BANCO CENTRAL

Endividamentos privado e das famílias batem recorde em 2020

Conforme dados do Banco Central, enquanto os juros resistem em ceder, endividamento das famílias ficou em 50,3% da renda, o maior patamar da série histórica, iniciada em 2005. Endividamento de empresas chegam perto de 90% do PIB

Rosana Hessel
postado em 28/01/2021 15:29 / atualizado em 28/01/2021 20:32
 (crédito: Edilson Rodrigues/Agencia Senado)
(crédito: Edilson Rodrigues/Agencia Senado)

A pandemia de covid-19 provocou um maior endividamento público, mas as empresas e as famílias também estão endividadas em patamares nunca antes vistos enquanto os juros sobem e continuam em patamares elevados se comparados com as médias internacionais. 

O nível de endividamento do setor privado no crédito ampliado chegou a 89,9% do Produto Interno Bruto (PIB), em dezembro do ano passado, o segundo maior patamar da série histórica de 2013, atrás apenas da taxa de 90,1% do PIB de outubro de 2020, de acordo com informações do chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha.

O endividamento das famílias também bateu recorde e chegou a 50,3% da renda acumulada em 12 meses no mês de outubro, o maior patamar da série iniciada em 2005.

O comprometimento da renda com dívidas, excluindo o financiamento imobiliário, chegou a 21,7% — também o maior percentual da série, comparável aos mesmos patamares recordes registrados em maio de 2012 e setembro de 2015.

O técnico do BC avaliou que o aumento do endividamento das empresas é positivo, porque estimula a economia, já que as companhias buscam crédito, em grande parte, para investir. No entanto, no caso das famílias, esses patamares recordes de endividamento e de comprometimento da renda preocupam. Ele reconheceu que essas taxas elevadas deverão afetar a inadimplência ao longo de 2021, apesar de esse indicador ter atingido, em dezembro, o menor nível desde 2013, de 2,1%, resultado de renegociações de prazos e de dívidas, por exemplo, durante a pandemia. “Mesmo a inadimplência estando baixa, esse aumento do endividamento é um fato para ser permanentemente acompanhado pelos bancos e pelas famílias”, afirmou Rocha, em entrevista a jornalistas.

Juros ainda muito elevados

Os dados do Banco Central mostram queda na taxa média do Indicador de Custo de Crédito (ICC), de 16,8% ao ano em dezembro, menor valor da série iniciada em 2013. O índice registrou queda de 3,5 pontos percentuais no ano, após variação negativa de 0,1 ponto percentual em 2019. 

As taxas médias para o crédito com recursos livres do sistema financeiro para pessoa física, por exemplo, apresentaram alta em boa parte dos modalidades. Os juros do cheque especial passaram de 113,5%, em novembro, para 115,6% ao ano, em dezembro. As taxas de financiamento de crédito consignado para trabalhadores do setor privado subiram de 28,3% para 29,6% ao ano. 

Enquanto isso, o juro do crédito não consignado recuou de 80,3% ao ano para 74,5% entre novembro e dezembro. Já no consignado para servidores públicos, a taxa anual subiu de 15,9% para 16% na mesma base de comparação. 

Os custos para os financiamentos para veículos tiveram aumento entre novembro e dezembro de 19% para 19,2% ao ano. Os juros no rotativo cartão de crédito também subiram, passando de 321,2% para 238,1% anuais, a maior taxa desde março de 2020.

Ao ser questionado pelo Correio sobre esses juros elevados se comparados com as médias globais, mesmo com a taxa básica de juros, de 2% ao ano estar no menor patamar da história e no campo negativo, descontando a inflação, Rocha evitou fazer críticas ao setor bancário, que continua registrando lucros elevados mesmo com a pandemia, porque o spread bancário cai muito pouco. "De fato, os juros no Brasil são elevados se comparados com os padrões mundiais. Eu diria que a gente ainda tem muito ainda para reduzir", admitiu. 

Operações de crédito crescem 

Esses indicadores fazem parte dos dados do mercado de crédito divulgados nesta quinta-feira (28/1) pelo Banco Central que apontaram aumento de 15,5% nas operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN), a maior alta em oito anos e em linha com as previsões do BC, totalizando R$ 4 trilhões, puxado, principalmente, pelos empréstimos às empresas. 

Esses dados representam 33% do saldo de crédito ampliado, que engloba o setor público e dívida externa de governos e de empresas. Juntos, somaram R$ 12 trilhões, ou seja, 162% do PIB, conforme dados do Banco Central.

Uma das principais alavancas do crédito a pessoa jurídica foram as contratações de crédito direcionado, ou seja, junto a bancos públicos, que deram um salto de 151% em 2020, devido aos programas de socorro a empresas do governo, passando de R$ 89,5 bilhões em dezembro de 2019 para R$ 224,7 bilhões, em dezembro de 2020.

Rocha, no entanto, reconheceu que, em dezembro, as concessões de crédito tiveram uma desaceleração generalizada, apesar de registrarem crescimento no ano. Um exemplo foi o caso do crédito de capital de giro para as pessoas jurídicas, que avançou 68,4% no acumulado de 2020, mas encolheu 14,2% em dezembro, na comparação com novembro, totalizando.

Olhando para os dados dessazonalizados, as concessões de crédito com recursos livres recuaram 6,3%, em dezembro, sendo que as quedas para pessoa jurídica foram de 2,2% e, para as pessoas físicas, de 5,9%. Já os direcionados, concedidos por bancos públicos, recuaram 14,7% no último mês do ano, sendo que as operações para pessoa jurídica desabaram 50,1%; para pessoa física, a queda foi de 2,4%.

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