Palestra

Juca Kfouri une cultura e futebol no Diálogos contemporâneos

Juca Kfouri faz uma análise sobre o Brasil na palestra História, cultura e futebol, que inaugura a série de conferências literárias Diálogos contemporâneos, no Museu Nacional da República

Pedro Ibarra
postado em 19/09/2022 06:18 / atualizado em 19/09/2022 06:19
 (crédito: Renato Parada/Divulgação)
(crédito: Renato Parada/Divulgação)

O projeto Diálogos Contemporâneos está de volta com uma série de discussões sobre temas urgentes do Brasil. O jornalista Juca Kfouri  abre o debate com a palestra História, cultura e futebol.  Kfouri utiliza o recorte futebolístico como ponto de partida do entendimento da história brasileira contemporânea. A conversa será no Museu Nacional da República e terá início às 19h. A entrada é franca mediante a retirada de ingressos uma hora antes do início.

Os eventos ocorrerão, às segundas e terças, sempre às 19h, de hoje (19/9) até 25 de maio de 2023. Além de Juca, Patrícia Campos Mello, Jurema Werneck, Jorge Caldeira, Zélia Duncan, Marcelo Rubens Paiva, Itamar Vieira Jr. e Heloísa Starling serão convidados do evento. Sempre dialogando no sentido de pensar e repensar a cultura nacional.

A iniciativa é da Associação Amigos do Cinema e da Cultura (AACIC), que tem buscado abrir um canal para discussão sobre questões essenciais da cultura do país. A Associação está preocupada com a forma como o governo tem tratado o tema e está na busca de abrir mentes. O projeto "propõe debater com o público questões urgentes e temerárias, como a guerra cultural e o negacionismo científico, propagados por aqueles que se interessam apenas pelo obscurantismo e querem revisar e reinterpretar ideologicamente o passado segundo seus interesses de classe", afirma texto da produção do evento.

Com a Copa do Mundo batendo à porta e os olhos do Brasil voltados para a eleição, Juca abre os Diálogos Contemporâneos tentando entender como o povo brasileiro está no meio desse turbilhão. Depois da palestra, o jornalista autografará o livro Confesso que perdi (Cia das Letras). E, nesta entrevista ao Correio, feita por e-mail, Juca fala sobre futebol, banalização do jornalismo esportivo, política, sequestro da camisa amarela da Seleção Brasileira e até sobre a maneira como concilia o exercício crítico do jornalismo e a paixão  pelo Corinthians, o time do coração.

Entrevista // Juca Kfouri

Como você entende a relação primária entre história, cultura e futebol no Brasil? Qual a importância do povo nessa relação?

O povo é o protagonista dessa relação. Foi do povo que nasceu a escola brasileira de jogar futebol, é ele quem se apropriou das metáforas do futebol em nosso dia a dia e faz das conquistas fator de autoestima.

Como futebol e cultura vão além do pão e circo? Futebol é apenas um jogo?

É muito mais que um jogo e assim como a cultura é fator de mobilização, não de alienação.

Você está vindo palestrar na capital do país, uma cidade com um estádio para 70 mil pessoas, mas com futebol incipiente. Falta futebol na capital do país do futebol? É possível jogar redondo no quadradinho?

O Mané Garrincha é monumento à falta de noção que contaminou o país na Copa de 2014.

Existem os que entendem que política e futebol ou política e esporte não se misturam. A alienação política nos esportes é boa ou é ruim?

Tudo se mistura com política, até o jeito de tomar o café da manhã. Faz o pior tipo de política quem diz que futebol e política não se misturam.

O Brasil perdeu a amarelinha? Ela tem dono? Com qual camisa e qual bandeira vamos torcer para o Brasil na Copa do Mundo?

Ninguém é dono da amarelinha além do povo brasileiro, assim como da bandeira e do hino nacionais. Permitir que alguém a usurpe é erro grave. Não podemos permitir que ninguém nos roube aquilo que temos de mais íntimo.

Como vê a relação dos jogadores de futebol e dos atletas de outros esportes em geral com a política? Você não acha que os jogadores deveriam assumir uma posição crítica, por exemplo, em relação ao desmatamento da Amazônia, que afetará a sobrevivência de todos?

Sem a menor dúvida, deveriam. Se não assumem debite às falhas da política educacional e ao medo de retaliação.

Como percebe a mistura de entretenimento com jornalismo esportivo? O humor não é saudável no esporte?

O humor é sempre saudável. Só não pode substituir a informação, direito do cidadão-torcedor.

Você acha que o Brasil corre perigo neste momento? O que é urgente fazer pelo Brasil?

Votar em quem não ameaça nossa jovem democracia. Em quem não nega a vacina, a crise ambiental, a redondeza da Terra. Não votar em armamentista, negacionista, em quem faz discurso de ódio, se considera imbrochável, ou queira fazer do Brasil uma Hungria.

Você acha que o Brasil tem condições de brigar pelo título de campeão mundial de futebol ou seremos novamente coadjuvantes na próxima Copa?

Sempre tem, embora não seja o favorito desta vez, apenas um dos favoritos.

Como é que você consegue conciliar o fato de ser corinthiano e ter uma postura crítica de jornalista? Como é possível torcer sem distorcer?

Basta separar o coração da cabeça na hora em que está exercendo a profissão.

Ainda sobre o Corinthians. O time foi um marco da luta pela democracia durante a ditadura. Faltam movimentos como esse nos dias atuais enquanto sobram comentários a favor de movimentos de ultra-direita. Como você vê esse movimento dos jogadores?

Atletas, em regra, são muito voltados para o próprio umbigo, para as competições. Têm carreiras curtas, se preocupam mais com seus resultados. No mundo todo é assim. No Brasil, a maioria deles vêm de extratos excluídos, reproduzem o discurso autoritário, temem perder o que amealharam e repetem o discurso falso da mer itocracia.


História, cultura e futebol - Palestra com Juca Kfouri, hoje, às 19h

 

 

Programação do Diálogos contemporâneos

26 de setembro segunda-feira, 19h Palestrante

Patrícia Campos Melo Tema: A comunicação no Brasil: a mentira como ferramenta de desinformação

27 de setembro, terça-feira, 19h

Palestrante: Jurema Werneck. Tema: Mulheres negras e cultura midiática.

3 de outubro, segunda-feira, 19h

Palestrante: Jorge Caldeira. A história da riqueza no Brasil

17 de outubro, segunda-feira, 19h

Palestrante: Zélia Duncan. Tema: A afetividade na tradição musical e na literatura brasileira

18 de outubro, terça-feira, 19h

Palestrante: Marcelo Rubens Paiva. Tema: Memória e literatura.

24 de outubro, segunda-feira, 19h

Palestrante: Itamar Vieira Jr. Tema: O povo negro e a formação da identidade brasileira.

25 de outubro, terça-feira, 19h 

Palestrante: Heloísa Starling. Tema: Brasil: a outra independência.

DIÁLOGOS CONTEMPORÂNEOS

Local: Museu Nacional da República (Complexo Cultural da República, próximo à Rodoviária do Plano Piloto). Datas: de 19 de setembro a 25 de outubro. Horário: 19h. Entrada franca (distribuição de ingressos uma hora antes do início da palestra)

 

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