Poucas artistas traduzem o espírito de uma geração como Lorde. Em seus versos, sempre existiu uma espécie de premonição — como se ela soubesse, com antecedência, as dores e transformações que ainda estavam por vir. Agora, com Virgin, lançado nesta sexta-feira (27), a artista neozelandesa aprofunda ainda mais essa sensibilidade. Em seu disco mais íntimo até agora, ela abandona qualquer verniz e mergulha sem pudor na confusão de ser mulher (ou não) em 2025.
Com 28 anos, Lorde entrega um álbum que fala de transtornos alimentares, fluidez de gênero, sexualidade, ansiedade e a relação disfuncional com o próprio reflexo. Mas Virgin não é um grito de desespero — é uma catarse cuidadosamente construída, que confronta as expectativas culturais com honestidade desconcertante. “Estava arrancando camadas”, contou ao g1. “Era assustador, mas verdadeiro.”
Em versos que mencionam ovulação, testes de gravidez e refeições não consumidas, a cantora desmonta as narrativas de feminilidade higienizada que povoam as redes sociais — a era da “clean girl”, dos corpos inatingíveis e da estética do silêncio. “Nos últimos anos, estive em guerra com meu corpo”, revelou, relembrando momentos marcados por repulsa e dor. A experiência aparece com força em Broken Glass, uma das faixas mais intensas do disco.
O título, Virgin, surge com ironia e potência: não fala de castidade, mas de um retorno a algo primordial. “Era sobre pureza, mas não sexual. Pureza no sentido de estar em contato com uma versão essencial de mim mesma. Algo cru, sem maquiagem. E isso me deu paz.”
A estética também desafia convenções. Há sexualidade, sim, mas sob uma ótica visceral, sem floreios ou eufemismos. Lorde constrói um retrato de sua geração — que tem mais liberdade do que nunca para ser quem é, mas vive sob o peso constante da comparação, da vigilância estética e da ansiedade existencial.
A cantora também falou ao g1 sobre sua participação no remix de Girl, So Confusing, ao lado de Charli XCX, faixa do cultuado Brat. A colaboração, celebrada por fãs e crítica, abordou as contradições da amizade e competitividade entre mulheres na música pop. “Parecia que a Charli estava me dando a chance de completar uma frase”, disse. “Essa é a mágica do pop: capturar o agora.”
A conexão com o público brasileiro também voltou à tona. Lorde relembrou com carinho sua passagem pelo Primavera Sound São Paulo, em 2022, quando dividiu lineup com Charli e Phoebe Bridgers. “Sempre que toco no Brasil, sinto uma conexão direta. Não há barreira de linguagem. Só sentimento.”
Com Virgin, Lorde entrega não só um novo capítulo de sua carreira, mas um documento emocional sobre o que significa ser — e não se encaixar — no presente. Em tempos de autoimagem fabricada, ela aposta na verdade desconfortável como forma de cura.
E nesse processo, mais uma vez, fala por — e para — toda uma geração.
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Lorde causa polêmica com foto ousada em vinil do álbum “Virgin”
A cantora Lorde voltou aos holofotes de forma impactante. Unidades do vinil de seu novo álbum, intitulado Virgin, já começaram a circular entre fãs antes do lançamento oficial nesta sexta-feira, dia 27, e uma imagem em especial chamou a atenção: a artista aparece mostrando as partes íntimas em uma das fotos do encarte.
A revelação provocou grande repercussão nas redes sociais, dividindo opiniões sobre a nova fase da artista.
A foto, considerada por muitos como ousada, mostra Lorde em um ensaio artístico, com forte apelo erótico, o que levou fãs a apelidarem essa fase de sua carreira como “a era erótica da Lorde”.
Embora a imagem não tenha sido oficialmente divulgada pelos canais da cantora, registros feitos por compradores do vinil rapidamente se espalharam pela internet, gerando comentários e debates sobre o limite entre arte, sensualidade e exposição.
A escolha estética de Lorde com o álbum Virgin marca uma mudança significativa em sua imagem pública. Conhecida por sua abordagem introspectiva e lírica profunda desde sua estreia com Pure Heroine (2013), a artista neozelandesa agora parece apostar em uma nova identidade visual e narrativa, mais provocativa e visualmente marcante.
Os fãs, embora surpresos, estão curiosos para entender o contexto completo dessa nova proposta artística, que só será possível com o lançamento oficial do disco.
Além da imagem polêmica, Virgin já vem sendo descrito por insiders da indústria musical como um trabalho ousado, tanto em sua sonoridade quanto em suas letras.
Fontes próximas à produção do álbum indicam que ele traz influências eletrônicas e experimentais, e que Lorde mergulha em temas de liberdade sexual, identidade e vulnerabilidade com franqueza inédita.