Música

Wanderleia lança álbum com músicas em ritmo de chorinho

Musa da Jovem Guarda surpreende e grava álbum exclusivamente com composições do primeiro gênero da música popular brasileira

Correio Braziliense
postado em 31/05/2023 10:09 / atualizado em 31/05/2023 10:14
 (crédito:  Ione Candengue/Divulgação)
(crédito: Ione Candengue/Divulgação)

A Jovem Guarda, movimento marcante na segunda metade da década de 1960, influenciado pelo iê iê iê dos Beatles, mesclava música, moda e comportamento. Na prática era um programa, apresentado pela TV Record, nas tardes de domingo, comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.

Com o fim da histórica atração musical, Wanderléa direcionou a carreira para outros projetos que nada tinham a ver com canções como Ternura, Prova de fogo e Pare o casamento — sucessos das jovens tardes de domingo.

No começo dos anos 1970, a cantora lançou um compacto, produzido por Nelson Motta, que trouxe como destaque Chuva, suor e cerveja, frevo de Caetano Veloso, de quem ela se aproximou quando o visitou em Londres, onde o artista baiano estava exilado.

Depois vieram dois LPs, intitulados Vamos que eu já vou e Mais que paixão, com produção de Egberto Gismonti. Desde então, Wanderléa lançou 18 discos. No mais recente, que acaba de chegar às plataformas digitais, via Selo Sesc, ela volta a surpreender, ao investir num estilo o qual não se imaginava que fosse objeto do seu interesse: o choro — tido como a matriz da música popular brasileira.

Wanderléa, porém, deixa claro que é ligada a esse gênero musical há muito tempo, ao lembrar que, no início de sua carreira, foi intérprete de choro em programas da Rádio Mayrink Veiga, acompanhada pelo  Regional de Canhoto. Ao gravar Wanderléa Canta Choros diz que fez um duplo movimento: voltar às suas origens e realizar seu projeto de valorização do choro.

O álbum tem direção e produção musical de Mário Gil e direção artística de Luiz Nogueira. A pesquisa foi feita por Roberta Valente, enquanto Lalo Califórnia cuidou da mixagem. A cantora é acompanhada por Zé Babeiro (violão 7 cordas), Alessandro Penezzi (violão 6 cordas), Milton de Mori (bandolim), Fabrício Rossi (cavaquinho), João Paleto Ribeiro (clarinete), Roberto Valente (pandeiro) e Douglas Alonso (percussão).

Para compor o repertório foram selecionados clássicos do chorinho como Carinhoso (Pixinguinha) Brasileirinho, Delicado e Pedacinhos do céu (Waldir Azevedo), Apanhei-te, cavaquinho (Enesto Nazareth, Darci de Oliveira e Benedito Lacerda), O que vier eu traço (Alvaiade e Zé Maria) e Doce melodia (Abel Ferreira e Luiz Antônio).

Da lista fazem parte também as não menos importantes Nova ilusão (Zé Menezes e Luiz Bitencourt), Galo Garnizé (Luiz Gonzaga, Antônio Almeida e Miguel Lima), Uva de caminhão (Assis Valente) e Acariciando (Abel Ferreira e Lourival Faissal). Há, ainda, Um chorinho para Wandeca, que Douglas Germano e João Paleto fizeram para a cantora.

"(Wanderléa se entrega, com dedicação e conhecimento, a esse gênero marcado por mistura entre o erudito e o popular e pela genialidade de seus instrumentistas na criação e execução das composições", destaca Danilo Santos Miranda, diretor do Sesc São Paulo.

 

Entrevista//Wanderleia

 

Que avaliação faz de sua trajetória artística?

Bem, acho uma trajetória que eu só tenho que agradecer. Uma trajetória de sucesso. Comecei minha carreira artística muito jovem, né? E ser relembrada até hoje, com carinho por tantos anos, lotando as salas de espetáculo, recebendo o carinho de um público de tantas gerações diferentes, né? Ainda mais numa época em que não tinha redes sociais, era somente através das revistas, jornais, TV e do rádio, que foi tão importante. Então ser relembrada até hoje com tanto carinho, com pessoas cantando as minhas músicas, me reverenciando, isso é só motivo de muita, muita alegria. Eu agradeço demais esse público querido que me acompanha até hoje com tanto amor. E eu agradeço, muito comovida, sempre, sempre, sempre.

 

Atribui que importância à Jovem Guarda, movimento que liderou com Roberto e Erasmo Carlos?

