Juros

Copom não está comprometido com nada, diz Kanczuk

O diretor de Política Econômica do BC disse que não vê sinais de dominância fiscal no Brasil e lembrou que as decisões do Copom miram exclusivamente a inflação

Marina Barbosa
postado em 08/04/2021 16:12 / atualizado em 08/04/2021 16:15
 (crédito: Geraldo Magela/Agencia Senado)
(crédito: Geraldo Magela/Agencia Senado)

O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Fabio Kanczuk, afirmou nesta quinta-feira (08/04) que o Brasil não caminha para um quadro de dominância fiscal. Ele argumentou que o Comitê de Política Monetária (Copom) "não está comprometido com nada", a nao ser o mandato de controlar a inflação.

"Eu não vejo nenhum sinal de dominância fiscal. Eu vejo um comportamento muito tradicional (da política monetária)", afirmou Kanczuk, ao ser questionado sobre a relação entre a política fiscal e a política monetária no Brasil durante um evento do banco norte-americano BNY Mellon.

"O Banco Central olha para a inflação. O Ministério da Economia e o Congresso olham para o fiscal. Eu não posso antecipar o problema fiscal em minha decisão de política monetária. Eu tenho que cuidar da inflação", reforçou Kanczuk. Ele garantiu, então, que "dominância fiscal não é nosso problema, nosso problema é o mandato (de controlar a inflação)".

Na última reunião, em março, o Copom elevou a taxa básica de juros (Selic) de 2% para 2,75% por conta da alta da inflação e ainda indicou outra alta da mesma magnitude no próximo mês. A subida, contudo, surpreendeu o mercado, que projetava um ajuste de 0,5 ponto percentual da Selic. Outros economistas ainda reclamaram que o Copom demorou a iniciar a alta dos juros, já que a inflação está em alta desde meados do ano passado. O Comitê, no entanto, vem dizendo que, apesar de ter se espalhado recentemente, o choque inflacionário é causado, sobretudo, por fatores temporários, como a alta das commodities e do câmbio. O Copom também acredita que a alta mais intensa da Selic agora pode reduzir o impacto total desse ciclo de alta dos juros.

Kanczuk explicou nesta quinta-feira que houve surpresas e choques idiossincráticos nos preços, que afetaram as expectativas de inflação. Porém, destacou que o Copom está reagindo a isso e também vai reagir a outros eventos, caso seja necessário. "Não estamos comprometidos com nada. A política monetária é livre e pode mudar de acordo com as circunstâncias", comentou.

O diretor disse, inclusive, que a nova alta de 0,75 ponto percentual da Selic e a "normalização parcial" dos juros é o que o cenário sugere hoje. Porém, lembrou que esse cenário pode mudar. "Vamos aumentar 0,75 na próxima reunião, a menos que algo muito diferente aconteça. Coisas mudam", destacou.

Segundo Kanczuk, os juros podem subir mais se o cenário básico do Copom não se concretizar. E admitiu que, apesar de não ver dominância fiscal, a situação das contas públicas brasileiras pode afetar nesse sentido. "Se você tem más notícias no fiscal, você pode ir para um cenário alternativo e ter que ser mais conservador", alertou.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem dizendo que o fiscal pode levar a uma alta dos juros porque o desrespeito das regras fiscais e o aumento do endividamento público elevariam as incertezas do mercado em relação à sustentabilidade das contas públicas, o que elevaria a taxa de câmbio, que rebate diretamente na inflação.

Kanczuk esclareceu que a questão está na sustentabilidade futura das contas públicas e não em programas específicos, como o auxílio emergencial. "Não é uma questão sobre a eficiência das transferências, mas sobre o que vai acontecer, no fim do dia, com a relação dívida/PIB. Suponha que haja uma mudança na política fiscal. Se não tiver mais reformas e for para uma política mais populista. Isos é algo que afeta a sustentabilidade da dívida no longo prazo", alertou.

A declaração vem em meio a mais um dia de incertezas no mercado em relação às interferências políticas nas empresas estatais. As ações da Petrobras operam em queda nesta quinta-feira, por conta da declaração do presidente Jair Bolsonaro de que é possível mudar a política de preços da Petrobras que, nesta semana, levou a um novo aumento do gás natural. Para os investidores, uma mudança como essa afetaria a lucratividade da petroleira e também as contas públicas.

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