Música

Vencedor da maior premiação de piano do mundo se apresenta em Brasília

Bruce Liu venceu o 18º Concurso Internacional Chopin, e se apresenta em Brasília em recital gratuito nesta quinta-feira

Enquanto aguardava para subir ao palco para a etapa final do 18º Concurso Internacional Chopin, em outubro último, o canadense Bruce Liu tentava, rapidamente, pensar em maneiras novas de tocar as peças do compositor polonês. É um pensamento arriscado para um pianista prestes a enfrentar o júri mais rigoroso da história dos concursos de piano, mas Bruce, nascido em Paris, de família chinesa e criado no Canadá, gosta da diversidade e dos desafios. O resultado foi uma espontaneidade e um frescor, além do rigor técnico, que conquistaram o júri. "Eu estava me sentindo muito bem, já tinha conseguido ir para a final, estava feliz, estava preparado, já aliviado, e não pensava no resultado. Estava tão feliz, que acho que isso me relaxou", conta o músico, que teve apenas cinco minutos para ensaiar com a orquestra o concerto de Frédéric Chopin previsto para a prova.

O rapaz de 24 anos ficou em primeiro lugar na premiação mais importante do mundo do piano. Esse mesmo frescor, que ele atribui à diversidade cultural à qual foi exposto, mas, também, ao encontro com públicos diferentes, ele mostra na próxima quinta-feira, em Brasília. Bruce Liu tocará de graça, para convidados, no Teatro Poupex um programa inteiramente dedicado a Frédéric Chopin, o mais romântico e melancólico dos compositores europeus do século 19. No repertório, ele incluiu Rondó à la Mazur em Fá Maior, Op. 5 Balada em Fá Maior, Op. 38Sonata nº 2 em Si Bemol Menor, Op. 35, Andante Spianato e Grande Polonaise Brilhante em Mi Bemol Maior, Op. 22.

Para chegar ao nível técnico, melódico e harmônico oferecido aos brasilienses, Bruce conta que a melhor forma de estudar é não tocar Chopin. Foi com Beethoven e outros do mesmo naipe que ele treinou. "A razão mais simples para isso é que, quanto mais sólida é a base da pirâmide, mais alto podemos construir a casa", explica o pianista, que se apresentou no Rio de Janeiro com a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) e toca amanhã na Sala São Paulo.

Quando decidiu participar do concurso, Bruce já havia construído uma carreira importante no mundo da música, com apresentações com orquestras como a de Cleveland e das Américas e a Filarmônica de Israel. Também fora premiado em outros concursos, como os de Montreal, Tel Aviv, Sendai e Vizeu. Mas o Chopin é um marco. Realizado a cada cinco anos — seis no de 2021, por causa da pandemia —, a premiação conduzida pela Fryederik Chopin Institute, de Varsóvia, é a mais cobiçada entre jovens pianistas.

No entanto, Bruce quis esperar estar maduro para participar. "Era o bom momento, porque eu estava com 24 anos. Eu tenho medo do que poderia acontecer se eu ganhasse com 18 ou 17, era novo demais", diz. Trechos das provas do pianista foram lançados pela Deutsch Grammophon em um pequeno disco disponível nas plataformas de streaming com som e vídeo. Bruce conta que não participou da escolha, mas que gosta de observar o vídeo. "Olhando assim, encontro todos os meus problemas, nunca estou contente com todas as minhas performances", garante, lembrando que uma das metodologias de estudo que utilizou foi gravar a si mesmo para corrigir possíveis defeitos. Defeitos que só mesmo um pianista altamente treinado e perfeccionista perceberia. Em entrevista, o canadense conta como a música, a prática e o contato com a diversidade estão interligados de maneira visceral.

ENTREVISTA Bruce Liu

Como encontrar novas maneiras de tocar Chopin e todo o repertório erudito que vem sendo executado e gravado milhares de vezes ao longo dos séculos?

