Obituário

Morre o ator Jean Paul Belmondo, ícone do cinema francês

O ator morreu aos 88 anos, nesta segunda-feira (6/7), em sua residência, em Paris

Agência Fance-Presse
postado em 06/09/2021 12:22 / atualizado em 06/09/2021 13:27

O ator francês Jean-Paul Belmondo, um dos intérpretes mais consagrados do cinema francês, faleceu nesta segunda-feria (6/9) em sua residência de Paris aos 88 anos, anunciou seu advogado à AFP.

"Estava muito cansado há bastante tempo. Ele morreu tranquilamente", disse o advogado Michel Godest.

Belmondo participou de 80 filmes, incluindo alguns papéis inesquecíveis, como em Acossado (1960) ou O Homem do Rio (1964).

Com seu rosto bronzeado e presença vencedora, Belmondo foi estrela da Nouvelle Vague antes de se tornar mundialmente famoso com seus papéis em comédias e filmes de ação. Assim como seu cúmplice e rival Alain Delon, foi um dos monstros sagrados do cinema francês. Ambos triunfaram interpretando gangsters e policiais, mas tinham perfis antagônicos.

Longe do distante e solitário Delon, especialista em papéis sombrios e trágicos, Belmondo não se incomodava nem um pouco com o rótulo de comediante simpático e adorado pelos franceses. Bebel, como era chamado, desapareceu das telas após sofrer um acidente vascular cerebral em 2001, que o deixou muito mal.

Nascido em 9 de abril de 1933 em Neuilly-sur-Seine, um subúrbio nobre de Paris, Belmondo foi criado em uma família de artistas. Seu pai, de origem italiana, foi um escultor renomado. O filho sonhava em ser ator de teatro e se inscreveu no conservatório.

"Com esse físico, você nunca vai ter sucesso nesta profissão": o julgamento peremptório do decano da Comédie Française ainda o fazia rir quando contava essa história, já com oitenta anos e 70 filmes depois.

Após alguns filmes como principiante, Jean-Luc Godard, o papa da Nouvelle Vague, detectou seu talento e confiou a ele, em 1960, o papel protagonista junto a Jean Seberg de Acossado. O diretor voltaria a trabalhar com Belmondo em O demônio das onze horas, com Anna Karina.

Ainda dentro da corrente vanguardista do cinema daquela época, ele atuou em Moderato Cantabile, de Peter Brook, com roteiro de Marguerite Duras.

"Depois de Acossado, da noite para o dia, fui para a Itália gravar quatro filmes seguidos. O telefone não parava de tocar: poderia ter feito vinte por ano, se quisesse", contou.

Sua admiração pelo boxe - outra coincidência com Delon - o levou a papéis mais físicos do cinema policial e de aventuras (O homem do Rio, 1964). Também atuou em comédias junto às estrelas do momento, como Claudia Cardinale, Gina Lollobrigida, Catherine Deneuve e Sofía Loren.

Algumas cairam em seus braços e formaram um casal na vida real, como Ursula Andress e Laura Antonelli. Belmondo era conhecido por recusar que outra pessoa o substituísse nas lutas ou cenas perigosas de seus incontáveis papéis de policial ou bandido: Borsalino(1970), O magnífico (1973) o O profissional (1981).

De volta aos palcos 

Seu cinema decepcionou parte da crítica, que o imaginava em papéis mais profundos, embora ele afirmasse sem problemas: "Estou orgulhoso de ser uma estrela popular, não desdenho a aprovação do público".

E o público o recompensou generosamente. Durante mais de 20 anos, 48 de seus filmes superaram um milhão de ingressos, até o fracasso de O solitário (1987). "Eu já estava farto e o público também", confessou.

O sucesso voltou com Itinerário de um aventureiro (1988), de Claude Lelouch, um de seus melhores papéis, que rendeu um César do cinema francês, prêmio que, no entanto, ele se recusou a buscar.

Retornou com maturidade aos palcos, sua paixão da juventude, onde conheceu alguns de seus melhores amigos, como Jean-Pierre Marielle, Jean Rochefort e Pierre Vernier. Foi muito aplaudido em Kean e Cyrano, em seu parisiense Théâtre des Varietés.

Em 2001, se aposentou da atuação por questões de saúde, com exceção de um papel no filme Un homme et son chien (2008), a história de um idoso rejeitado pela sociedade.

O Festival de Cannes premiou sua carreira com uma Palma de Honra em 2011 e o Festival de Veneza com um Leão de Ouro.

Eternamente bronzeado, Bebel continuou chamando a atenção na imprensa. Após o divórcio de sua segunda esposa, a estrela Natty, teve uma relação com uma ex-modelo belga, de quem se separou em 2012.

Belmondo foi pai de quatro filhos: Patricia (falecida tragicamente), Florence, Paul e Stella, nascida quando o ator tinha 70 anos.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Uma imagem de provocar calafrios: acrobacia circense de Jean-Paul Belmondo em cima de uma tábua desafiando a vertigem da cidade espacial
    Uma imagem de provocar calafrios: acrobacia circense de Jean-Paul Belmondo em cima de uma tábua desafiando a vertigem da cidade espacial Foto: Cinemateca Brasileira/Divulgação
  • Jean-Paul Belmondo em Acossado, filme-manifesto da Nouvelle Vague
    Jean-Paul Belmondo em Acossado, filme-manifesto da Nouvelle Vague Foto: Divulgação
  • Jean-Paul Belmondo e Ana Karina em Pierrot le fou: espírito anárquico explosivo
    Jean-Paul Belmondo e Ana Karina em Pierrot le fou: espírito anárquico explosivo Foto: Divulgação
  • Jean Paul-Belmondo e Jean Seberg em cena do filme Acossado, do diretor Jean-Luc Godard
    Jean Paul-Belmondo e Jean Seberg em cena do filme Acossado, do diretor Jean-Luc Godard Foto: Cinefrance/Divulgação
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação