Festival

Criolo, Jorge Aragão e mais tocam no Favela Sounds neste final de semana

Festival Favela Sounds ocupa a praça do Museu Nacional da República com a voz da periferia e atrações como Jorge Aragão, Criolo, Rebecca, Ruxell e Rachel Reis

Pedro Ibarra
postado em 29/07/2022 06:00
 (crédito:  Helder Fruteira/Divulgação)
(crédito: Helder Fruteira/Divulgação)

O início do fim de semana é de música e cultura da periferia no centro de Brasília. O festival Favela Sounds traz, para a praça do Museu Nacional da República, 22 atrações de diversos gêneros e estilos musicais distintos. Encabeçados pelo rapper Criolo e o sambista Jorge Aragão, o evento promete movimentar a noite de hoje e a tarde e a noite de amanhã. O favela Sounds é gratuito, basta retirar no site do Sympla.

O Favela Sounds começou as atividades em junho com os encontros virtuais direcionados à participação social de jovens do LAB Meu Lugar é o Mundo. A partir de 18 de julho, foram ministradas oficinas récnicas para o Socioeducativo com 20 horas aula voltadas à reinserção social de jovens e inspirações para a entrada deles no mercado criativo. Na noite de ontem, o cantor FBC se apresentou no Conic no evento Favela Talks, junto com show cases de artistas da cidade. O evento culmina no festival, que a própria organização intitulou de O Baile. Além do sambista e do rapper, nomes como a funkeira Rebeca, a nova estrela do MPB Rachel Reis, o produtor em alta Ruxell e as brasilienses Dj Donna e Realleza estão na lista de atrações.

O tema deste ano é Cuidado e participação: Favela Sounds é pertencimento. A frase fundamenta todas as atividades e escolha das atrações que sobem ao palco hoje e amanhã. "É necessário que exista um olhar ainda para além, onde se enxerga e nada se encurta, pois existe o agora de criação em poesia e sonoridades que fazem das favelas um celeiro próspero da arte do futuro", pontua Criolo.

Para os artistas da lineup tocarem  no Favela Sounds é preciso ir além da projeção de um grande palco em Brasília. "Favela Sounds é um festival de cultura de periferia, muito grande aqui no Brasil e fora também. E, além da cultura, envolve muito outros projetos e ações profissionalizantes para jovens líderes da favela. O que é algo incrível e muito necessário, porque muito além da música, leva para eles a oportunidade que a maioria desses jovens de periferia precisam", aponta Jorge Aragão. "Existem muitos talentos, em diversas áreas, na favela. É tudo uma questão de oportunidade", completa.

"É muito gratificante ver eventos como esse favorecendo o som da favela. Me sinto honrado em fazer parte disso e poder representar tantos homens e mulheres pretas. E quero ser convidado sempre que possível", diz Jorge Aragão, que quer aproveitar todas as oportunidades que tiver e buscará cada vez fugir dos rótulos. "Tenho muita coisa ainda para viver e quero muito poder aproveitar enquanto estou aqui. Tenho certeza que vou desconstruir alguns mitos que rolam no meu segmento. Eu não vejo fronteiras. Se me chamarem de sambista, direi que sou pagodeiro, se me chamarem de pagodeiro, direi que sou sambista", fecha o músico.

Ao Correio, Criolo e Jorge Aragão também adiantam o que têm preparado para o público de Brasília. "Subir ao palco, e numa apresentação num festival como o Favela Sounds, é um marco importante para mim. Por isso estamos preparando algo muito especial. As expectativas e os sentimentos, são os melhores possíveis!", diz Aragão. Criolo menciona a própria ancestralidade. "Muito trabalho, muita emoção e a força da ancestralidade nas vozes dos tambores e seus mestres, muita honra para mim ter a oportunidade de subir ao palco com estes músicos e mestres incríveis da nossa cultura do Brasil", diz o rapper que se aventura em diversos gêneros. "Espero que todos gostem, porque é importante para todos nós ter um pouco dessa alegria que a música nos traz", conclui o sambista.

Três perguntas para Criolo

Na sua opinião, qual o som da favela?

Tudo que é vanguarda é provocação e experimentação, não existe medo na criação e a emoção de descrever nossa realidade, é um elemento tão sincero e cortante que não passa despercebido.

Você caminha por diversos lugares da música brasileira com maestria. Como é encontrar o próprio lugar em meio a este trânsito? Será que existe lugar?

A música tridimensional neste plano que conhecemos, mesmo que ainda pesado, nos leva a outras outros planos e dimensões, o trânsito é infinito. Minha existência é a de aprendizado, a música brasileira é muito generosa e acredito que ter crescido num barraco de favela, construída com um pedaço de pau, pano e lona por sete anos fez a diferença. A música que vinha dos outros barracos com pessoas incríveis de vários cantos do nosso amado Brasil fez com que música de todos os cantos ficassem guardadas na memória, e isso com a força das oportunidades vêm sendo acionadas.

Você lançou um novo álbum, o Sobre Viver, que tem um nome muito significativo para os tempos em que vivemos. Como é sobreviver e falar sobre viver no Brasil atualmente?

Dolorosa, mas necessária. Muitos falam que é bom viver a vida, isso é genuíno, mas muitos não se dão conta que a maioria do povo não vive, apenas sobrevive e isso é angustiante e cruel.

Três perguntas para Jorge Aragão 

 O sambista Jorge Aragão é uma  das atrações do  Favela Sound
O sambista Jorge Aragão é uma das atrações do Favela Sound (foto: Yves Lohan/Divulgação)

Na sua opinião, qual o som da favela?

Sem dúvida nenhuma, o som da favela é o samba, o pagode, o funk... Mas também cabem outros ritmos
como o sertanejo e o pop, por exemplo, que estão crescendo muito. Com certeza, a música que mais predomina na favela é a alegria.

O samba começou na favela e conquistou o Brasil e o mundo? Qual a importância de o samba continuar subindo a favela?

O samba para mim é como se eu tivesse só a carne e alguém viesse colando a minha pele de cima a baixo. Ele é a maneira como eu me apresento hoje para o mundo. O samba é minha identidade, o samba é meu sorriso, o samba é minha letra... Só não vou dizer que o samba é o ar que eu respiro porque seria muito piegas (risos). Sua importância, na favela ou em qualquer lugar, é a mesma que dou à minha raça. Ele é primordial. E, acima de tudo, minha defesa também.

Você passou por momentos difíceis nos últimos anos. Como é estar de volta aos palcos? Qual a sensação de ouvir lá de cima o público entoando os seus versos?

Primeiro, a gratidão por poder ainda poder subir no palco e tocar tantos corações através da minha arte. E, depois, é maravilhoso! É aquela história de que o artista tem que ir onde o povo está. E poder proporcionar momentos marcantes para o povo, seja ele de qualquer lugar, por meio da minha arte, é melhor coisa da vida. Tenho muita coisa ainda para viver e quero muito poder aproveitar, enquanto estou aqui.Tenho certeza que vou desconstruir alguns mitos que rolam no meu segmento. Eu não vejo fronteiras. Se me chamarem de sambista, direi que sou pagodeiro, se me chamarem de pagodeiro, direi que sou sambista.

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Até chegar é de graça

O Favela Sounds quer lotar o Museu Nacional da República. Para isso, oferece ônibus gratuitos para levar e buscar o público da maioria das Regiões Administrativas do DF. Os pontos são: Taguatinga (Praça do Relógio), Samambaia (Estação Furnas), Gama (Bezerrão), Sobradinho (Estádio Augustinho Lima), Planaltina (Rodoviária de Planaltina), Ceilândia (Praça do Cidadão), São Sebastião (Skate Park), Valparaíso de Goiás (Praça da Etapa A), Santa Maria (Administração Regional) e Recanto das Emas (Administração Regional).

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