
Depois de três décadas sacudindo estruturas e levantando bandeiras, o Planet Hemp anunciou nesta terça-feira (17) o encerramento definitivo de sua trajetória. A banda carioca, ícone da fusão entre rap, rock e ativismo, revelou que se despede dos palcos com a turnê “A Última Ponta” — uma sequência de dez shows que percorrerá o país entre setembro e novembro deste ano.
“O Planet Hemp vai acabar! Depois de mais de 30 anos fazendo muita fumaça e história, o Planet Hemp anuncia a sua turnê final. Não tá ligado na missão?”, escreveu o grupo nas redes sociais, selando o adeus com o tom irreverente que sempre os acompanhou.
O giro de despedida começa em Salvador (13/9), passa por cidades como Recife, Porto Alegre, Goiânia e Belo Horizonte, e culmina em São Paulo no dia 15 de novembro. É o último chamado para quem viveu — ou quer viver — a combustão coletiva que é um show do Planet Hemp.
Fundado em 1993 no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, o Planet Hemp nasceu da união entre Marcelo D2, Skunk, Rafael, Formigão e Bacalhau. Com o tempo, nomes como BNegão e Black Alien somaram potência à mistura sonora e ideológica do grupo, que se tornou referência ao fundir hip hop, rock, reggae e até jazz com letras que defendem a legalização da maconha e denunciam injustiças sociais.
Nos anos 1990 e início dos 2000, a banda incendiou o cenário nacional com discos como Usuário (1995) e Os Cães Ladram, Mas a Caravana não Pára (1997), sempre com versos afiados contra o racismo, a violência policial e o conservadorismo. A ruptura veio em 2001, marcada por tensões internas. Mas o silêncio durou pouco.
Em 2022, a banda ressurgiu com o álbum Jardineiros, reafirmando seu compromisso com a crítica social e a militância pela descriminalização da cannabis. Em 2024, celebraram três décadas de estrada com o espetáculo “Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça” e, enfim, subiram ao palco do Rock in Rio — um momento aguardado desde sua ausência sentida na edição de 2001.
Fim com consciência
Em coletiva recente, Marcelo D2 descreveu o momento como “o encerramento de um ciclo com plena consciência”. “A gente acabou virando o movimento. Não só fez parte — a gente fez ele acontecer. Já dissemos o que tínhamos pra dizer.”
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Se hoje o grupo se despede lotando estádios, é bom lembrar que o começo foi bem mais modesto. “Nosso primeiro show foi para sete pessoas”, relembra D2, entre risos. E talvez esteja aí o segredo do sucesso duradouro da banda: nunca foram apenas músicos, sempre foram porta-vozes de uma geração que não se conforma, que questiona, que canta e protesta.
O Planet Hemp nunca se limitou a rimas ou riffs. Foram voz ativa na luta pela legalização da maconha e enfrentaram de peito aberto o conservadorismo com letras afiadas e performances incendiárias. Ao longo da carreira, enfrentaram censura, prisões, mudanças de formação e até hiatos, mas nunca perderam a relevância nem o tom provocador.
Hoje, a formação reúne Marcelo D2, BNegão, Formigão, Nobru, Pedro Garcia e Daniel Ganjaman — uma equipe de peso que segura o legado com firmeza até o último acorde.
Planet Hemp: Uma despedida que é mais um convite à celebração
“A Última Ponta” está longe de ser um lamento. É celebração. É gratidão. É reencontro com fãs que fizeram da banda trilha sonora de protestos, rolês e revoluções pessoais. Os palcos do Brasil vão testemunhar não apenas o fim de uma era, mas a consagração de um nome que moldou o som e a contracultura nacional.
Se o futuro do Planet Hemp está chegando ao fim, o impacto que deixaram no presente e no passado da música brasileira vai continuar reverberando. Eles podem estar apagando a ponta final, mas a brasa vai continuar acesa por muito tempo.