Despedida

Cineastas enfatizam arte e carisma perdidos com a morte de Nelson Sargento

Participações do sambista no audiovisual comprovam o talento e a eterna disposição de Sargento, pelo que reforçam os depoimentos de Cacá Diegues e Alice de Andrade

Ricardo Daehn
postado em 27/05/2021 19:50
Cacá Diegues: quatros de pintura naïf, assinados por Nelson Sargento, decoram a casa dele -  (crédito: Ana Rayssa/ CB DA Press)
Cacá Diegues: quatros de pintura naïf, assinados por Nelson Sargento, decoram a casa dele - (crédito: Ana Rayssa/ CB DA Press)

"Um homem que pensava sobre o Brasil e o mundo com generosidade e coragem" é como o prestigiado diretor Cacá Diegues, eternamente integrado à ala do cinema novo, define Nelson Sargento, morto em decorrência da covid-19. Sempre associado a cinema movido pela musicalidade nacional, Cacá conhecia o Nelson que extrapolava papéis de poeta e sambista.

"Cultivei sua amizade em rodas de samba e encontros entre amigos desde os anos 1970, quando Cartola nos apresentou. Ele já era também um amigo próximo daquela que seria minha
futura esposa, Renata Magalhães", conta o diretor de Bye bye, Brasil ao Correio. A participação de Nelson Sargento, em Orfeu (1999), foi vista como um presente entregue a Cacá. "Fez um pequeno papel e cedeu um samba seu para a trilha sonora do filme. Sua morte é um golpe duro pros muitos amigos. Mas sobretudo uma perda para a música popular brasileira que, sem ele, fica mais pobre", comenta Cacá Diegues.

O cineasta de Quando o carnaval chegar (1972) conta que as futuras lembranças de Sargento
rondam a própria casa: "Tenho espalhadas pela casa várias de suas telas com cenas de favela e de samba. Acho que 96 anos era pouco para tudo que ele sonhava fazer e fazia".

Encantada 

"O Nelson Sargento era um encanto. Uma presença linda, que exalava bom humor e generosidade", explica a diretora Alice de Andrade para quem o sambista fez participação na estreia dela em ficção, no curta Dente por dente (vencedor, em 1994, dos prêmios de melhor direção e roteiro no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro). Na trama, Nelson interpretava um protético, acompanhado pelo dentista (Sérgio Mamberti) e a enfermeira (Marcélia Cartaxo),
numa serenata de happy hour.

"Ele entoava 'Sou protético, graças a Deus'. A filmagem foi uma farra. O samba era do Pedro Cintra e do Galotti, e em cena estavam ainda Letícia Sabatella, Pedro Cardoso e Toni Garrido. O Sargento embarcou naquela maluquice na maior disposição", relembra a diretora de longas como O diabo a quatro e Vinte anos. Na avaliação de Alice, há perda de mais um grande artista e uma inspiração. "A vida fica mais triste sem ele. Vai fazer muita falta", conclui.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Alice de Andrade teve a honra de ver Sargento estrelar o primeiro curta dela, exibido no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
    Alice de Andrade teve a honra de ver Sargento estrelar o primeiro curta dela, exibido no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro Foto: Carlos Moura/ CB DA Press
  • Nelson Sargento
    Nelson Sargento Foto: Nelson Sargento/Instagram/Reprodução
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação