No dia 28 de outubro, às 19h, o Cine Cultura, no Shopping Center Liberty Mall, recebe a estreia do documentário brasiliense Esse Outubro Não É Rosa, dirigido por Luciana Salvatore. A produção é resultado de uma parceria entre a Movimenta Filmes e o Instituto Umanizzare.
A cobertura midiática desse lançamento tem papel essencial para ampliar o debate sobre uma dimensão pouco explorada da luta contra o câncer de mama no Brasil: a realidade das mulheres que enfrentam longas esperas por tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). O filme dá rosto e voz a essas histórias, humanizando a experiência de quem vive, simultaneamente, a dor da doença e a incerteza do atendimento.
Em entrevista ao Correio, Luciana descreve o documentário como uma poderosa ferramenta social. “Ele serve para retirar os véus de invisibilidade que cobrem temas que estão ao nosso redor, mas que, muitas vezes, preferimos não enxergar. Não existe transformação sem consciência — e não se pode mudar aquilo que não se vê”, afirma.
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Durante a vida, a diretora conviveu com a luta da mãe e da enteada contra o câncer, que, mesmo não sendo de mama, deixaram lições profundas sobre coragem, amor e resiliência. “É uma maneira de honrar essas mulheres que amo profundamente”, emociona-se, destacando que o SUS é reconhecido como o melhor sistema de saúde do mundo. “Mesmo em um sistema de saúde de excelência, existem desafios que precisam ser superados para garantir a saúde e o bem-estar de todas.”
Próxima do trabalho voluntário, Luciana escolheu como protagonista o Instituto Umanizzare, uma instituição que trabalha com desenvolvimento humano e apoio a mulheres em situação de violência doméstica e vulnerabilidade social. “Tudo começou quando Fátima, secretária do Instituto, descobriu um caroço no seio que cresceu dois centímetros em apenas vinte dias. Quando ela procurou o SUS, encontrou uma fila com mais de mil pessoas e uma espera de meses para conseguir os exames. Foi desesperador. Pela primeira vez, nós, dentro do Instituto, enfrentamos tão de perto a realidade cruel das filas de regulação”, relembra.
Fátima decidiu usar sua voz para representar todas as mulheres do Brasil que vivem essa mesma angústia. “Assim nasceu a campanha Esse Outubro Não É Rosa, lançada em setembro de 2024 nas redes sociais — um grito de socorro coletivo. Logo, outras mulheres se uniram, e conhecemos Rafaella, que também enfrenta um câncer agressivo, e grupos como as Vencedoras Unidas”, Luciana relata.
Convivendo com essas mulheres de forma cuidadosa e respeitosa durante meses, o documentário nasceu. Para a diretora, a mensagem do filme é clara: a saúde não espera e é um direito fundamental e inegociável. “Não é um manifesto contra o SUS; é, na verdade, um grito por sua eficiência. Sem o SUS, Fátima e Rafaella não teriam tido chance de lutar e muitas mulheres não seriam salvas. O problema está nas filas de regulação, na burocracia, na falta de estrutura e, muitas vezes, nas confusões de gestão”, esclarece.
“Queremos que o público compreenda que há milhares de mulheres aguardando por um exame enquanto o tempo corre contra elas. É preciso cobrar com urgência investimentos, gestão eficiente e políticas públicas que reduzam as filas”, acrescenta. “O filme também reconhece o trabalho dos profissionais de saúde do SUS, que lutam diariamente contra todas as adversidades para salvar vidas. A violência silenciosa que se segue pós diagnóstico também é cercada pela força da rede feminina de apoio, empatia e solidariedade, segundo Luciana.
Conforme estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), 73.610 novos casos de câncer de mama são registrados por ano no Brasil. Embora o câncer tenha até 95% de chance de cura quando diagnosticado precocemente, ele ainda é a principal causa de morte por câncer entre as mulheres, com mais de 20 mil mortes em 2023. “Queremos que esses números ganhem rosto, história e urgência. Porque por trás de cada estatística há uma mulher, uma mãe, uma avó, tentando viver e sobreviver”, Luciana argumenta.
Antes de tudo, a diretora deseja que a produção incomode — “porque só o desconforto gera movimento” —, e traga luz onde há silêncio. “Quero que ele mobilize autoridades, gestores e legisladores. E para além disso, quero que as pessoas se sensibilizem. Que percebam que saúde pública não é um favor, é um direito constitucional. Assim como é também um dever de todos nós, proteger e cuidar do SUS”, declara.
Luciana cita Grace Justa, fundadora do Instituto Umanizzare, que diz que “enquanto houver mulheres esperando na fila mais de cem dias por um diagnóstico, esse outubro não é rosa.”
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