RECUPERAÇÃO

Ministério da Economia deve melhorar projeção oficial do PIB de 2020

Previsão oficial, que hoje é de um tombo de -4,7% do PIB, será revisada no início de novembro, pois ministro Paulo Guedes já vê retração menor

O Ministério da Economia vai revisar a projeção oficial para o crescimento da economia brasileira, que hoje prevê uma contração de 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. A estimativa já é mais otimista que a do mercado, mas deve ficar ainda melhor. Afinal, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse, nesta semana, que já enxerga um baque menor, de 4%, para o PIB do Brasil neste ano.

"Nós revisaremos esse número no comecinho de novembro, de -4,7%", disse o secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, nesta quinta-feira (22/10). Ele alegou que os indicadores econômicos "mostram uma forte recuperação em V" em setores econômicos como o comércio, a indústria e a construção, apesar de o setor de serviços, que responde por cerca de 2/3 do PIB do Brasil, ainda não mostrar uma recuperação tão efetiva.

Segundo Waldery, apesar da retomada mais lenta dos serviços, há certo consenso entre os economistas de que a recessão causada pela pandemia de covid-19 é mais profunda, mas mais curta que crises anteriores, como a de 2008. Tanto que, lembrou o secretário, as projeções econômicas, que começaram a pandemia muito divergentes por conta das incertezas trazidas pelo novo coronavírus, hoje já se mostram mais convergentes com a projeção do governo.

No início desta semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, havia ressaltado que o Fundo Monetário Internacional (FMI), que previu uma queda de 9,1% do PIB do Brasil em 2020, já projeta um tombo de 5,8%. O Banco Mundial também melhorou sua projeção para o Brasil, de -8% para -5,4%. E o mercado financeiro vem ajustando suas expectativas semanalmente. Os analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) por meio do Boletim Focus, por exemplo, projetam um PIB de -5%, antes projeções de -6,5%.

Guedes afirmou, por sua vez, que o tombo pode ser ainda menor que os -4,7% projetados pelo governo hoje. "Pensamos que vai ser muito menos do que isso, 4% de queda", disse o ministro, em videoconferência com investidores americanos na segunda-feira. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, também demonstrou otimismo com a recuperação brasileira nesta semana. Em outro evento com investidores estrangeiros, o chefe da autoridade monetária citou a expectativa de um PIB de -4,5%. Por isso, agora essa onda será levada para a projeção oficial do governo, conforme indicou Waldery.

Fiscal

Apesar do otimismo com o ritmo de recuperação econômica, a equipe econômica segue preocupada com a situação fiscal do Brasil. Em live do Tribunal de Contas da União (TCU), Waldery Rodrigues lembrou nesta quinta-feira que o país deve fechar o ano com uma dívida bruta de 93,9% do PIB. É um aumento de 18,1 pontos percentuais que não deve ser revertido em menos de dez anos, segundo as projeções da Fazenda.

Além disso, o setor público consolidado deve fechar o ano com um deficit primário de R$ 895,8 bilhões, o
equivalente a 12,5% do PIB. É um rombo sem precedentes, que supera em quase sete vezes o deficit primário imaginado para este ano antes da pandemia de covid-19 — a meta primária que o governo foi desobrigado a cumprir pelo Orçamento de Guerra era de um deficit primário de R$ 124,1 bilhões.

O aumento do endividamento e do deficit brasileiro é resultado do aumento de gastos e da frustração de receitas causada pela pandemia de covid-19. Segundo a Secretaria da Fazenda, a pandemia já exigiu um esforço fiscal de R$ 614,2 bilhões, sendo R$ 586,7 bilhões de novas despesas e R$ 27,5 bilhões de perda de receita.

É um impacto de 8,54% do PIB que, segundo Waldery, foi "considerável, célere e meritório", mas deve ser contido em 2020 para que o país consiga voltar a uma trajetória fiscal sustentável. O secretário lembrou que o Brasil já vinha em uma situação fiscal frágil antes mesmo da pandemia. Por isso, defendeu a retomada do controle dos gastos em 2021 para que o país volte a crescer.

Segundo as projeções da Fazenda, as despesas públicas, que devem alcançar 28,4% do PIB neste ano devido à pandemia, podem voltar para a casa dos 19,8% em 2021 se o governo cumprir o teto de gastos. Com isso, o deficit pode cair dos 12,5% para 3% já no próximo ano. Waldery defendeu "a manutenção das regras fiscais, em particular do teto de gastos, que é uma super âncora fiscal". Também advogou a favor de medidas que ajudem a controlar o crescimento do gasto e a melhorar a qualidade das despesas públicas, como as reformas econômicas e o pacto federativo.

O secretário da Fazenda ainda pediu uma atenção especial à aprovação da lei de falências, que está no Senado e, segundo a equipe econômica, pode contribuir com a retomada econômica. Para 2021, por sinal, o Ministério da Economia projeta uma recuperação de 3,2% do PIB. A estimativa é mais otimista que do FMI e a do Banco Mundial, que projetam uma recuperação mais gradual, com altas de 2,8% e 3% no ano que vem, respectivamente. Porém, aproxima-se da projeções de mercado, que ajustou a projeção do PIB de 2021 de 3,5% para 3,47% no Boletim Focus desta semana.

 

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