas coisas que trazem sempre uma reflexão no sentido de enaltecer a vida, o lado esperançoso, o lado belo. A arte, para mim, é um momento de elevar a consciência, de se renovar espiritualmente”.

Este mês, a pintura Refletida, auto-retrato rendeu à brasiliense o reconhecimento do Salão Internacional Art Renewal Center, um dos principais prêmios internacionais nas belas artes. De um total de 4.941 inscrições, de 83 países, a 15ª edição da premiação selecionou 208 obras, entre elas a de Juliana. Agora, ela participa de uma votação de júri popular dentro do salão, e a mesma obra está entre as 50 selecionadas na Competição Internacional A arte do retrato, da The Portrait Society of America, e é uma das finalistas do Richeson75 Portrait, prêmio criado pela Jack Richeson & Co., um fabricante e fornecedor líder de materiais de arte de alta qualidade.

Formação

Para se especializar na linguagem, a brasiliense conta que buscou cursos fora e vivências com artistas nacionais e internacionais que praticam essa pintura. Juliana pontua que, por mais que seja algo tradicional e básico dentro da arte, a formação não é mais tão comum entre os jovens artistas. Na avaliação da pintora, o realismo é uma linguagem mais universal que propicia a comunicação com o público, que gera uma rápida identificação. “Vibra a alma e tem vida própria”, afirma. Apesar de ter espaço para todas as manifestações artísticas, Juliana sente que a arte, como um todo, está se afastando um pouco desse aspecto que é da própria beleza, dessa habilidade técnica existente há tantos anos.

O historiador da arte Emerson Dionísio avalia que a condição do que é arte contemporânea e belas artes, hoje, está muito em xeque. “A pintura figurativa nunca deixou de existir. Ela chegou a enfrentar um período de discriminação em muitos mercados, mas nunca deixou de vender e conquistar o público”, comenta. “Muitos artistas contemporâneos, por exemplo, utilizam, com um toque de humor, esse certo realismo naturalista. São mercados diferentes, mas acabam transitando e se comunicando”, explica.

Para Dionísio, essa linguagem continua tendo ação e visibilidade, porque atende ao gosto de uma parte da população. Ao mesmo tempo, existe uma demanda que coloca em diálogo a tradição e a modernidade. “Na universidade, estamos muito atentos a essa produção, porque, hoje, ela também atende ao mercado de games. Esse mercado está tomando nossos alunos em uma quantidade cada vez maior. Então, está vinculado com uma indústria visual do presente e muito contemporânea”.

Questionado sobre o conceito de belo, o historiador explica que, na História da Arte, houve um período de rejeição a essa ideia, sobretudo, por parte dos modernistas que declinaram do conceito de que a arte precisa obedecer a uma beleza específica. “Hoje, se entende que são dimensões diferentes do que podemos chamar de beleza. O que a arte figurativa e realista nos lembra é uma beleza idealizada e que tinha um programa muito pontual. Na arte contemporânea, a beleza se tornou relativa, individual e multifacetada”.

Internet

Apesar de contraditório, a internet representou, para os artistas que optam pelas artes figurativa e realista, um divisor de águas, propiciando um rompimento desses núcleos de domínio da arte e o retorno e a popularização dessas técnicas. “Essa abertura para arte mais realista e figurativa está sendo mais comum nos países de Primeiro Mundo e, aos poucos, se popularizando nos demais países. Acredito que é um senso comum. As pessoas começam a cansar um pouco só de uma elite intelectual dominante e vão procurando outras coisas, um discurso de manter alguns valores nas artes”, avalia Juliana.

Em 2010, o mineiro José Rosário Souza decidiu criar uma página na internet, na qual pudesse divulgar o trabalho e os artistas ligados ao movimento desse grupo. “Começou a ganhar um significado muito maior e se tornou uma ferramenta de pesquisa em arte figurativa”, conta — a página tem mais de dois milhões de acessos.

Rosário começou a pintar na década de 1990, muito influenciado pela tradição mineira ligado aos contextos históricos e culturais do estado. Para ele, a internet democratizou a arte. “O trabalho, antes, era restrito ao conhecimento regional e, se você quisesse uma divulgação maior, teria que ter um representante de uma galeria bem-conceituada ou uma crítica do trabalho. Hoje, a pessoa, de dentro de casa, tem acesso a qualquer trabalho do mundo”.

A tecnologia, na avaliação do mineiro, também possibilitou que o público conhecesse uma arte diferente daquela “imposta”. “A arte figurativa tomou um novo rumo, um novo padrão, e isso é interessante, porque acendeu, nos artistas do mundo inteiro, o trabalho de Belas Artes de novo”, comenta. As portas que se abrem na internet também permitem o aprimoramento e a formação de artistas.

O paulista Vinicius Fernandes da Silva aprimorou, de maneira autodidata, os conceitos de anatomia, de luz e sombra e de estética. Apaixonado pelo meio ambiente e pela vida ao ar livre, o artista uniu os dois universos e, assim como os impressionistas, também dedica uma parte dos trabalhos à pintura ao ar livre.

“Não adianta só eu pintar sem ter contato com o motivo, porque a relação do artista com o modelo é muito importante. A arte pode ser o meio e não o fim, o fim é o contato com a natureza, a liberdade de ter contato, de sair, de acampar próximo aos animais selvagens. Minha arte tem isso. Impossível sair para algum lugar sem levar meu material de pintura”, conta. Além de questões sensoriais e até afetivas, Vinicius detalha que a pintura ao ar livre permite o contato com um turbilhão de cores, de luzes, de sombras e sons. “Isso tudo faz parte, é como se eu tirasse um pedacinho daquele lugar e levasse para casa. É congelar um pedaço daquele momento”, descreve.

 
 
 
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