Crítica

Vendedor de ilusões

Para além da colisão de estilos dos desenhos que acoplam o tradicional 2D com a arrojadas artimanhas de computador, Wish aposta no mais do mesmo

Cena do filme Wish: O poder dos desejos -  (crédito: Disney / Divulgação)
Cena do filme Wish: O poder dos desejos - (crédito: Disney / Divulgação)

Não dá gosto, mas verdade seja dita: ao final da mais nova animação da Disney, o ânimo vem dos créditos finais — quando, um a um, todos os longas e personagens que nortearam as ilusões do estúdio, agora centenário, são relembrados. Pouco fica de celebrante para a aventura recém-encerrada na telona. O grande mérito do roteiro é o questionamento dos desejos de uma comunidade e de como podem eclodir, uma vez que estejam represados nas mãos de governantes do status quo.

Poderia ser revolucionário, mas não é o caso. Para além da colisão de estilos dos desenhos que acoplam o tradicional 2D com a arrojadas artimanhas de computador, Wish aposta no mais do mesmo. Tem a heroína, o alívio cômico (o cabrito Valentino, pra lá de chato) e um quase secular desejo do personagem avô Sabino (não ao acaso, prestes a cumprir o centenário). A eternidade da magia Disney se materializa numa personagem (Estrela), que encerra dados de esperança, num representado faixo de luz, a postos para sublinhar o universo icônico da desgastada palavra “sonhos”.

A voluntariosa Asha, candidata a aprendiz no reino das Rosas, cravado numa ilha mediterrânea, puxa toda a trama do filme, especialmente, depois do embate com o marido da rainha Amaya, o metrossexual Magnífico, que detém o domínio sobre a libertação (ou não) dos desejos individuais de cada cidadão. No fundo, o filme assinado pelos diretores Chris Buck (um dos pioneiros na animação computadorizada, com Tarzan, e dono do sucesso Frozen) e Fawn Veerasunthor (do departamento de arte de Raya e o último dragão e Moana) trata do consumo das vontades alheias.

Corações inocentes, como o do paradão Simon, da cozinheira Dahlia, ou mesmo da mãe de Asha, Sakina, se revelam invisíveis perante a gana de Magnífico, que estanca sonhos e relega ao esquecimento as vontades de terceiros. Um vaidoso vilão sem muitas nuances que, do alto do distanciamento de seu palácio, decreta: “Eu decido o que elas (as pessoas súditas) merecem”. À frente de uma magia amadora, Asha desafiará o medo, tendo a companhia de elementos como a nostálgica e simbólica Estrela (que remete ao clássico Fantasia e ainda a Pinóquio). De inspirador mesmo, em toda a animação, Wish traz um encantador e inesquecível balé das galinhas (por sinal, o único momento bacana de Valentino).

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postado em 03/01/2024 03:55 / atualizado em 03/01/2024 17:56
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