Fim de ano

Guedes vai sair de férias com "senso de dever cumprido"

Ministro foi autorizado pelo presidente Jair Bolsonaro a tirar férias entre 18 de dezembro e 8 de janeiro

Marina Barbosa
postado em 11/12/2020 23:03 / atualizado em 11/12/2020 23:04
 (crédito: Sergio Lima/AFP)
(crédito: Sergio Lima/AFP)

Com as discussões orçamentárias e as reformas econômicas adiadas para 2021, o ministro da Economia, Paulo Guedes, vai sair de férias neste fim de ano. O período de descanso do chefe da equipe econômica começa daqui a uma semana e vai durar 22 dias.

As férias de Guedes começam no próximo dia 18 — dois dias depois da data marcada para a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021 — e seguem até 8 de janeiro. O despacho foi assinado pelo presidente Jair Bolsonaro nessa quinta-feira (10/12) e consta no Diário Oficial da União desta sexta-feira (11/12). No mesmo dias, Guedes indicou estar com o "senso de dever cumprido".

"Ninguém pode estar satisfeito em meio à pandemia. Ninguém pode achar que está fazendo um grande trabalho. Ninguém pode estar esperando grandes comemorações ou celebrações. Mas temos um senso de responsabilidade, certa resiliência e senso de dever cumprido", disse Guedes nesta sexta-feira, durante audiência pública da comissão que acompanha o enfrentamento à covid-19 no Congresso Nacional.

O ministro justificou-se dizendo que a economia brasileira está "voltando em V" e gerando emprego. Ele acredita que o Brasil vai terminar o ano com "zero perda de empregos", apesar do aumento do desemprego, e com uma contração econômica de 3,5% a 4%, ante os quase 9% de queda do Produto Interno Bruto (PIB) projetado por organismos internacionais no início da pandemia.

Guedes ainda afirmou que, mesmo diante do aumento do endividamento público, o deficit primário não vai chegar a 100% do PIB neste ano, como projetam alguns analistas. "Vai ser 93%, 93,5%, no máximo 94% do PIB. Só que vamos derrubar de novo em 2021. Vamos botar a relação dívida PIB para baixo, vamos reacelerar os desinvestimentos, vamos privatizar e vamos derrubar isso para evitar o risco fiscal", prometeu.

Muitas pautas em aberto

O ministro, contudo, vai sair de férias com muitas das pautas consideradas prioritárias para o ajuste fiscal em aberto. Ainda na sexta, o senador Marcio Bittar (MDB-AC) decidiu deixar para o ano que vem a apresentação do relatório da PEC Emergencial, que pode ajudar o governo a acionar gatilhos de controle dos gastos públicos, desindexar o Orçamento e liberar algum espaço fiscal para programas como o Renda Brasil.

Guedes alegou que o adiamento é fruto da briga política em torno da presidência da Câmara e do Senado, que travou as votações do Congresso nas últimas semanas. O ministro também acusou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de ter interditado o debate sobre a reforma tributária e as privatizações neste ano. Porém, disse que pretende destravar o assunto em 2021 com ajuda do sucessor de Maia.

Antes disso, no entanto, a equipe econômica e os parlamentares vão precisar se debruçar sobre o Orçamento de 2021. Afinal, o Congresso pretende votar a LDO no próximo dia 16, mas deve deixar para o próximo ano a votação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA). Até que essa votação ocorra, o governo só terá a liberação de duodécimos mensais para custear as despesas públicas, como diz a LDO.

Para tentar tranquilizar o mercado diante dessas indefinições orçamentárias, o chefe da equipe econômica tem garantido que o teto de gastos será mantido. Ele também reforçou que o auxílio emergencial, que custou R$ 321 bilhões ao governo, vai acabar em 31 dezembro. E garantiu que, quando voltar a ser discutido, o Renda Cidadã vai precisar caber no teto de gastos.

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SELINHO

 

Tecnologia RNA na frente

em corrida por vacina


Utilizada nos imunizantes desenvolvidos pelas farmacêuticas Pfizer e Moderna, entenda como funciona tecnologia que pode revolucionar vacinação. Viabilidade no Brasil, contudo, é um desafio, já que as doses precisam ficar armazenadas a temperaturas abaixo de 70ºC



BRUNA LIMA

MARIA EDUARDA CARDIM



Se por um lado a pandemia freou a circulação de pessoas, dinamizou e acelerou os desenvolvimentos tecnológicos das vacinas. São mais de 270 em estado de pesquisa, sendo que mais de 50 estão na fase clínica de desenvolvimento. Na corrida por uma solução, imunizantes com a tecnologia RNA estão na linha de chegada. Por ser tratar de um tipo novo de vacina, ainda enfrenta barreiras como a necessidade de armazenamento em baixíssimas temperaturas, o que pode dificultar sua incorporação em boa parte do mundo. Desenvolvedoras trabalham para um aperfeiçoamento que permita mais acessibilidade.

