PRODUÇÃO INDUSTRIAL

Pesquisa da CNI revela maior regionalização da indústria  

Conforme os dados do levantamento da entidade nos biênios 2007-2008 e 2017-2018, mesmo com o movimento de descentralização, cerca de 80% da produção nacional continua concentrada no Sul e no Sudeste

Rosana Hessel
postado em 17/05/2021 00:01 / atualizado em 17/05/2021 00:04
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que, em uma década, houve encolhimento da participação das regiões Sul e Sudeste no Produto Interno Bruto (PIB) industrial, e, consequentemente, aumento na fatia das demais áreas geográficas do país. 

No entanto, conforme os dados da pesquisa, mesmo com esse movimento de descentralização, cerca de 80% da produção industrial nacional está concentrada no Sul e no Sudeste do Brasil.

“A industrialização está mais diversificada, em termos regionais. E São Paulo e o Sudeste perderam participação por conta do crescimento da indústria nas outras regiões, principalmente o Nordeste”, destaca o economista-chefe da CNI, Renato da Fonseca, em entrevista ao Correio comentando os dados da pesquisa, divulgada nesta segunda-feira (17/05).

Na avaliação de Fonseca, um motivo importante para essa mudança foi a ida de montadoras para o Nordeste, como a fábrica da Fiat, em Pernambuco, que tem contribuído para o desenvolvimento regional. No entanto, reconhece que dados recentes, como o fechamento das fábricas da Ford no país, principalmente, a unidade de Camaçari, na Bahia, poderá mudar esse quadro se nenhuma outra montadora for instalada no local. “Haverá um movimento contrário, com os fornecedores saindo do local, buscando as outras montadoras no país”, acrescenta.

De acordo com o estudo, o estado de São Paulo, por exemplo, perdeu 5,5 pontos percentuais de participação na produção manufatureira do Brasil -- a maior queda entre as 27 unidades federativas --, passando de 50,3% para 32,2% no período. O Rio Janeiro obteve apresentou recuo de 1,1 ponto percentual, o segundo pior desempenho na pesquisa que compara os biênios 2007-2008 e 2017-2018.

Os dados da pesquisa mostra que essa industrialização mais regionalizada foi impulsionada, em grande parte pela agroindústria, devido ao processamento de grãos e proteínas, no Norte, no Nordeste e no Centro Oeste, “onde o avanço da indústria de papel e celulose também apresentou destaque”. Mato Grosso do Sul, por exemplo, apresentou maior desenvolvimento, saiu do 14º lugar no ranking, com 0,23% da produção nacional, para a 3ª posição, com 11% da produção nacional de celulose e papel.

São Paulo, por sua vez, continua sendo o principal produtor de veículos automotores, responsável por 52% da produção nacional do setor na década analisada. Já o estado de Santa Catarina ultrapassou São Paulo no setor de vestuário e acessórios, tornando-se a maior unidade federativa produtora do Brasil nesse segmento, com 26,8% da produção nacional.

 

Participação relevante no PIB

Apesar do encolhimento da participação na formação de riqueza do Brasil nos últimos anos, a indústria brasileira tem um peso importante no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de três vezes superior à agropecuária, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entre 2000 e 2020, a fatia da indústria no PIB passou de 26,7% para 20,4%. Já a fatia da agropecuária passou de 5,5% para 6,8%, de acordo com dados do IBGE da última pesquisa do PIB, divulgada em março. Já o setor de serviços, que é o que mais emprega no país, passou 67,7%%, em 2000, para 72,8%, em 2020 --, percentual levemente abaixo dos 73,5% de 2019. Vale lembrar, no entanto, que os melhores salários não estão justamente na indústria, que é considerada fundamental para o enriquecimento de um país.

Fonseca reconhece que essa perda de espaço da indústria no PIB ao longo dos anos, no entanto, é, em grande parte, justificada pelas duas recessões que o país atravessou na última década, de 2014 a 2016, e a de 2020. “Essa mudança tem relação com as duas recessões, mas é bom lembrar que, embora seja um setor importante para o PIB, a agricultura não consegue puxar sozinha o país”, alerta.
O economista lembra que, entre 2010 e 2020, a indústria da transformação encolheu, em média, 1,6% por ano, enquanto o PIB apresentou um crescimento extremamente baixo no mesmo período, de apenas 0,3% ao ano, na média, apesar de a agricultura crescer 3% na mesma base de comparação. “Isso mostra que a indústria é importante para a melhora da renda do país”, frisa.

 

Cenário mais otimista

Fonseca conta que a CNI está revisando para cima a projeção de crescimento do PIB de 2021, atualmente de 3% e admite que o cenário atual, por conta de as quedas do primeiro trimestre serem menores do que o esperado devido ao impacto da segunda onda da pandemia da covid-19 não ter sido tão intenso como o estimado inicialmente, devido, em parte, à readaptação do setor produtivo ao cenário da pandemia.

Apesar da queda de 2,4% em março na comparação com fevereiro deste ano, a indústria acumula crescimento de 4,4% no ano, conforme os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), do IBGE. “A queda foi menor do que o nosso cenário base, o que pode concretizar as projeções mais otimistas, que indicam expansão pouco acima de 4%”, afirma.

“A indústria apresentou mais resiliência durante a segunda No entanto, Fonseca reconhece que há incertezas que precisam ser consideradas no balanço de riscos, como uma terceira onda de restrições da mobilidade das pessoas. Além disso, ele reconhece que os atrasos na vacinação também são um problema para garantir a retomada da economia ao longo do ano. “Há falta do insumo e isso sim preocupa bastante”, acrescenta o economista da CNI.

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