Conjuntura

Auxílio emergencial impulsiona e vendas do varejo atingem patamar recorde

Influenciado pelo auxílio emergencial, crescimento foi de 3,4% em agosto, no 4º mês de recuperação. Segundo o instituto, varejo está 8,9% acima do nível pré-pandemia e 2,6% acima do recorde anterior, visto em outubro de 2014

Marina Barbosa
 Fernanda Strickland*
postado em 09/10/2020 06:00 / atualizado em 09/10/2020 06:08
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

Apesar do baque registrado no início da pandemia de covid-19, o comércio brasileiro não só já deixou para trás os efeitos do novo coronavírus, como subiu ao maior nível dos últimos 20 anos em agosto. O recorde de vendas foi registrado após quatro meses consecutivos de recuperação e foi influenciado, sobretudo, pelo auxílio emergencial. Por isso, analistas temem uma desaceleração do ritmo de recuperação do comércio e, consequentemente, da economia brasileira em virtude da redução do auxílio.

Dados divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que as vendas do varejo brasileiro cresceram 3,4% em agosto, no quarto mês de recuperação. Por isso, estão 8,9% acima do nível observado antes da pandemia e, também, superam em 2,6% o patamar observado em outubro de 2014, que, até então, representava o ponto mais alto da série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), iniciada em 2000. É que, após sofrer um tombo histórico de 16,7% em abril, quando boa parte do comércio brasileiro precisou fechar as portas, as vendas reagiram de forma acelerada nos meses seguintes.

Ilustração
Ilustração (foto: Editoria de ilustração)

“Atingimos o nível recorde do ponto de vista positivo, mas é bom lembrar que o piso inferior da série também se deu no período de pandemia. Em abril, estávamos a -24,8% do nível recorde de agosto. Ou seja, os meses de pandemia trouxeram alta volatilidade para as séries históricas do comércio”, avaliou o gerente da PMC, Cristiano Santos, lembrando que, em abril, o setor ficou 18,7% abaixo do nível pré-pandemia.

O que explica essa recuperação acelerada, segundo os analistas, é, sobretudo, a injeção de renda provocada pelo auxílio emergencial, que liberou mais de R$ 220 bilhões a 67,7 milhões de pessoas e, por isso, ajudou a manter e até a elevar, em alguns casos, o consumo das famílias brasileiras. “O auxílio emergencial e outras fontes de estímulo, como o crédito, surtiram bastante efeito no comércio varejista. Por isso, o setor tem apresentado uma recuperação forte e generalizada”, contou a economista da XP Investimentos, Lisandra Barbero.

“Em agosto, ainda vigorava o auxílio de R$ 600, e a flexibilização do isolamento social, também, favoreceu o comércio”, acrescentou o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes. Por conta disso, a CNC acredita, inclusive, que o ano não será de todo mal para o setor. A confederação já chegou a projetar uma queda de 10% nas vendas em 2020, devido ao choque inicial da pandemia. Porém, agora, espera um crescimento de 1,8% para o varejo restrito. É que o resultado de agosto também rendeu um saldo positivo, de 0,5%, para o setor no acumulado do ano. Já para o varejo ampliado, que considera a venda de veículos e materiais de construção, a CNC revisou a projeção de queda, em 2020, de -5,7% para -4,2%.

Bens essenciais

Os analistas temem que essa recuperação perca força e fique ainda mais desigual nos próximos meses. Afinal, com a redução do auxílio emergencial e o desemprego em alta, é provável que os brasileiros reduzam o consumo e foquem o recurso disponível cada vez mais nos bens essenciais. Por isso, já não se espera mais taxas acentuadas de crescimento nas vendas do varejo nos próximos meses. Ou seja, o avanço mensal que já foi de 12,7%, em maio, e desacelerou para 3,4%, em agosto, pode ficar ainda menor, entre 1% e 2%, a partir de setembro.

A dona de casa Fátima Teodoro, de 57 anos, reforça a análise dos especialistas. Ela conta que o auxílio emergencial estava ajudando a complementar a renda de casa e suprir outras necessidades, tanto que gastou mais do que o normal com alimentos e utensílios domésticos nos últimos meses. Porém, não sabe como ficarão as contas agora, pois não teve nem o recebimento dos R$ 300 confirmado pelo governo. Para a cantora Maria Campos, de 21 anos, os próximos meses também serão de economia. “Como o dinheiro foi parando de entrar, temos que economizar mais. No começo da pandemia, tive um gasto maior. Mas, agora, é só o necessário mesmo”, disse.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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Feriado lota hotéis, apesar da pandemia

A chegada do feriado prolongado fará muita gente viajar. Apesar de o país ainda enfrentar a pandemia do novo coronavírus, que já matou quase 150 mil brasileiros, a população não desistiu de curtir os dias de descanso. A comemoração do dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, prevê praias e pontos turísticos lotados, assim como se observou no feriado de 7 de Setembro.

Paraísos dos turistas que moram no Centro-Oeste, Pirenópolis está com 90% da sua capacidade reservada desde o início da semana. A expectativa é de receber cerca de 15 mil pessoas durante todo o feriado, máximo permitido em meio à pandemia. “A capacidade foi reduzida para menos da metade”, informou a prefeitura da cidade goiana.

O município tem seguido rígidas medidas de contenção da covid-19. Para entrar na cidade, é preciso reserva, que deve ser feita com antecedência, além do uso obrigatório de máscara de proteção em locais públicos. Há, também, restrições: está proibido banho de rio no perímetro urbano da cidade, bem como qualquer tipo de evento que provoque aglomerações. E, à 0h, um toque de recolher obriga todos os comércios a fecharem as portas.

A Pousada Flores, em São Jorge (GO), está com todos os quartos reservados até o próximo feriado, na primeira semana de novembro. Para o feriado de 12 de outubro, o local fechou pacotes para amanhã, domingo e segunda-feira, entre R$ 2.095,00 e R$ 5.485,00. A pousada informou que está funcionando com 65% de sua capacidade total e respeitando normas de prevenção.

Segundo Mila Ferreira, proprietária da agência Brasília Viagens, o brasiliense tem procurado por destinos no litoral do país, principalmente o Nordeste. “Maceió, Aracaju, Salvador, Natal e Fortaleza foram os destinos que mais venderam nesse feriado”, relata. Mila ainda ressalta que teve um grande aumento por pacotes esta semana, “as pessoas procuraram muito nesta primeira quinzena de outubro. Mesmo que ainda baixo em relação ao mesmo período do ano passado, cerca de 30% do total de 2019, ainda foi um avanço positivo, já que três meses atrás não vendemos nenhum”, conta a empresária.

Ana Helena Germoglio, infectologista do Hospital Águas Claras, alerta para os cuidados necessários em uma viagem. Segundo a médica, ainda é recomendado viajar apenas em casos imprescindíveis. “É preciso ter responsabilidade antes, durante e depois da viagem. É muito comum as pessoas viajarem e, na primeira semana de retorno, apresentarem sintomas de covid-19.”

A arquiteta Cristiana Pinheiro diz que está “com medo do vírus, lógico, mas tomo meus cuidados e procuro me hospedar em lugares que seguem os protocolos de forma rígida, respeitando o distanciamento e o uso de máscaras”. Em setembro, ela viajou para uma pousada em Minas Gerais e conta que ainda está à procura de vaga na região para passar o feriado de Nossa Senhora Aparecida. “Todas as pousadas que procurei estão com as reservas lotadas, principalmente aquelas que ficam próximas de cachoeiras”, relata.

Decolagens

Segundo informações da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a média de voos diários no último setembro foi de 865 decolagens, representando o maior número desde abril deste ano. A Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear) diz que estão previstos 1.175 voos diários para a semana do dia 12 de outubro.

As apostas das companhias aéreas em Brasília são para cidades do Nordeste do Brasil. A companhia Azul reforçou, com dois voos extras, as viagens entre a capital e a cidade de Recife. A Gol também colocou 48 mil assentos adicionais e viagens extras entre Brasília e Maceió, Recife, Fortaleza, Natal e Teresina; além de São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

Com o aumento na demanda por voos, o Aeroporto de Brasília está tomando medidas preventivas. “Com a retomada gradual de voos, o número de passageiros também tem aumentado, assim como os cuidados. Pensando nisso, a Inframérica, concessionária que administra o aeródromo, lançou a campanha ‘Para Você Voar Tranquilo’, com o intuito de manter os passageiros informados sobre as ações adotadas no terminal e como proceder quando forem viajar”, diz comunicado no site oficial do aeroporto.

*Estagiárias sob a supervisão de Andreia Castro

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