Eu considero a Jovem Guarda um estado de espírito e me comovo muito de ter participado desse movimento com o Roberto e Erasmo. De estarmos juntos construindo uma coisa tão bonita. O jovem ansiava por uma liberdade de ser, de existir, um desejo de fazer, de sentir, de atuar de uma forma diferente, contestando o comportamento austero, prepotente, às vezes até agressivo. Imperativo mesmo, né? De gente naquela época. Jovem queria uma própria identidade e através da nossa atuação do nosso som, da nossa música, aquela ousadia na forma de ser, de se vestir, de dançar, buscando uma uma comunicação própria, através das gírias e ostentando essas excentricidades juvenis completamente inusitadas, até então, né? Aquilo que chamou muita atenção. Impactou muito a sociedade, estimulando uma adesão popular expansiva, expandindo vários tópicos do processo criativo e econômico brasileiro, com os discos que começaram a ser muito vendidos, a indústria têxtil, as os magazines, os jornais, todos impulsionados pela aquela expressão, pela exigência daquele público jovem, rebelde, sedento de transformações, né? Aquilo foi muito, muito forte naquele momento, foi um sucesso estrondoso, nunca acontecido no Brasil.

 

Como vê a experiência do projeto que desenvolveu com a obra de Egberto Gismonti?

Com Egberto foi uma experiência maravilhosa. Ele amadureceu, me amadureceu muito? E me proporcionou uma segurança musical que até então eu não tinha. Eu adoro o trabalho que eu fiz com o Egberto, o disco que ele produziu, o Vamos Que Eu Já Vou. E o Mais que paixão também, né? Porque ele ficava num estúdio gravando e eu lá no meu - nós gravamos no Odeon, em salas separadas. Era o Renato Correia que dirigia o Mais Que Paixão, mas era o Egberto que comandava a banda, né? Que estimulava os arranjos. Ele é sempre muito querido, muito amado. Nossa relação é muito bonita até hoje.

 

O que a levou a gravar um disco de choros?

O disco conta com a participação de vários músicos maravilhosos, inclusive com Hamilton de Holanda. É um disco com a produção musical Mário Gil, direção executiva do Luiz Nogueira, que foi a pessoa que levou o projeto para o Danilo Miranda, diretor do SESC São Paulo e que se encantou e nos proporcionou a possibilidade de realizar esse disco. Tem a edição e a mixagem do meu marido Lalo Califórnia, que tem muito bom gosto, que me deixa muito feliz, é meu companheiro de todos os momentos, me estimula a fazer cada vez mais coisas diferentes. Minhas filhas, Yasmim e a Jadde, que participaram. A Yasmim fez a arte da capa, a Jadde está acompanhando tudo, fazendo a direção administrativa de todo o disco. Tive também a Roberta Valente me ajudando a escolher o repertório. Enfim, eu fui cercada de mimos, de companheirismo, de amizade, de carinho, de amor por todo lado. Só podia resultar nesse disco feliz, maravilhoso. Tô muito, muito, muito, muito encantada com esse trabalho. Muito obrigada a todos que participaram e obrigada a você pela oportunidade de falar a respeito da continuidade do meu trabalho, continuidade da minha arte.

 

Vai apresentar o show com as músicas do álbum somente em São Paulo, ou pretende sair em turnê pelo país?

Sim, vou fazer dias 20 e 21 de maio aqui em São Paulo, no Sesc Pinheiros e 26 vou fazer no Sesc de Santos. Espero que o público todo goste desse trabalho, que é um trabalho muito gostoso, porque é com regional grande, enorme, músicas maravilhosas. É um gênero muito, muito brasileiro, eu acho que o clássico gênero brasileiro. Essa é minha contribuição para os jovens atuais, os dos novos chorões.

 

Ter um choro em sua homenagem tem que representatividade?

O mais inusitado nesse disco de choros é uma música que foi feita pra mim, pelo Douglas Germano e João Poletto. O nome é Um Chorinho Pra Wandeca. Eles me deixaram muito surpresas com o presente. Eu gravei, ficou muito bom e o último verso é assim "Se você pensa aí que eu vou me despedir. Se aquieta! Acabei foi de começar". Achei muito engraçado isso! É o único chorinho inédito do disco.

 


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  •  Crédito: Reprodução. Wanderlea canta choros
    Crédito: Reprodução. Wanderlea canta choros Foto: Reprodução
  • 10/02/2017. Credito: Caio Gallucci/Divulgacao. Cantora Wanderlea.
    10/02/2017. Credito: Caio Gallucci/Divulgacao. Cantora Wanderlea. Foto: Caio Gallucci/Divulgacao
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