EDUCAÇÃO

Biblioteca virtual disponibiliza materiais sobre filosofia e cultura afro

Site alimentado por professores e alunos da UnB reúne textos, links e vídeos de filosofia africana ou afro-brasileira, disponíveis de forma gratuita

» Devana Babu*
postado em 15/04/2021 06:00
Irmãos Marcelo e Ricardo Camps, com o app da Biblioteca Digital Tocalivros -  (crédito: Tocalivros/Divulgação)
Irmãos Marcelo e Ricardo Camps, com o app da Biblioteca Digital Tocalivros - (crédito: Tocalivros/Divulgação)

Desde 2003, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional determina que todas as disciplinas da grade curricular dos ensinos fundamental e médio precisam contemplar conteúdos de história e cultura africana e afro-brasileira. Na prática, porém, é muito difícil encontrar materiais gratuitos em português que contemplem a produção intelectual africana.

Essa tarefa se tornou um pouco mais fácil desde que, em 2015, o professor Wanderson Flor do Nascimento, do Departamento de Filosofia da UnB, com alunos e colaboradores, inaugurou o site Filosofia Africana. Nele, é possível encontrar dezenas de e-books, textos acadêmicos, artigos e vídeos do YouTube. “O objetivo do site é ser um repositório de materiais de autores e autoras africanos, e de fora do continente africano, que estejam pensando acerca, desde ou com o continente africano”, explica o professor e pesquisador, em entrevista ao Correio.

Com a inclusão destes temas na grade curricular, há 18 anos, Wanderson começou um trabalho de capacitação de professores e professoras de filosofia que atuam no ensino fundamental e médio. Os docentes, no entanto, se queixavam da dificuldade em encontrar materiais em idioma brasileiro para trabalhar com os alunos. “Na internet havia muita coisa na língua inglesa, que não é a língua que todo mundo fala o tempo inteiro”, contextualiza o professor. “Quando a disciplina Filosofia Africana começou a ser oferecida (na UnB), tive a ideia de montar ou reunir materiais que, de fato, não eram simples de encontrar. Não bastava, por exemplo, botar a expressão ‘filosofia africana’ no Google. Às vezes, (os textos) estavam dentro de algum periódico, os metadados não eram vinculados com a (palavra-chave) ‘filosofia africana’ e nem sempre esses textos ficavam tão fáceis de encontrar“, pondera.

Com o auxílio de alunos e colaboradores, o professor começou a traduzir textos do inglês, espanhol e francês, com citações em idiomas africanos, reunir links, em português ou em outros idiomas, e juntar material. “Comecei a reunir esse material junto com os estudantes e, daí, a ideia foi construir esse site que fosse de acesso aberto, livre, com materiais sem (cobrança de) direitos autorais. Inclusive, algumas autoras e autores acabaram cedendo livros, como Wanda Machado e Thiago Freire Dantas, que ofereceram obras que escreveram para compor o acervo”.

Vinculado à pesquisa Colaborações entre os estudos das africanidades e o ensino de filosofia, desenvolvida por Wanderson, e ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Raça, Gênero e Sexualidades Audre Lorde, o projeto tem no DNA essa característica colaborativa, pois muita gente de fora também envia sugestões e materiais. “Tanto eu quanto estudantes da disciplina de filosofia africana nos voluntariamos, sabendo que esse material iria para a rede como uma forma de devolutiva, para a sociedade, do nosso trabalho na universidade“, conclui.

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