Acho que não é difícil porque não vivemos mais da mesma forma que há 50 ou 100 anos. A música é um espelho de nossa personalidade, vivemos em uma sociedade e em uma atmosfera diferentes. O que comemos hoje, a maneira como a tecnologia influencia a vida e a música, tudo isso é diferente. A música está ligada à vida e, quando a vida muda, a música muda com ela.

Você diz que o desafio de longas horas de estudo é não se entediar. Como você faz para isso não ocorrer?

O segredo é estar sempre de mente aberta. Eu nasci em Paris, sou de origem chinesa, cresci no Canadá. Tocar música é parecido com isso, é aceitar todo tipo de cultura. Eu aprendi a ter o espírito aberto, não há muitas barreiras para mim quando se trata de aprender alguma coisa.

A espontaneidade de sua apresentação contou pontos para ganhar o concurso. O que é a espontaneidade para você?

É também estar com o espírito aberto. No momento em que se bloqueia a arte, tudo fica perigoso. Não quer dizer que vou tocar de qualquer jeito, ser espontâneo é algo que é convincente e tem uma lógica clara. Há muito valor nessa lógica, mas não se pode ficar nessa lógica e se bloquear nela. É sempre uma descoberta e, para isso, não podemos parar nunca.

Chopin normalmente é compreendido como um compositor triste e melancólico, e você deixa claro que essa não é sua personalidade. Como interpretar bem uma composição de personalidade tão diferente da sua?

Não é bem uma questão de personalidade, mas de descobrir um lado dimensional da vida. Chopin era um ser humano, ele também ia a festas . Mesmo quando pensamos em melancolia, ela pode vir com todo tipo de emoção. Eu descobri esse lado da minha personalidade para entrar nessa dimensão e entender uma outra dimensão de Chopin e, a partir daí, encontrar um equilíbrio.

Apresentação de Bruce Liu

Quinta-feira (16/12), às 18h, no Teatro Poupex (Setor Militar Urbano). A entrada somente será autorizada com o convite pessoal nominal e intransferível emitido pela Embaixada da República da Polônia em Brasília.

 

ENTREVISTA Bruce Liu

Como encontrar novas maneiras de tocar Chopin e todo o repertório erudito que vem sendo executado e gravado milhares de vezes ao longo dos séculos?
Acho que não é difícil porque não vivemos mais da mesma forma que há 50 ou 100 anos. A música é um espelho de nossa personalidade, vivemos em uma sociedade e em uma atmosfera diferentes. O que comemos hoje, a maneira como a tecnologia influencia a vida e a música, tudo isso é diferente. A música está ligada à vida e, quando a vida muda, a música muda com ela.

Você diz que o desafio de longas horas de estudo é não se entediar. Como você faz para não se entediar?
O segredo é estar sempre de mente aberta. Eu nasci em Paris, sou de origem chinesa, cresci no Canadá. Tocar música é parecido com isso, é aceitar todo tipo de cultura. Eu aprendi a ter o espírito aberto, não há muitas barreiras para mim quando se trata de aprender alguma coisa.

A espontaneidade de sua apresentação contou pontos para ganhar o concurso. O que é a espontaneidade para você?
É também estar com o espírito aberto. No momento em que se bloqueia a arte, tudo fica perigoso. Não quer dizer que vou tocar de qualquer jeito, ser espontâneo é algo que é convincente e tem uma lógica clara. Há muito valor nessa lógica, mas não se pode ficar nessa lógica e se bloquear nela. É sempre uma descoberta e para isso não podemos parar nunca.

Chopin normalmente é compreendido como um compositor triste e melancólico e você deixa claro que essa não é sua personalidade. Como interpretar bem uma composição de personalidade tão diferente da sua?
Não é bem uma questão de personalidade, mas de descobrir um lado dimensional da vida. Chopin era um ser humano, ele também ia a festas, mesmo quando pensamos em melancolia, ela pode vir com todo tipo de emoção. Eu descobri esse lado da minha personalidade para entrar nessa dimensão e entender uma outra dimensão de Chopin e, a partir daí, encontrar um equilíbrio.