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Como a dor de Dave Grohl forjou o nascimento do Foo Fighters

O suicídio de Kurt Cobain paralisou Dave Grohl — mas também acendeu a faísca de uma nova era no rock

Como a dor de Dave Grohl forjou o nascimento do Foo Fighters -  (crédito: TMJBrazil)
Como a dor de Dave Grohl forjou o nascimento do Foo Fighters - (crédito: TMJBrazil)

Ninguém nasce pronto para lidar com uma tragédia — muito menos quando ela ecoa nos alto-falantes do mundo todo. Em 1994, após o suicídio de Kurt Cobain, Dave Grohl se viu sem chão, sem banda e, por um tempo, sem música. O Nirvana havia chegado ao fim. E, com ele, parecia ter desaparecido também a identidade artística de seu baterista. Mas, enquanto o silêncio dominava sua vida, algo começou a vibrar de novo por dentro. Esse algo, em pouco tempo, ganharia o nome de Foo Fighters.

Grohl não era um novato. Desde a adolescência, cruzava os palcos do underground com uma energia crua e determinada. Mas, ao lado de Cobain, atingiu uma escala inimaginável com o Nevermind. O Nirvana não apenas explodiu — redefiniu uma geração. Por isso, quando tudo terminou, ele mergulhou em um silêncio profundo, evitando até ouvir música.

A virada veio aos poucos. Em 1994, Grohl começou a compor e gravar sem nenhuma ambição comercial. “Foi quase como um exorcismo”, contou anos depois. Alugou seis dias de estúdio com o amigo e produtor Barrett Jones. Entrava de manhã, só começava a trabalhar à tarde, e ainda assim gravava quatro músicas por dia, tocando todos os instrumentos sozinho. As letras, muitas vezes, eram escritas minutos antes da gravação. O processo era quase impulsivo — visceral.

O que surgiu dali não era um disco planejado. Era uma válvula de escape, uma tentativa de transformar a dor em movimento. O nome, Foo Fighters, veio de um termo militar usado para descrever OVNIs na Segunda Guerra. A capa do álbum trazia uma arma de ficção científica, sem nenhuma conexão intencional com o fim trágico de Kurt. Mesmo assim, o peso da comparação era inevitável.

Inicialmente, Grohl prensou apenas 100 fitas K7 e outras 100 cópias em vinil, entregues para amigos e fãs do Nirvana que ainda estavam em luto. Mas as fitas circularam. E logo as gravadoras começaram a bater à porta.

O disco homônimo foi lançado em julho de 1995 com um ar de anonimato proposital. “Achei que se dissesse que era uma banda, e não só eu, as pessoas prestariam mais atenção à música do que ao meu nome”, disse Grohl. Deu certo: em poucos meses, o álbum vendia centenas de milhares de cópias, impulsionado por faixas como “This Is a Call”, “I’ll Stick Around” e a inusitada “Big Me”, com seu clipe em tom de sátira publicitária.

Mas para levar o projeto à estrada, era preciso formar uma banda de verdade. Pat Smear (ex-Nirvana) entrou na guitarra, Nate Mendel no baixo e William Goldsmith na bateria. Eles saíram em turnê nos EUA, em vans, como bandas iniciantes. Nada de hits do Nirvana. Grohl se recusava a revisitar aquele passado no palco. “Era como abrir uma ferida”, confessou.

O impacto do disco foi imediato. O Foo Fighters ganhava corpo, e Grohl, voz. O álbum vendeu mais de 2 milhões de cópias no mundo, e hoje é o segundo mais vendido da carreira da banda. Mas, mais do que números, ele carrega um valor simbólico inestimável.

A música de Dave Grohl sobre Kurt Cobain

Em abril de 1994, a morte de Kurt Cobain não apenas encerrou a trajetória do Nirvana, como mergulhou Dave Grohl em um turbilhão emocional e existencial. Ainda em luto pela perda do amigo e colega de banda, Dave Grohl se viu diante de uma encruzilhada: continuar na música ou abandonar de vez a carreira artística. Naquele momento, até mesmo a ideia de voltar à bateria, seu instrumento principal, parecia distante.

Nos meses que se seguiram, o ex-baterista se afastou da composição. A tristeza que carregava era tanta que, segundo ele mesmo relatou em entrevistas à Apple Music e ao radialista Howard Stern, as músicas que tentava criar soavam excessivamente melancólicas — reflexo direto do estado emocional em que se encontrava. “Cada vez que eu pegava um violão, o que saía era sombrio demais. Eu pensava: ‘Será que é só isso que tenho agora?’”, contou Dave Grohl.

Foi somente em meio a uma viagem com sua esposa, Jennifer Youngblood, que uma nova luz começou a surgir. Durante a lua de mel na Irlanda, surgiu a primeira fagulha do que viria a ser uma guinada decisiva em sua vida e carreira: a composição de “This Is a Call”.

Lançada em 1995 como o primeiro single do álbum de estreia do Foo Fighters — projeto idealizado, gravado e liderado por Dave Grohl — a música simboliza mais do que uma nova fase sonora. Representa o reencontro com a paixão pela música e um ponto de virada emocional. “Depois de tudo que vivi, escrever ‘This Is a Call’ foi como respirar novamente. Pela primeira vez em muito tempo, compor foi algo libertador, quase alegre”, lembrou ele em conversa com a Kerrang!.

Gravado em apenas cinco dias, o disco homônimo do Foo Fighters não apenas marcou a estreia de Dave Grohl como frontman, mas também revelou seu talento multifacetado, assumindo voz, guitarra e a maior parte dos instrumentos. “This Is a Call”, com seu tom mais otimista, tornou-se o cartão de visitas dessa nova identidade musical — uma saída do luto em direção à reconstrução artística.

 

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postado em 08/07/2025 12:38
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