Incerteza

Campos Neto minimiza saída de capital estrangeiro do país

Presidente do Banco Central diz que queda no fluxo de investimentos no país é "natural" em momento de crise, e afirma que, no ano que vem, "haverá retomada"

Rosana Hessel
postado em 24/09/2020 14:18 / atualizado em 24/09/2020 17:20
 (crédito: Raphael Ribeiro/ BCB)
(crédito: Raphael Ribeiro/ BCB)

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tentou minimizar a forte saída de capital estrangeiro e a queda no fluxo de entrada de Investimento Direto no País (IDP). Para ele, a fuga está mais relacionada com as incertezas da recessão provocada pela pandemia de covid-19, e, portanto, "é natural" em momentos de crise, mas, no ano que vem,  “haverá retomada".

Dados do BC divulgados na quarta-feira confirmaram a saída recorde de US$ 15,2 bilhões no acumulado do ano, o maior volume desde 1982. O volume de retirada de investimentos em carteira no país foi recorde, somando US$ 28,3 bilhões, dos quais US$ 19,5 bilhões em ações e US$ 8,8 bilhões em títulos da dívida.

“A queda do investimento direto está mais associado à crise. É um processo natural e entendemos que o IDP vai retomar o crescimento no ano que vem”, apostou Campos Neto, nesta quinta-feira (24/09), durante apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que atualizou as projeções macroeconômicas, com dados mais otimistas do que os do mercado e os do Ministério da Economia para 2021. "Sim, tivemos uma saída muito grande nos primeiros meses da crise. Mas já está havendo uma retomada, em parcela menor do que a que saiu”, afirmou.

Em meio ao aumento das incertezas e da desconfiança no governo, com perspectiva de piora no quadro fiscal, a queda no fluxo de IDP em agosto desabou 85,3% na comparação com o mesmo mês de 2019, para US$ 1,4 bilhão. No acumulado em 12 meses até agosto, a entrada de IDP somou US$ 54,5 bilhões, o menor patamar desde agosto de 2010, quando o indicador registrou US$ 50,8 bilhões. No RTI de setembro, a autoridade monetária reduziu de US$ 55 bilhões para US$ 50 bilhões a previsão do ingresso líquido de IDP neste ano, mas o BC espera que esse volume aumente para US$ 65,2 bilhões no ano que vem.

Campos Neto reconheceu que o movimento de saída de recursos do país também está relacionado à redução da taxa básica de juros (Selic), que foi mantida, na semana passada, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em 2% ao ano, o menor patamar da história. “Na medida em que a taxa de juros vai diminuindo no Brasil, e, pela própria crise, houve uma saída dos investimentos em renda fixa e em ações”, justificou.

O presidente do BC reconheceu que, diante do aumento do endividamento do governo devido às medidas de combate à crise, a participação de estrangeiros na dívida pública está entre 8% e 9% do total, "mas já foi de 20%". Contudo, ele evitou fazer maiores comentários sobre o impacto na piora do quadro fiscal sobre os prêmios de risco nos papéis da dívida do governo de prazos mais longos. A desconfiança dos investidores tem obrigado o governo a rolar a dívida em períodos cada vez mais curtos, uma vez que os juros exigidos pelo mercado para adquirir títulos com vencimento acima de cinco anos são mais de três vezes maiores do que a atual Selic. "O preço que estamos pagando por um fiscal desarrumado é o encurtamento da dívida", disse.

Campos Neto ainda se defendeu das críticas de que o BC não estaria adotando as medidas previstas no orçamento de guerra para a crise, como comprar títulos do Tesouro Nacional para criar demanda e baixar os juros de longo prazo. Ele disse que "há outros instrumentos a serem utilizados antes", e que essa ferramenta será usada quando houver uma "disfuncionalidade maior", mas não definiu qual seria o gatilho para a medida. "Se entendermos que há uma uma disfunção (no mercado), o BC vai entender como atuar", resumiu.

Novas estimativas

O BC revisou de 6,4% para 5% as estimativas para a retração do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, em linha com a mediana das previsões do mercado. Já a perspectiva de crescimento do PIB em 2021, de 3,9%, está bem mais otimista do que a mediana, de 3,5%. Esse otimismo, em grande parte, está relacionado com uma previsão de retomada mais acelerada do consumo, com o uso da poupança gerada durante a crise em virtude da queda do valor do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300, que deverá se estender para o ano que vem.

Na avaliação de Campos Neto e do diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanckzuk, ainda não é possível estimar quando o PIB deverá retomar o patamar pré-crise, mas isso deverá ocorrer “ao longo de 2022”.

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