Jornal Correio Braziliense

Despedida

Uma despedida à altura do diretor Hugo Rodas

Diretor de teatro uruguaio faleceu na última quarta (13/4); velório reuniu diversos alunos e grandes nomes da cena artística local

 

*Ândrea Maelcher

A classe artística brasiliense se despediu, nesta quinta-feira (14/4), do diretor teatral uruguaio Hugo Rodas, que faleceu na última quarta (13/4) em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC), aos 82 anos. O velório era um misto de tristeza e alegria, uma celebração da vida de um ícone na arte, mas também uma joia de Brasília.

A homenagem lotou o Teatro Galpão, no Espaço Renato Russo, com atores de todas as idades, demonstrando o envolvimento de Rodas na formação de intérpretes locais e na cena teatral e cultural da cidade.

“O Hugo é um gigante. Um homem que se constituiu como um ser e artista global aqui em Brasília. E escolheu Brasília como seu lugar, sua visão de mundo partia daqui. Tanto que, apesar de uruguaio, de ser um homem de uma educação erudita vasta, ampla — poderia estar em São Paulo, Rio ou em qualquer outro lugar no mundo, Chile, como ele foi num dado momento — ele escolheu essa cidade para fazer daqui o alicerce da construção de sua visão artística e de mundo”, conta a atriz e parceira de Rodas, Iara Pietricovsky.

“Ele era um homem instigante, provocante, amoroso, violento. Ele queria que a gente entendesse que você tem que fazer, se comprometer, construir um território de amor e, a partir dele, lutar com todas as armas para a construção dessa estética, dessa ética da igualdade, de um país melhor, de uma cultura que seja de fato inspiradora e revolucionária, no sentido de permitir que as mudanças sérias se façam, que o novo venha”, completa a atriz.

O velório foi marcado por um clima de festa atípico para a ocasião, mas os parceiros e pupilos destacaram que o momento era um retrato da vida que o diretor teatral levou. André Araújo, membro da Agrupação Teatral A Macaca, último coletivo de Rodas, ressalta o valor que Hugo teve para a cidade e para a formação da cena cultural local.

“As pessoas viam ele como um ser diferente, um artista, uma pessoa com uma energia diferente, “mágica”. Por isso eu acho que o Hugo exerce essa atração, até mesmo em quem não é do teatro, e recebe tanto carinho da cidade. A cidade sente ele como algo da cidade”.

Rodas, que também foi professor do curso de artes cênicas na Universidade de Brasília (UnB), formou uma série de nomes de sucesso em seu rol de alunos. “Devo muito a ele, foi um dos sujeitos que me colocou na profissão. Vim hoje agradecer a ele e pedir desculpas pelo trabalho que eu dei”, diz o ator e humorista Jovane Nunes, da companhia Os Melhores do Mundo.

“Eu devo muito a ele, entrei na UnB em 1989. Quando fiz a prova de habilidade específica, ele estava na banca. Depois fui aluno por muito tempo, participei do Tucan, e depois sempre nos encontrando pela cidade”, rememora Jovane.

A mensagem que Hugo Rodas deixa para trás é o compromisso com a arte e o legado mais pungente foi presentear ao mundo atores tocados pela forma “hugorrodiana” de enxergar a vida. Durante todo o velório, uma fanfarra do coletivo A macaca embalou os presentes com músicas queridas pelo artista.

“Temos que continuar, ele cumpriu sua missão e a vida foi muito boa para ele, lembro dele sempre com felicidade. Tenho certeza que quando alguém errou, atravessou uma nota ali, ele falou assim ‘ya esta mal, ya esta mal’, como ele sempre fazia”, finaliza Jovane.

 

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira