Tradição

Aruc recebe escritura de área para quadra ao som de muito samba

A agremiação celebra hoje o recebimento da escritura definitiva da área que ocupa no Cruzeiro, apresenta o samba enredo para o carnaval de 2023 e mistura tudo com feijoada

Irlam Rocha Lima
postado em 03/12/2022 00:01 / atualizado em 03/12/2022 10:30
 (crédito:  Arquivo da ARUC)
(crédito: Arquivo da ARUC)

Os 31 títulos conquistados nos desfiles das escolas de samba fizeram da Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc) a campeoníssima do carnaval de Brasília. A coleção de troféus reunidos numa sala na sede da entidade no Cruzeiro Velho, que comprovam essa supremacia, é motivo de orgulho dos associados da Azul e Branco.

Esse sentimento, possivelmente, será superado por outro, relacionado ao presente que a instituição receberá no começo da tarde deste sábado (3/12): a entrega da escritura pública de Concessão de Direito Real, que dispõe sobre a regularização de ocupações históricas de associações sem fins lucrativos em unidades da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap).

De acordo com a assessoria de imprensa da Aruc, o documento será entregue pelo governador Ibaneis Rocha, em meio à celebração dos 61 anos da instituição. A festa começará ao meio dia com a apresentação de um grupo musical da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, seguido por show do cantor e compositor Alex Silva e banda.

No encerramento, haverá uma roda de samba (comemorativa do Dia do Samba), quando a Aruc fará o lançamento do samba enredo para o carnaval de 2023, com direito a desfile na quadra do mestre sala e porta-bandeira e passistas, embalados pela Bateria Carcará; e a tradicional feijoada.

A Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro foi fundada em 21 de outubro de 1961 por um grupo de moradores do Gavião, em sua maioria servidores públicos transferidos do Rio de Janeiro para Brasília. Estavam lançadas as bases para a criação da escola de samba. Após as dificuldades iniciais, deu seus primeiros passos para estabelecer a hegemonia no carnaval, com a conquista de títulos em cinco anos consecutivos, desbancando a até então maior, a Alvorada em Ritmo.

Batizada por Natal da Portela, a Aruc se tornou afilhada da tradicional escola de samba carioca. À época, o presidente era Nilton Sabino, que teve como sucessor Hélio dos Santos. Foi ele quem criou o Departamento de Esportes, que passou a contar com equipes de futebol, futsal e handebol. O atual presidente é o professor de história Rafael Fernandes.

Entrevista // Rafael Fernandes —Presidente da Aruc

Vem de quando sua relação com a Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro?

Eu sou morador do Cruzeiro e era torcedor de arquibancada da Aruc, até que em 2000 fui fazer minha dissertação final do curso de história e comecei a visitar o acervo da escola. Depois, criei o primeiro site da Aruc na internet e a diretoria me convidou para participar mais em 2002. Desde então, não me afastei mais. Fui diretor de cultura por 10 anos, fiz projetos, escrevi livros e em 2020 fui eleito presidente.

Que cargos ocupou antes de se tornar presidente da escola?

Fui diretor de cultura 2004/2014 e diretor administrativo 2018/2020.

Qual a contribuição acredita ter dado a esta instituição brasiliense enquanto presidente?

Nossa gestão tem buscado equacionar a situação financeira da entidade, bem como a nova regularização do terreno, que permita a viabilidade econômica da instituição. Queremos entregar uma Aruc melhor do que recebemos. Sabemos que, por conta da situação do terreno, a área sofreu com a falta de manutenção e isto não foi culpa das gestões anteriores, mas queremos deixar a Aruc em melhores condições para o futuro.

Atribui que importância à Azul e Branco para a cultura popular de Brasília?

A Aruc é uma das mais antigas agremiações da cidade, pioneira no carnaval e na relação com sua comunidade. É um espaço de resistência da cultura popular na cidade, dado que o samba é um ritmo marcadamente negro e a Aruc é sua maior referência.

A regularização da área ocupada é o melhor presente que a Aruc poderia receber nas comemorações dos 61 anos?

Sem dúvidas, pois a atual condição do terreno impede os devidos investimentos para manutenção da área. A Aruc correria o risco de se tornar inviável com um modelo onde não pode manter um quadro de associados ou receber recursos da iniciativa privada. Com a regularização pela Terracap, poderemos desenvolver a área como o Clube de Vizinhança que o Cruzeiro tanto cobra há tempos.

Há da sua parte muita expectativa em relação ao retorno do desfile das escolas de samba no carnaval de 2023?

Este é um desejo muito grande, e temos recebido sinais do GDF, por meio da Secretaria de Cultura que, neste ano, promoveu a Escola de Carnaval como forma de atualizar e mobilizar a cadeia produtiva das escolas de samba. Oito anos foi tempo demais e não podemos chegar a nove. Acreditamos no compromisso da atual gestão, com o secretário Bartolomeu Rodrigues e a subsecretaria Sol Montes.

Caso isso ocorra, o que vai representar para o samba no Distrito Federal?

Um renascimento. As escolas de samba do DF vão começar praticamente do zero, pois a comunidade se afastou, fantasias se deterioram, alegorias se perderam. Teremos de reconstruir tudo de novo, tanto do ponto de vista material quanto de pessoas. Precisamos trazer aquela comunidade que desfilava conosco de volta.

A Aruc vem se preparando de que forma para essa retomada?

Temos trabalhado com muito pé no chão. O lançamento do enredo neste sábado é o primeiro passo. Temos um planejamento, mas tudo só será efetivado quando tivermos o sinal verde do GDF. Antes disso não faremos gastos ou compromissos. No momento que houver a confirmação, o planejamento passa para a realização.

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  • A Aruc coloca o bloco na avenida em 2006: sequência de 31  vitórias
    A Aruc coloca o bloco na avenida em 2006: sequência de 31 vitórias Foto: Fotos: Arquivo da ARUC
  • A ala da Velha Guarda da Aruc, um dos destaques da agremiação do Cruzeiro
    A ala da Velha Guarda da Aruc, um dos destaques da agremiação do Cruzeiro Foto: Arquivo da Aruc
  • Rafael Fernandes,  presidente da Aruc
    Rafael Fernandes, presidente da Aruc Foto: Aruc/Divulgação

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