CULTURA

Maestro brasileiro comandará ópera de autor ligado a Dom Pedro I

Obra de Marcos Portugal, "As damas trocadas", será apresentada nesta sexta-feira (21/07), no Teatro de Vila Real, com instrumentos barrocos, da época em que o compositor a criou. Dos seis solistas, quatro são brasileiros

Vicente Nunes — Correspondente
postado em 20/07/2023 20:03 / atualizado em 22/07/2023 16:34
Ensaio da peça
Ensaio da peça "As damas trocadas". - (crédito: Reprodução/Carlos Santos/ Inquieta Agência Criativa/ Divulgação)

Lisboa — O maestro brasileiro Ricardo Bernardes está eufórico e, digamos, um tanto tenso. Não sem razão. Ele terá o desafio de reger, nesta sexta-feira (21/07), no Teatro de Vila Real, a orquestra que acompanhará a encenação de um clássico da ópera portuguesa, a comédia As damas trocadas, do compositor luso-brasileiro Marcos Portugal, apresentada pela primeira vez em Veneza, Itália, em 1797. Detalhe: todos os instrumentos são característicos do barroco, o que dará um tom muito especial ao espetáculo. Dos seis solistas, quatro são brasileiros.

“É a realização de um sonho de poder, mais uma vez, trazer a ópera luso-brasileira de fins do século XVIII de volta à cena, ainda mais com instrumentos de época. As óperas de Marcos Portugal, especialmente nas versões em língua portuguesa, são um marco na nossa história comum e devem de fazer parte do nosso repertório”, diz Bernardes, um dos maiores especialistas em música barroca e nas obras de Dom Pedro I.

As obras de Marcos Portugal têm profundas ligações com o Brasil. Em 1811, depois de um longo período de estudos e produção na Itália, ele foi convocado por Dom João VI para se mudar para o Rio de Janeiro. Recebido como uma celebridade foi nomeado compositor oficial da Corte e mestre de música da realeza. Dois anos depois, ele conduziu a inauguração do Teatro Real de São João, construído à imagem do Teatro de São Carlos, em Lisboa, onde seriam encenadas várias de suas óperas.

A vida cultural naquela época no Rio de Janeiro era tão intensa, que a cidade se tornou passagem obrigatória para as obras de alguns dos maiores compositores clássicos da história, como Puccini. Mesmo com o retorno da família real para Lisboa, em 1821, Portugal permaneceu no Brasil, tornando-se ainda mais próximo de Pedro I, que um ano depois, declararia a independência brasileira. O compositor morreu no Rio em 1830, deixando mais de 40 composições. “Estamos falando de uma obra muito rica, que deve ser apreciada por todos”, afirma Bernardes. A encenação de “As damas trocadas”, com a Orquestra Barroca de Mateus, está inserida no programa da XXXI edição dos Encontros Internacionais.

Encerrada a temporada atual, o maestro brasileiro já tem encontro marcado novamente com a obra de Marcos Portugal. Em setembro do ano que vem, em parceria da Fundação da Casa de Mateus e com o Teatro de Vila Real, ele regerá a encenação de L'oro non compra amore (O ouro não compra amor), que estreou em 1804 em Lisboa e foi apresentada em 1811 no Rio de Janeiro. “Celebraremos 220 anos da ópera de Marcos Portugal”, ressalta.

Também em setembro de 2023, Bernardes dirigirá o concerto de Sete de Setembro, Dia da Independência, em Damasco, na Síria, a convite da Embaixada do Brasil. Será uma sinfonia com músicas brasileiras de José Maurício Nunes Garcia, Carlos Gomes, Villa-Lobos e arranjos para Tico-tico no Fubá e Aquarela Brasileira. “Será com a Orquestra Sinfônica da Síria e contará com dois cantores solistas brasileiros: Luanda Siqueira e Fernando Araújo”, diz.

 

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