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Bolsa fecha no vermelho, puxada pela queda das ações da Petrobras

Os papeis da estatal de petróleo derreteram mais de 6% nesta sexta-feira (19/2), por conta das críticas de Bolsonaro à empresa

As ações da Petrobras caíram mais de 6% nesta sexta-feira (19/2), com o mercado receoso das mudanças prometidas pelo presidente Jair Bolsonaro na estatal. A queda foi a maior do pregão no Ibovespa, que não acompanhou o otimismo dos mercados internacionais e fechou o dia com queda de 0,64%, aos 118.430 pontos.

Os papeis da Petrobras operaram em queda durante todo o pregão, pois o mercado viu nas críticas de Bolsonaro o risco de uma interferência política que ameaça a governança e a rentabilidade da estatal. Por isso, as ações ordinárias da Petrobras despencaram 7,92%, a R$ 27,10. Já as ações preferenciais sofreram um baque de 6,33% e terminaram o dia negociadas a R$ 27,33.

O anúncio se concretizou. Na noite desta sexta, o presidente Jair Bolsonaro decidiu indicar o presidente da Itaipu Binacional, o general Joaquim Silva e Luna, como o novo presidente da Petrobras. O anúncio foi publicado nas redes sociais pelo mandatário, com uma nota do Ministério de Minas e Energia. Luna também é ex-ministro da Defesa.

O baque reverteu todos os ganhos que haviam sido acumulados pelos papeis da empresa ao longo deste ano. Antes da declaração de Bolsonaro de que haveria mudanças na Petrobras nos próximos dias, as ações da Petrobras estavam se valorizando por conta da recuperação dos preços internacionais do petróleo. As ações ordinárias, por exemplo, registravam um ganho de 2,01% no ano até quinta-feira, mas agora acumulam queda de 5,77%. Já as preferenciais subiam 3,28% e, agora, estão desvalorizadas em 3,03%.

Incomodado com os reajustes de combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro criticou, na live desta semana, os últimos aumentos anunciados pela Petrobras, prometeu zerar os impostos federais que incidem sobre o diesel e o gás de cozinha e disse que alguma coisa vai acontecer na empresa nos próximos dias. A mudança na Petrobras foi reforçada nesta sexta-feira pelo mandatário, sendo mal recebida no mercado.

O analista de Research da Ativa Investimentos Ilan Arbetman afirmou que essas declarações apontam para o risco de uma interferência política do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras. O temor do mercado é que essa mudança representasse a saída do atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, ou a alteração da política de preços da estatal, que hoje busca paridade com os preços internacionais de petróleo.

"O presidente Bolsonaro está levando essa discussão para fora do meio corporativo e levando para a política. A Petrobras tem uma política clara de paridade de preços. Quando o Castello Branco diz que não tem nada haver com os caminhoneiros, ele está reafirmando essa política e mostrando que não é uma classe ou um segmento da população que vai mudar isso", afirmou Arbetman.

O mercado calcula que, apesar dos últimos reajustes dos combustíveis, os preços cobrados pela Petrobras ainda estão abaixo dos preços internacionais. Por isso, a Ativa diz que ainda há espaço para mais 5% de aumento na gasolina. E a XP Investimentos calcula que os preços do diesel ainda estão defasados em 7%.

"O Brasil não é autossuficiente em combustíveis. Por isso, se não praticar preços alinhados aos preços internacionais, a Petrobras vai importar combustíveis com prejuízo. Isso já aconteceu no governo Dilma, entre 2011 e 2016, e gerou um prejuízo de US$ 30 bilhões, ou R$ 60 bilhões no real da época, para a Petrobras. E a fala de Bolsonaro gera um receio de que essa política de preços não seja mais viável daqui para a frente", alertou o analista de Energia e Petróleo da XP, Gabriel Francisco.

Os analistas acreditam, então, que, essas mudanças podem causar novos prejuízos para a empresa, como mostrou o mercado nesta sexta-feira. "É um risco, porque faz pouco sentido para os investidores investir em uma empresa de petróleo que não vai se beneficiar dos preços do petróleo", explicou o analista da XP Investimentos, que, por isso, hoje não recomenda a compra de ações da Petrobras.

Francisco disse ainda que a isenção dos impostos não vai reduzir o preço dos combustíveis, já que o petróleo está se valorizando no mercado internacional, por conta da recuperação da economia global, e o câmbio segue depreciado no Brasil. O dólar terminou esta sexta-feira com queda de 0,99%, mas ainda é negociado a R$ 5,38. "Uma questão que poderia aliviar o preço dos combustíveis é a taxa de câmbio, que está muito depreciada pelos questionamentos sobre a situação fiscal, a recuperação econômica e a falta de reformas no país", avaliou.

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