ARTE

Galeria Pé Vermelho, em Planaltina, recebe exposição de arte periférica

'Em cartaz até 26 de junho, 'Fazer caminhos' reflete pesquisas e discussões inerentes à pandemia

» Nahima Maciel
postado em 29/05/2021 06:00
As esculturas de parede de Marcela Campos são feitas com objetos descartados -  (crédito: Pé Vermelho/Divulgação)
As esculturas de parede de Marcela Campos são feitas com objetos descartados - (crédito: Pé Vermelho/Divulgação)

Depois de um ano de isolamento, dúvidas sobre a capacidade de manter o espaço em funcionamento e muita angústia quanto ao futuro, os idealizadores da galeria Pé Vermelho, em Planaltina, inauguram a exposição Fazer caminhos, gestada graças ao auxílio emergencial proporcionado pela Lei Aldir Blanc.

Em cartaz até 26 de junho, e com obras de sete artistas, a exposição é fruto de discussões, pesquisas e reflexões que pautaram os autores desde o início da pandemia. Não há, como explica João Angelini, um dos integrantes do grupo, um recorte curatorial que alinhe as obras, mas é possível perceber uma preocupação comum entre os artistas. “Foi um ano de produção, discussão e acompanhamento”, avisa.

“Os trabalhos foram produzidos no processo de troca e cada artista disponibilizou o que interessava. Curiosamente, quando vimos tudo junto, percebemos as aproximações desdobradas do foco de nossas discussões, que têm a ver com produzir numa posição periférica no sistema de arte.”

Refletir sobre como artistas distantes dos grandes centros são excluídos do mercado e da cena nacional é um movimento constante entre os membros da Pé Vermelho. De Planaltina, uma periferia que também tem um contexto colonial e histórico forte no Centro-Oeste, eles observam as cenas hegemônicas com uma certa distância para extrair parte de suas narrativas. “Temos uma organização colonial bandeirante que sujeita o resto do Brasil à precariedade e os trabalhos falam muito desse lugar”, explica Angelini.

Para reforçar essa posição, eles convidaram Arnaldo de Castro, professor de história em Planaltina, correspondente da Mídia Ninja e criador de um podcast, para fazer o texto sobre a exposição. A intenção foi, mais uma vez, romper com rituais estabelecidos na cena artística contemporânea em que curadores são convidados a escolher obras de acordo com um recorte pessoal e a tecer entre elas laços que justifiquem a seleção. “Arnaldo sequer nos conhecia antes de ver a exposição montada, então ele tem uma perspectiva muito curiosa e preciosa”, destaca Angelini.

Alguns dos trabalhos mostrados em Fazer caminhos, como os de Angelini e de Luciana Paiva, são desdobramentos de uma pesquisa íntima que começa antes mesmo da situação pandêmica e passa por processo de amadurecimento e mudança técnica durante o período. As obras têm um aspecto íntimo fortemente ligado a questões biográficas dos autores. No caso de Shevan Lopes, a religião tem grande influência nas peças construídas com materiais recolhidos na rua, mesma sistemática adotada por Marcela Campos e suas elegantes esculturas de parede.

Raissa Studart tem o próprio corpo como ponto de partida para situações escultóricas que envolvem monotipias, bordados e molduras improvisadas, uma lembrança de que, isolada, ela ficou também privada dos acabamentos impecáveis de molduras encomendadas.

Douglas Ferreira trabalha com relações, memória e ancestralidade. “Como homem preto, piauiense que se muda para Planaltina, ele vai retratar essa memória da própria trajetória dele”, avisa Angelini. Rafael da Escóssia, que é formado em direito e traz dessa área boa parte da reflexão presente em suas produções, se apropria de um trabalho antigo e o apresenta junto a uma obra nova.


Fazer caminhos — Exposição com João Angelini, Luciana Paiva, Rafael da Escóssia, Douglas Ferreira, Shevan Lopes, Marcela Campos e Raissa Studart. Visitação até 26 de junho, na Galeria Pé Vermelho (Praça São Sebastião, Quadra 59, Lote 3, Planaltina)

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação