Semanas atrás, o mercado brasileiro seguia as principais bolsas do mundo e afundava enquanto chegavam notícias de novos lockdowns na Europa devido a uma segunda onda de covid-19 no continente. Mas quem olha para o desempenho do índice Ibovespa agora nem se lembra do tombo de 4% num só dia no fim de outubro. O otimismo tomou conta do mercado após as eleições americanas e o principal índice da bolsa brasileira superou os 105 mil pontos pela primeira vez em quatro meses, com alta de 1,86% nesta terça-feira (10/11).
Historicamente, o movimento de alta logo após o pleito americano já é uma espécie de "tradição". Mas outro fator que contribui para a alta tanto no mercado internacional quanto no cenário doméstico é o fato de a farmacêutica americana Pfizer ter anunciado na segunda-feira (9) que sua vacina em parceria com a alemã BioNTech tem eficácia superior a 90% na imunização contra covid-19.
Para Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, o otimismo com a eleição de Joe Biden (Democratas) foi motivado pelo aparente equilíbrio entre o Poder Executivo e o Legislativo — com os Republicanos sendo maioria no Senado americano. Isso impediria políticas extremas. Lá fora, o índice Dow Jones teve alta de 0,90%, enquanto o índice S&P caiu 0,14%. Na Nasdaq, bolsa da tecnologia, houve queda de 1,37% à medida que investidores diminuem as apostas nas empresas que mais lucraram com a pandemia.
"Por ser Democrata, há uma receio de que ele poderia aumentar impostos. Mas com o Senado dividido, o risco de ações extremas caiu. Há também uma expectativa por estímulos monetários maiores. A gente tem também a questão da vacina. Que é algo muito importante, porque diminui consideravelmente os riscos e destrava o mercado. Esses dois fatores que explicam essa alta", disse ele.
Ribeiro destacou a alta nas ações de bancos e avaliou que o resultado positivo é importante, uma vez que os bancos são, muitas vezes, a porta de entrada de investidores no Brasil. "Foi um dos setores que mais sofreram na crise. Com a vacina, retomada, o provisionamento, que acabou engessando o resultado dos bancos e o lucro. Isso começa a ser destravado à medida que os riscos diminuem", afirmou.
Orçamento
Embora o Ministério da Economia não fale mais sobre a possibilidade de furo no teto de gastos, a questão fiscal do governo diante da crise pandêmica está longe da tranquilidade. Na segunda-feira (9), o vice-presidente Hamilton Mourão declarou que se o Congresso não votar o orçamento de 2021, o rating (índice que mede o risco de se investir no país) do Brasil deve ser afetado.
Rafael Ribeiro ressalta que os problemas com os gastos públicos são uma dor de cabeça constante no Brasil, mas o que se observa no momento é um movimento em prol do fiscal. "A gente viu a derrubada da desoneração. Mas o governo conseguiu aprovar bastante coisa. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), inclusive, tem se mostrado disposto a votar. É fundamental para o humor do mercado essa demonstração de comprometimento com a ideia do fiscal. Por enquanto, há sinalizações, mas isso pode ser mais concreto. Porém, ninguém acredita que essa área será resolvida em um curto prazo, ou que a Selic (taxa básica de juros) vai ficar estável por muito tempo", arrematou.
Ainda segundo o analista, esse risco pode ter sido o principal fator que evitou uma queda expressiva do dólar, em um momento em que a moeda americana se deprecia. O dólar comercial fechou o dia em estabilidade, vendido a R$ 5,37. Ao longo da terça, chegou a passar de R$ 5,40.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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