Teatro

Festival de Curitiba dá palco às pessoas que não têm voz no domingo (2/4)

No último dia da cobertura do Correio no Festival de Curitiba, assuntos pertinentes e pouco falado sob a luz dos holofotes

Pedro Ibarra
postado em 03/04/2023 16:19 / atualizado em 03/04/2023 16:23
 (crédito: Annelize Tozetto/Divulgação)
(crédito: Annelize Tozetto/Divulgação)

Curitiba - Os diversos protagonismos ocupam os palcos do Festival de Curitiba. Desde atores com síndrome de Down em Hamlet, peça da abertura do evento, passando por vários pontos do espectro da vasta diversidade. No domingo (2/4), que fechou a primeira semana completa do evento, a ideia de dar espaço para um pouco de tudo no palco mais uma vez foi bem executada.

No último dia de cobertura do Correio no Festival, o etarismo, o envelhecimento e as histórias pouco contadas da comunidade trans foram temáticas. Em duas das mais elogiadas peças desta edição, foi possível rir e se emocionar e ter mais uma prova da potência das artes cênicas com o público e atores.

A beleza e a dureza de envelhecer

Intimidade indecente é uma dessas peças que já conquistou multidões e que esteve em cartaz nos principais teatros do país, mas que não para de mostrar que tem apelo com o grande público. A apresentação estreou às 16h do domingo para um Guairão lotado e mesmo sendo um espetáculo que se ambienta em um curto espaço foi capaz de emocionar mais de 2 mil pessoas ali presentes.

A peça, escrita por Leilah Assumpção e dirigida por Guilherme Leme Garcia, apresenta um casal, formado por Max Caruso e Eliane Giardini, em crise. Eles passam por uma grande ruptura durante passagens de tempos se reencontram para colocar o assunto em dia.

Uma história leve com uma mensagem importante. Visto que não é apenas uma comédia romântica simples, a peça envolve reflexões sobre como as pessoas mudam com o tempo e como o envelhecimento, apesar de as vezes cômico, é cruel, não apenas fisicamente, mas também socialmente para homens e mulheres. De tesão a solidão, a dramaturgia discute a Intimidade indecente não só deste casal, mas de um universo de pessoas reais e existentes.

O maior destaque da peça fica na conta dos atores. Tanto Eliane quanto Max estão muito entrosados em cena e com um tempo muito apurado, tanto para os momentos cômicos, quanto para pesar o clima e incluir o drama. É uma história que faz rir e chorar, mas, sobretudo, pensar e criar empatia por uma situação que não só é natural como é inevitável: amar e envelhecer.

Transcestralidade

Uma história inspirada em fatos reais sobre a primeira travesti a abrir uma casa de acolhimento para outras travestis e a primeira política publica direcionada ao cuidado e tratamento de pessoas portadoras do vírus HIV vira um musical em Brenda Lee e o palácio das princesas. O espetáculo fez a estreia do novo elenco e a primeira apresentação em um palco fora de São Paulo neste Festival de Curitiba.

A peça que teve a intérprete de Brenda Lee, Verónica Valenttino, como a primeira travesti a vencer o prêmio Shell de Melhor atriz. Mostra de forma bem conduzida e bem humorada como foi a luta desta mulher trans para conseguir o básico para pessoas que nem isso tinham. Narrativas, infelizmente corriqueiras, de abandono ganham bonitas músicas e acolhimento em um palco cheio de glitter e luzes que, assim como a luta pelos direitos dos transsexuais, parece estar sempre em construção.

Brenda Lee é uma figura muito importante para a história da luta pelos direitos LGBTQIA+ no Brasil. Porém, assim como tantas outras, a história dela é pouco falada e documentada. A peça é fruto de um intenso estudo para dar espaço a uma pessoa que nunca teve na sociedade, mas que sempre dividiu as migalhas que sobravam com várias outras que estavam ao seu redor às vezes mais necessitadas. Uma jornada que dói e emociona.

A peça reitera a vontade do festival de criar espaços de diversidade e representatividade. “Não estão acostumados a ver corpos como os nossos nesses lugares”, disse Verónica Valenttino na discussão pós espetáculo. Por isso em uma das apresentações serão liberados ingressos gratuitos para pessoas trans que comparecerem ao teatro. Brenda Lee começou uma luta que fica de legado e o Núcleo Experimental, responsável pela apresentação, está só dando continuidade a um desafio ainda distante de acabar.

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