As vacinas que fazem uso dessa tecnologia estão ficando prontas primeiro por serem compostas de material genético. “Os laboratórios, as indústrias, já estavam trabalhando com esses compostos genéticos para outros tipos de vírus, como ebola e HIV. Então, quando surgiu essa necessidade de ter uma vacina em um prazo muito curto, uma das maneiras mais rápidas era investir em uma (vacina) de RNA ou DNA, as chamadas vacinas de ácidos nucleicos”, explica Ricardo Agostinho Canteras, especialista em logística de cadeia fria e diretor comercial da Temp Log.

Para a covid-19, especificamente. elas funcionam da seguinte forma: um composto genético é alterado para conter os traços genéticos do Sars-Cov-2, o que faz com que as células do nosso corpo desenvolvam imunidade. As vacinas de RNA estão saindo primeiro, basicamente, por terem um desenvolvimento muito mais rápido, demandando menos tempo de ensaio pré-clínico, e por serem compostos químicos sintéticos, não vírus. Portanto, acrescenta Canteras, “essas vacinas de RNA, apesar da dificuldade logística, podem ser armas poderosas contra essa e outras pandemias, principalmente pela velocidade de produção. É possível verificar que, das vacinas que já se encontram na última fase de testes, todas estão trabalhando com RNA, vetor viral ou proteínas. As vacinas de vírus ficam por último por conta da demora na fase pré-clínica. É um estudo mais longo do que o necessário para vacinas produzidas sinteticamente em laboratório”.

No Brasil, o governo federal negocia a compra de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer, desenvolvida com base na tecnologia RNA. “Os termos já estão bem avançados e devem ser finalizados ainda no início desta semana com a assinatura do memorando de intenção”, diz nota do Ministério da Saúde. Apesar de ser uma das alternativas mais promissoras do mundo, com anúncio de eficácia de 95%, a viabilidade da vacina na realidade brasileira é um desafio, já que, por ser uma tecnologia, as doses precisam ficar armazenadas a temperaturas abaixo de 70ºC.

Outra movimentação que torna a aquisição mais próxima é o investimento liberado para equipar a rede de frios dos centros e salas de vacinação de todo o país. Uma portaria do Ministério da Saúde, publicada no Diário Oficial dias antes do avanço nas negociações com a Pfizer, destina quase R$ 60 milhões a estados e ao Distrito Federal para compra de câmeras refrigeradas, ar condicionados e computadores. Em caráter excepcional no âmbito do enfrentamento à covid-19, a destinação tem como finalidade fortalecer o Programa Nacional de Imunizações (PNI).

A pasta já havia adiantado interesse, comentando que a Pfizer seria uma possível candidata do Brasil pelo consórcio Covax Facility, que reúne um portfólio de 10 vacinas. “O Brasil aderiu a esse consórcio desde o desenvolvimento de todas as 10 vacinas, já com a opção de compra e recebimento de 42 milhões de doses que poderão ser de uma das 10 fabricantes que estão dentro do consórcio. Inclusive, a própria AstraZeneca e a Pfizer, por exemplo, estão no consórcio”, disse o general Eduardo Pazuello.


Exforço extra

O planejamento é que as compras das doses da Pfizer sejam capazes “para imunizar milhões de brasileiros já no 1º semestre” de 2021, como comunicou a Pfizer na semana passada. A farmacêutica já negociou doses com mais de 30 nações, e, no Reino Unido, a imunização começou essa semana.

Ainda com os avanços, fazer esta vacina chegar na ponta demanda um esforço extra. Na opinião de Canteras, as vacinas com outras tecnologias chegarão antes no Brasil. “Imunizantes de RNA estão chegando, provavelmente serão os primeiros a ser liberados mundialmente, mas para poder aplicar em toda a população, com certeza, serão utilizadas, também, vacinas de grupos de origens de vírus, como a CoronaVac, e outras que já estão em produção. São vacinas que demandam uma temperatura de 2º a 8º C, com menos complexidade”. Para a vacinação de toda a população, destaca o especialista em logística de cadeia fria, “a gente não deve ficar tão preocupado com essas vacinas de baixíssima temperatura, porque para atingir a todos, outros tipos de imunizantes serão utilizados, com uma logística bem menos complexa”.



Entrevista


Ricardo Agostinho Canteras, especialista em logística de cadeia fria e diretor comercial da Temp Log


ASPAS


As vacinas de RNA estão saindo primeiro, basicamente, por terem um desenvolvimento muito mais rápido, demandando menos tempo de ensaio pré-clínico, e por serem compostos químicos sintéticos, não vírus”


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Nós temos a tecnologia”




As vacinas mais avançadas necessitam de armazenamento em baixíssimas temperaturas. O Brasil tem capacidade de incorporar a tecnologia RNA na rede pública? E na rede privada?


