MÚSICA

Em novo álbum, Marisa Monte apresenta gentileza e esperança

Após um hiato de 10 anos, a cantora e compositora está de volta com álbum corajoso, otimista e cheio de parcerias novas e antigas

Mesmo sendo criteriosa em relação ao lançamento de discos, Marisa Monte mantém-se em constante atividade como compositora, criando músicas — quase sempre com parceiros — tanto para trabalhos solo quanto para o coletivo Tribalistas, integrado por ela, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes. Ao decidir gravar um novo álbum, Marisa tinha um acervo pronto, do qual selecionou nada menos que 16 canções para o Portas, o primeiro trabalho inédito depois de 10 anos. O último disco, O que você quer saber de verdade, foi lançado em 2011.

Lançado pela Sony Music e disponível nas plataformas digitais, o álbum reafirma o gosto da cantora pelas parcerias e companheiros de ofício. Os problemas decorrentes da pandemia foram determinantes para que algumas músicas precisassem ser gravadas remotamente, de diferentes partes do planeta. Esse exercício levou a cantora a, novamente, conviver com o espírito colaborativo que sempre norteou suas produções.
Em Portas, ela tem ao seu lado velhos amigos como coautores de algumas faixas: Arnaldo Antunes e Dadi Carvalho na faixa título e em A língua dos animais; Nando Reis em Praia vermelha; e Seu Jorge em Pra melhorar. Mas a presença maior é de novos parceiros.

Chico Brown é o de maior destaque. O jovem compositor e multi-instrumentista, filho de Carlinhos Brown e neto de Chico Buarque, assina com Marisa cinco canções, entre as quais Calma (o primeiro single), Déjà vu e Em qualquer Tom — uma clara homenagem a Tom Jobim.

Marisa Monte abriu espaço também para novos parceiros. Marcelo Camelo é coautor de Sal e Você não liga, além de ter composto sozinho Espaçonave. Com o capixaba Silva, ela fez Totalmente seu. O amor que ela tem pela Portela é cantado no samba Elegante amanhecer, em que dividiu a criação com Pretinho da Serrinha, músico de sua banda. Mixado no Rio de Janeiro e em Los Angeles, o disco foi masterizado em Nova York.

Um álbum visual produzido pela artista plástica Marcela Cantuária faz parte do projeto Portas. “Marcela Cantuária é uma das artistas que eu seguia há cerca de dois anos. Suas pinturas foram as janelas que eu mantinha abertas para o mundo durante o isolamento. Seu universo cheio de mistérios, fantasias, oratórios, feminismos, cores e imagens me encantou e seduziu”, ressalta Marisa Monte, em entrevista exclusiva para o Correio Braziliense.

Entrevista// Marisa Monte

Quantas das canções deste disco já estavam compostas em maio de 2020, quando pretendia gravar o álbum? O adiamento lhe permitiu incluir outras que, na sua visão, deram maior abrangência à proposta do projeto?
Sim, aproveitei o tempo extra a favor e fiz mais três canções, Vagalumes, Sal e Você não liga, e ainda chegou Espaçonave, só do Camelo, mas a grande maioria já estava pronta esperando a oportunidade de ser gravada.

Velhos amigos e parceiros voltam a marcar presença em Portas. Trabalhar com Nando Reis,
Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown (agora como músico), Dadi Carvalho e Pedro Baby deve ser visto como algo familiar?
Adoro trabalhar junto, promover a troca e a soma. Manter e expandir minhas parcerias, como compositora, além do campo da música em artes visuais ou no audiovisual, é sempre um objetivo para mim.

Chico Brown é seu parceiro em cinco músicas. Ele chegou até você trazido por Carlinhos ou já
conhecia o talento desse jovem compositor?
Conheço o Chico desde que nasceu, é um encanto da vida poder estar viva para ver ele se tornar meu parceiro. Ele é um assombro, grande músico, compositor multi-instrumentista que acrescentou frescor e destemor aos arranjos.

Você tomou conhecimento do cantor e compositor capixaba Silva quando ele gravou um disco totalmente monteano ou já o tinha ouvido anteriormente?
Eu já acompanhava o trabalho dele e o fato de ter feito um álbum dedicado ao meu cancioneiro nos aproximou, nossas afinidades fizeram com que a gente se tornasse parceiro de uma forma muito natural.

As gravações remotas foram responsáveis pelas maiores dificuldades na produção do
álbum?
Minha ideia inicial, que era viajar e formar uma segunda banda, em Nova York, ficou impossível. Achamos que valia a pena experimentar uma gravação remota. Com coprodução do Arto Lindsay, que trouxe a sua banda, arriscamos gravar duas músicas, Calma e Portas. Eles num estúdio na Rua 37 e nós no Rio, via zoom. Para nossa surpresa, deu muito certo, o que nos abriu um novo universo de possibilidades e nos deu confiança de seguir com gravações remotas em outras cidades e com outras formações também.

Desde o início da carreira, você sempre gostou de ter contato com o público, em shows
memoráveis. Que perspectiva tem para percorrer o país com uma nova turnê?
Não temos uma data certa para voltar aos palcos. Ainda está difícil fazer planos. Dependemos da vacina e da maioria da população imunizada. Talvez no final do ano, se tudo der certo, em 2022, a gente vai ter a alegria de se encontrar de novo. Comecei minha vida na música com 19 anos e nunca fiquei tanto tempo sem cantar ao vivo e sem encontrar o meu público. Estou sentindo muita falta, não vejo a hora de poder cantar junto das pessoas.

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