Literatura

Olhar distópico de Max Telesca imagina um país semelhante ao Brasil

Em romance com lançamento marcado para este més. Max Telesca conta histórias que se passam em Lisarb, país fictício que tem muitas semelhanças com o Brasil dos tempos atuais

Ivone Belém Especial para o Correio
postado em 24/05/2022 00:01 / atualizado em 24/05/2022 10:45
Max Telesca faz romance distópico no qual imagina um país fictício -  (crédito:  Hilton/Divulgação)
Max Telesca faz romance distópico no qual imagina um país fictício - (crédito: Hilton/Divulgação)

No romance 2047 — A revolução dos dementes, segundo volume da trilogia de Max Telesca, qualquer semelhança com a vida real no Brasil não é mera coincidência. A começar por Lisarb, país fictício e distópico onde se desenvolve a trama e que foi apresentado no primeiro livro, intitulado 2038 — A instituição da cleptocracia num futuro não muito distante, lançado em 2016. A continuação da saga está ambientada num futuro próximo, mas alinhada com os tempos atuais.

Com a derrocada de um tal Partido Ético e Verdadeiro (PEV), o jornalista Alex Tedesco volta ao país para coordenar a campanha de Cairo Góes à Presidência da República e tentar tirar do poder o ensandecido Lair Montanaro, e ainda precisa lidar com a candidatura do seu antigo aliado, Servius Mórus. Uma epidemia espalha o vírus da estupidez, a Rened-47, e transforma as personagens atingidas em seres animalescos, conta o autor, que é advogado, tem 47 anos e é membro da Academia Brasiliense de Letras e presidente do Instituto de Popularização do Direito (Ipod).

2047 — A revolução dos dementes

De Max Telesca. Disponível em pré-venda na Amazon. Lançamento no dia 31 de maio, às 19h, no restaurante Fuego (112 Sul, Bloco A, loja 3). R$ 69.

Em Cem anos de solidão, Gabriel García Márquez inventou a cidade de Macondo, e você apresentou ao leitor um país chamado Lisarb, no seu primeiro livro, 2038 — a instituição da cleptocracia num futuro não muito distante. Agora você vem com 2047. A cidade fictícia de Gabo é uma fonte de inspiração para você?

Com certeza, o realismo mágico dos autores latino-americanos são influências, especialmente neste segundo volume da trilogia. Cem anos de solidão é uma referência obrigatória. Mas não apenas este autor. Quando me isolei para terminar o 2047, busquei a releitura de alguns clássicos da literatura brasileira e universal, como Incidente em Antares (do meu conterrâneo gaúcho Érico Veríssimo), A peste (Albert Camus), Por quem os sinos dobram (Ernest Hemingway), e, obviamente, 1984A revolução dos bichos (George Orwell). Eu ainda tentei criar alguns diálogos na estruturação de um conto que é uma obra-prima do Caio Fernando Abreu: Linda, uma história horrível. Para as partes finais, quando o personagem Alex Tedesco vai para o Estado Celeste, de carro, tem uma passagem que eu gosto muito, bastante lírica, poesia em prosa, que eu tentei ambientar à maneira Jack Kerouac.

Suas obras são de ficção e qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real não é mera coincidência. Motivação não faltou, não é?

Partiu de uma angústia muito grande com a realidade. Eu costumo dizer que 2038 nasceu de várias mortes, porque foi escrito por um Max Telesca com 36 anos. É o meu olhar do que é a nossa política, e o primeiro traz essa certa desilusão com aquilo que a gente acreditava de melhor na política, que poderia ser algo transformador. Mas essa transformação não é e não foi como a gente gostaria que fosse.

E 2047?

Quando eu lancei o primeiro livro da saga, o 2038, na Feira do Livro de Porto Alegre, em 2016, um repórter disse que, ao final da leitura do livro, havia sentido necessidade de ler mais sobre aquela história, como se o romance não tivesse terminado. Eu havia escutado este sentimento de outras pessoas, desde o lançamento em agosto daquele ano. Nessa ocasião nasceu a ideia, já gestada, mas ainda não confirmada, de transformar o 2038 no primeiro romance de uma trilogia. Com o tempo, com a observação do que vem ocorrendo na política, com a crise de representatividade, pensei num fio condutor que fosse uma abordagem sobre aquilo que considero o maior de todos os problemas do sistema político: a instrumentalização da institucionalidade democrática para a obtenção de interesses privados, mas a realidade real me trouxe uma aflição maior.

 


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