LEILÃO DO TESOURO

Títulos indexados à Selic encalham e juros de prefixados têm nova escalada

Em leilão realizado nesta quinta-feira (19/11), Tesouro Nacional não consegue vender metade dos lotes ofertados de papéis indexados à Selic e paga mais caro do que na semana passada nas taxas dos prefixados

Rosana Hessel
postado em 19/11/2020 16:05 / atualizado em 19/11/2020 20:02
 (crédito: Reprodução/Google)
(crédito: Reprodução/Google)

Mesmo com volume reduzido de títulos indexados à Selic (taxa básica da economia), o Tesouro Nacional continua não conseguindo vender metade dos lotes de Tesouro Selic, ou LFTs, que coloca à venda. Já os papéis prefixados (LTN e NTN-F) têm demanda garantida e juros crescentes, na comparação com aqueles pagos na semana passada, como mostra o resultado do leilão desta quinta-feira (19/11). Para os prefixados com vencimentos mais longos, a taxa negociada chegou a quadruplicar a Selic, de 2% ano, passando de 8%. 

Do lote de até 500 mil unidades ofertadas com vencimento em 2022, o Tesouro vendeu 231,5 mil unidades, e comercializou 123,5 mil unidades do mesmo volume colocado à venda das LFTs com vencimento em 2027. Logo, as 355 mil unidades representam 35,5% do total máximo estimado para a oferta conjunta.

O volume de LFT colocado à venda foi parecido como da semana passada, mas menor do que os 750 mil ofertados em 5 de novembro. O valor total das duas operações, que tiveram deságio de até 0,36%, somou R$ 3,8 bilhões.

“Com a Selic a 2% não há demanda, porque os juros estão muito baixos e não há retorno se considerarmos a inflação”, comentou o economista Josué Pellegrini, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI) e estudioso da dívida pública. Ele lembrou que, como o custo de vida em alta, rodando entre 3% e 4%, a atratividade desse papel é baixa.

Prefixados em alta

Enquanto, isso, o Tesouro continua tendo que ofertar nos leilões um volume maior de papéis prefixados, ou LTNs (Letras do Tesouro Nacional), porque a demanda está crescendo devido ao aumento das incertezas em relação à questão fiscal e ao equilíbrio das contas públicas. O mercado vem exigindo juros crescentes para os papéis prefixados. Ao todo, o órgão leiloou 12 milhões de LTNs, com vencimentos em 2021, 2022 e 2024 e arrecadou R$ 11 bilhões, conforme o comunicado do órgão. 

O Tesouro colocou 5 milhões de LTN com vencimento em 2021, outros 3 milhões para 2022, e 4 milhões para 2024. Vendeu tudo, inclusive, os complementares, de 1 milhão, 600 mil e 800 mil, respectivamente. As taxas negociadas foram de 2,13%, para os papéis de 2021; de 4,82%, para os de 2022; e de 6,41%, para os de 2024. Na semana passada, os mesmos títulos tiveram taxas de 3%, 4,8% e 6,3%, respectivamente.

As taxas continuam em escalada para a maioria dos prefixados, especialmente, nos contratos de títulos prefixados com juros semestrais (NTN-F) de prazos mais longos. Para esses papeis, os juros cobrados pelo mercado estão em escalada novamente. E os lotes de 1,5 milhão para 2027 e mesmo volume para 2031 foram vendidos completamente, inclusive, os 300 mil complementares na segunda rodada.

A transação somou R$ 3,4 bilhões na venda principal, segundo o relatório do Tesouro. Os papéis com vencimento em 2027, pagaram 7,41%, acima dos juros de 7,19%, cobrados na semana passada. Os títulos para 2031, por sua vez, pagaram 8,08% bem acima dos 7,76% do leilão anterior.

"Descalabro fiscal"

O aumento desses juros saltou aos olhos dos analistas. “Essas taxas indicam que o mercado está cada vez mais preocupado com um descalabro fiscal. O leilão do Tesouro não chega a ser um fracasso, mas a dívida está ficando bem cara e com prazo mais curto. Vai ser um grande desafio para o governo administrar essa dívida”, destacou Pellegrini.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, também demonstrou preocupação com essa escalada dos juros dos papéis prefixados do Tesouro. “Os leilões têm tido um comportamento pouco regular, mas vêm mostrando que o mercado está cada vez mais desconfiado com a deterioração fiscal, que vinha sendo ignorada durante a pandemia”, avaliou.

Ele chamou a atenção para o relatório da agência de classificação de risco Fitch Rating, que, apesar de manter a nota do Brasil, reforçou a preocupação com a questão fiscal e reafirmou a perspectiva negativa para o país.

 

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