Capacidade e tecnologia, sim. O Brasil já tem laboratórios e universidades que fazem estudos com criogenia, que são materiais com temperaturas até mais baixas do que -75ºC. Então, nós temos a tecnologia. Mas acredito que a capacidade de armazenamento deverá ser ampliada, pois o que temos hoje não deve ser suficiente para atender a demanda. Provavelmente será feito um mapeamento de todas as universidades, laboratórios, operadores logísticos e redes de hospitais que possuem a capacidade desse tipo de armazenamento. Muitos hospitais possuem o que a gente chama de “ultra-freezers”, que são os freezers que chegam até essas temperaturas mais baixas. Precisará ser feito um mapeamento em todo o Brasil, contendo quais são os locais que poderiam ser utilizados como Centros de Distribuição, para onde os materiais importados deverão ser destinados para armazenamento em baixíssimas temperaturas. Depois, para poder espalhar isso por todo o território, precisarão ser utilizadas as embalagens de resfriamento passivo, com gelo seco.


O gelo seco pode ser outra questão que dificulta a incorporação?


Esse é outro ponto que complementa a dificuldade desse tipo de vacina na distribuição. Ela exige gelo seco, que está em queda na produção mundial. O gelo seco é um subproduto da produção de etanol e, como na pandemia, os veículos têm circulado menos, a produção de etanol diminuiu e, consequentemente, a de gelo seco, também. Então, se a gente tiver uma grande necessidade de consumo de gelo seco para transporte desse tipo de vacina, é preciso ficar atento para uma possível falta do insumo principal. Fora isso, o gelo seco limita a capacidade de transporte em aeronave. Para realizar, por exemplo, uma transferência de vacinas de um estado para o outro em um modal aéreo, você tem um limite que uma aeronave pode levar dentro dela de dióxido de carbono (gelo seco), por ser um produto perigoso.


Existe uma estimativa do quanto se precisaria investir para disponibilizar as vacinas Pfizer ou Moderna no país?


É difícil ter esse número sem um mapeamento. É preciso entender primeiro quais hospitais, laboratórios, operadores logísticos e universidades têm tecnologia para armazenamento nessa temperatura. Depois, qual a capacidade deles de armazenamento. E, aí, tem que ser feita uma conta de quanto será necessário investir para conseguir armazenar toda a demanda. Mas, como a Pfizer tem dito, esse tipo de vacina exige uma logística em tempo curto. Dificilmente ela será armazenada por muito tempo. O plano é produzir e entregar para aplicação em um curtíssimo prazo. E isso vai envolver novos desafios, pois quando ela chegar no ponto de vacinação, as pessoas precisarão ir até lá e receber a aplicação em um prazo curto também, afinal, mesmo com as embalagens passivas, a gente vai ter no máximo 50 dias, desde que sai do ponto de armazenagem, para aplicar. Por isso, acredito ser difícil calcular o tamanho do investimento, porque, na verdade, há uma série de fatores, não só de infraestrutura de armazenagem, mas, também, de logística e de um programa de vacinação rápido na população.



No caso da Pfizer, testada no Brasil e cujos responsáveis já entraram com a submissão contínua na Anvisa, como poderia ser incorporada?


A Pfizer explicou recentemente sobre as vacinas, cujas embalagens são testadas e validadas. A empresa garante que com gelo seco é capaz de conservar o material genético das vacinas por até 15 dias. Além disso, a Pfizer confirmou que é possível fazer a substituição/renovação desse gelo seco por mais duas vezes sem comprometimento do produto. Ou seja: com a manutenção adequada, essas caixas garantem uma conservação de 45 dias da vacina fora do Centro de Distribuição. Além disso, a farmacêutica garante que, sob refrigeração comum (de 2 a 8ºC), o material genético não se degrada por cinco dias. Então, a logística desse tipo de vacina de baixa temperatura vai ser uma combinação de tecnologias de logística e de monitoramento: desde monitoramento ativo, quando você vai buscar laboratórios, universidades e hospitais que possuam capacidade para armazenar em grandes volumes, até o monitoramento passivo na distribuição, com embalagens e gelo seco, que é o único material que consegue chegar a temperaturas negativas tão baixas assim.


A vacina da Moderna, nesse sentido, não seria mais viável?


A Moderna exige uma temperatura de -20ºC. Não é tão rigoroso como a Pfizer, que está com uma vacina que vai exigir -75ºC. De todo modo, as duas devem seguir o mesmo plano de distribuição, buscando parceiros que tenham capacidade de armazenar e usando, na ponta final, as embalagens passivas. Isso vale tanto para a rede pública quanto para a privada. O modelo deve ser o mesmo. Porém, acredito que no setor público, falando de uma grande população como a brasileira, não vai ser possível atingir a todos com um único tipo de vacina.



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