Artes cênicas

Três mulheres altas: olhar feminino em clássico de Albee está em cartaz

O festejado autor Edward Albee, morto em 2016, rende dilemas e reflexões em três intrigantes personagens interpretadas por Helena Ranaldi, Ana Rosa e Fernanda Nobre

Montagem de Três mulheres altas -  (crédito: Jeif Karaf/Divulgação)
Montagem de Três mulheres altas - (crédito: Jeif Karaf/Divulgação)

Elementos masculinos até dão as caras no texto clássico de Edward Albee, Três mulheres altas: "estão num relacionamento conjugal machista; noutro, com a lida difícil junto a um filho, que geram ressentimentos para personagens e, num terceiro, pela agradável lembrança de um caso extraconjugal de uma das mulheres". Quem demarca é a atriz Helena Ranaldi, intérprete da mulher identificada como B, numa condição de tutora de A (Ana Rosa), uma idosa que beira a senilidade.

O manancial de peça reside na "força feminina" sobre a sociedade e seus costumes, como indica o diretor Fernando Philbert, que conduz a trama integrada por C (Fernanda Nobre), destacada por lidar com as finanças de A. "O tempo, em geral, caminha embaralhado em nossa cabeça. A memória é fragmentada e isto permite a liberdade desta peça ao voltar a certas falas de personagens, sob distintas perspectivas", pontua o diretor. Ele conta que perseguiu a simplicidade para a montagem de um texto premiado com o Pulitzer e que, em momentos, já contou com atrizes como Glenda Jackson, Maggie Smith e Beatriz Segall. "Saí do caminho da complexidade do labirinto da personagem que, por vezes, divide-se, e torna a ser una. Contamos a história de modo concreto com sua dose de humor e verdade", destaca Fernando Philbert.

Tanto a mensura da passagem do tempo quanto o comportamento humano se transformam de uma fase para outra da vida, pelo que ressalta Helena Ranaldi. "A personagem sofre consequências de ter um relacionamento conjugal machista e um relacionamento difícil com seu filho, o que faz com que a sua vida não seja leve", aponta ela, que se diz "privilegiada". "Junto à potência deste texto, minha performance é resultado de ensaios, onde houve, e há, bastante liberdade e um prazeroso jogo cênico. A vantagem do teatro é construir isso, a cada espetáculo", conclui.

 

Duas perguntas// Fernando Philbert, diretor

Como se dá a presença masculina?

O próprio autor (da peça) Albee se coloca, me parece, no ponto de estar apenas sendo objeto das falas e da memória da mãe (que molda uma personagem) — ela lhe imprime o caráter de ouvinte no mundo feminino em que foi criado diante da forte presença da mãe. O
elemento masculino vem como "figurante"/"espectador" de sua propria história, sem se contrapor ou cortar a fala feminina.

Que qualidade o texto de Albee detém, e mais: ele se aproxima da narrativa de cinema projetada em Quem tem medo de Virginia Woolf?

Fui mobilizado pelo flerte com um realismo fantástico aqui, em Três mulheres altas e há esta lente de aumento sobre o lado excêntrico humano — na ligação com o texto Quem tem medo... Albee é teatro puro onde o cinema vem se inspirar no que se refere aos diálogos plenos de imagens fortes ligadas a nossa vida. O teatro de Albee é, na pura tradição, como diz Hamlet na cena aos atores: "Colocar um espelho diante da natureza e refletir a cada época sua imagem, seus vícios e suas virtudes". E, acrescento, pitacos de loucuras e excentricidades.

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Três mulheres altas
Teatro Unip (SGAS 913 — Asa Sul). Sábado (11/10), às 20h, e domingo (12/10), às 17h e às 20h (sessão extra). Ingressos: de R$ 25 a R$ 180 (à venda na Belini (113 Sul, sem taxas, em horário comercial, e, on-line, em https://bileto.sympla.com.br/event/108883/d/330298)
Não recomendado para menores de 12 anos.

 

 

 

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postado em 10/10/2025 06:03
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